Print Page Options
Previous Prev Day Next DayNext

Historical

Read the books of the Bible as they were written historically, according to the estimated date of their writing.
Duration: 365 days
O Livro (OL)
Version
Atos 26-28

26 Agripa dirigiu-se então a Paulo: “Diz-nos o que tens a declarar!” Paulo, estendendo a mão, apresentou a sua defesa.

“Considero-me feliz, rei Agripa, por poder responder na tua presença por tudo aquilo de que sou acusado pelos judeus. Sabendo eu que és conhecedor dos costumes e questões judaicas, rogo-te que me ouças com paciência!

Os judeus conhecem a educação judaica que recebi desde a minha mocidade em Jerusalém. Eles já me conheciam desde o início e, se desejarem, podem testemunhar que vivi segundo as leis e costumes dos fariseus, a seita mais rigorosa da nossa religião. E agora, por eu esperar o cumprimento da promessa de Deus aos nossos antepassados, estou a ser aqui julgado. As doze tribos de Israel lutam noite e dia para alcançar esta esperança que eu tenho! No entanto, Majestade, é essa a acusação que os judeus me fazem! Pois quê? Será assim tão difícil crer na ressurreição dos mortos?

Eu antes julgava ser um dever fazer muita coisa contra os seguidores de Jesus de Nazaré. 10 E foi o que fiz em Jerusalém. Autorizado pelos principais sacerdotes, coloquei muitos dos crentes nas prisões; e quando eram condenados à morte, votava contra eles. 11 Servi-me da tortura para tentar obrigar os cristãos, por todas as sinagogas, a amaldiçoarem o nome de Cristo. Era tão forte o ódio que lhes tinha que cheguei a persegui-los em cidades de países estrangeiros.

12 Uma missão dessas levou-me a Damasco, tendo recebido autoridade e ordens dos principais sacerdotes. 13 De caminho, cerca do meio-dia, Majestade, brilhou sobre mim e os meus companheiros uma luz do céu, luz essa mais forte do que a do próprio Sol. 14 Caímos todos por terra e ouvi uma voz que me dizia em hebraico:

‘Saulo, Saulo, porque me persegues? Não é bom seres obstinado!’

15 ‘Quem és tu, Senhor?’, perguntei.

E o Senhor respondeu: ‘Sou Jesus, aquele a quem persegues. 16 Levanta-te, põe-te de pé, pois apareci-te para te nomear meu servo e testemunha. Deverás contar ao mundo isto que agora te acontece. No futuro, ainda hei de aparecer-te mais vezes e anunciarás o que te for mostrado. 17 Proteger-te-ei tanto dos teus compatriotas como daqueles que não são judeus. Sim, vou enviar-te até aos gentios, 18 para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e do poder de Satanás para Deus, de modo que recebam o perdão dos seus pecados e tenham um lugar entre o povo de Deus que está santificado pela sua fé em mim.’

19 E assim, ó rei Agripa, não fui desobediente a essa visão celestial! 20 Preguei primeiro em Damasco, depois em Jerusalém e em toda a Judeia, e também aos gentios, anunciando-lhes que todos devem abandonar os seus pecados e converter-se a Deus, provando o arrependimento com a prática de boas obras. 21 Os judeus prenderam-me no templo, por causa disto, e tentaram matar-me. 22 Mas Deus protegeu-me, pelo que hoje estou aqui vivo, para contar estes factos a toda a gente, a grandes e a pequenos. Só ensino o que os profetas e Moisés disseram: 23 que o Cristo haveria de sofrer e ser o primeiro a ressuscitar da morte, para levar a luz tanto aos judeus como aos gentios.”

24 De repente Festo gritou: “Paulo, estás louco! Tanto estudo fez-te perder o juízo!”

25 Paulo respondeu: “Não estou louco, não, Excelência. Falo a linguagem da verdade e do bom senso. 26 E o rei Agripa conhece estas coisas. Falo com ousadia porque estou certo de que estas coisas te são familiares. Estas coisas não foram feitas às escondidas. 27 Rei Agripa, crês nos profetas? Sei que crês.”

28 Agripa, porém, replicou a Paulo: “Por mais um pouco convencias-me a tornar-me cristão!”

29 E Paulo respondeu: “O que eu peço a Deus é que, por pouco ou por muito, tanto o rei como todos quantos aqui estão a ouvir-me sejam como eu, mas sem estas correntes.”

30 Então o rei, o governador, Berenice e todos os outros ali presentes levantaram-se e saíram. 31 Conversando depois sobre o caso, concordaram: “Este homem nada fez que mereça morte ou prisão.” 32 E Agripa disse a Festo: “Bem podia ser posto em liberdade se não tivesse apelado para César!”

A partida de Paulo para Roma

27 Finalmente, ao ficar decidido que viajaríamos por mar até Itália, Paulo e diversos outros presos foram confiados à vigilância de um oficial chamado Júlio, pertencente ao Regimento Imperial. Partimos num barco que ia para Adramítio e que tocaria em vários portos da costa da província da Ásia. Estávamos acompanhados de Aristarco, um macedónio de Tessalónica.

No dia seguinte, quando atracámos em Sídon, Júlio mostrou-se muito amável com Paulo, permitindo-lhe que fosse a terra visitar amigos e receber a ajuda que precisasse. Quando dali partimos, apanhámos ventos contrários que tornavam difícil conservar o navio no rumo; assim, seguimos pelo norte de Chipre, entre a ilha e o continente, e costeámos as províncias da Cilícia e Panfília, desembarcando em Mirra na província da Lícia. Ali, o oficial encontrou um barco egípcio, vindo de Alexandria e que se dirigia à Itália, e fez-nos embarcar nele. Após vários dias de navegação difícil, aproximámo-nos, por fim, de Cnido, mas o vento era demasiado forte e atravessámos para Creta, passando o porto de Salmona. Navegando com grande dificuldade, e avançando lentamente ao longo da costa sul, chegámos a Bons Portos, perto da cidade de Laseia.

Ali nos demorámos vários dias. O tempo estava já a ficar perigoso para viagens de longo curso, porque a época do jejum já tinha passado e se aproximava o inverno, e Paulo falou nisso à tripulação: 10 “Meus senhores, vejo que sofreremos um desastre se prosseguirmos viagem, e que podemos até perder a carga e as nossas vidas.” 11 Mas os oficiais encarregados de vigiarem os presos davam mais ouvidos ao piloto e ao dono do navio do que a Paulo. 12 Como aquele porto não tivesse boas condições para passar o inverno, a maior parte da tripulação achava melhor tentar subir mais pela costa até Fénix, que era outro porto, mas abrigado, aberto só a sudoeste e noroeste, e onde se podia passar melhor o inverno.

A tempestade

13 Nesse instante começou a soprar brandamente um vento do sul, parecendo-lhes ter as condições que desejavam; assim, levantaram ferro e foram navegando ao longo da costa de Creta. 14 Pouco depois, porém, um vento muito forte abateu-se sobre o navio, empurrando-o para o mar; era “o nordeste”, como lhe chamavam. 15 E não conseguindo navegar, demos mão de tudo e deixámos o navio ir à deriva do vento.

16 Finalmente, viemos parar atrás duma pequena ilha chamada Cauda, onde com grande dificuldade içámos para bordo o bote que trazíamos a reboque, 17 amarrando depois o barco com cordas para reforçar o casco. Os marinheiros tinham medo de ser atirados para os bancos de areia de Sirte, na costa africana, baixaram a vela grande e continuaram assim, impelidos pelo vento.

18 No dia seguinte, como o temporal nos afligisse ainda mais, a tripulação começou a deitar a carga pela borda fora. 19 No outro dia, atiraram ao mar com as próprias mãos os aprestos. 20 Esta terrível tempestade continuou durante muitos dias sem abrandar, não sendo possível a orientação nem pelo Sol nem pelas estrelas. Por fim, todas as esperanças de salvação se perderam.

21 Ninguém comia havia já muito tempo, até que Paulo, reunindo a tripulação, disse: “Deviam ter-me dado ouvidos e não sair de Bons Portos; ter-se-ia evitado todo este estrago e perda! 22 Mas agora, coragem! O navio afundará, mas nenhum de nós perderá a vida. 23 Porque a noite passada um anjo do Deus a quem pertenço e sirvo surgiu perante mim 24 e disse: ‘Nada receies, Paulo, porque serás julgado diante de César! E mais ainda: Deus, na sua graça, concedeu o teu pedido e salvará a vida de todos os que contigo viajam.’ 25 Por isso, animem-se! Creio em Deus. Estou certo de que será tal como ele disse. 26 Todavia, teremos de naufragar nalguma ilha.”

O naufrágio

27 Perto de meia-noite, a décima quarta da tempestade, andávamos nós perdidos no Adriático, quando os marinheiros desconfiaram que havia terra ali perto. 28 Lançaram a sonda e encontraram 37 metros de fundo. Pouco depois, já eram só 28 metros. 29 E com medo de encalhar em rochedos, lançaram quatro âncoras pela ré, orando para que chegasse a manhã. 30 Alguns dos marinheiros resolveram escapar-se do barco e arrearam o escaler de emergência, sob o pretexto de lançar âncoras pela proa. 31 Paulo, porém, disse aos soldados e ao comandante: “Ninguém se poderá salvar se estes homens não ficarem a bordo.” 32 Então os soldados cortaram os cabos e deixaram o escaler tombar na água.

33 Quando veio a luz da madrugada, Paulo pediu a todos que comessem: “Há duas semanas que ninguém se alimenta. 34 Por favor, e para vosso bem, comam agora qualquer coisa, porque nem um cabelo das vossas cabeças se perderá.” 35 Ele próprio pegou num pão, agradeceu a Deus na presença de todos, partiu um pedaço e comeu-o. 36 Toda a gente se sentiu mais animada e começou a comer. 37 Éramos duzentos e setenta e seis pessoas a bordo. 38 Depois de comer, os tripulantes tornaram a aliviar o navio, deitando todo o trigo pela borda fora.

39 Quando se fez dia, não reconheceram a costa, mas repararam numa baía com uma praia, para a qual decidiram tentar conduzir o navio. 40 Cortando os cabos às âncoras, e deixando-as no fundo, desprenderam os lemes, içaram a vela grande e apontaram à praia. 41 O barco, porém, encalhou num banco de areia. A proa enterrou-se, enquanto a popa ficou exposta à erosão da força das ondas.

42 Os soldados aconselharam o seu comandante a deixá-los matar os presos, não fosse algum nadar para terra e escapar. 43 Mas Júlio, desejando poupar a vida a Paulo, disse que não. Mandou então a todos os que soubessem nadar que saltassem pela amurada e fossem para terra, 44 enquanto os restantes tentariam fazê-lo agarrados a pranchas e destroços do navio. E foi assim que todos chegaram a salvo a terra.

Na ilha de Malta

28 Uma vez sãos e salvos, soubemos que aquela ilha era Malta. O seu povo tratou-nos com muita bondade, acendendo uma fogueira na praia, para nos dar as boas-vindas e nos aquecermos da chuva e do frio.

Estava Paulo a apanhar um braçado de gravetos para pôr no fogo, quando se lhe agarrou à mão uma cobra venenosa que fugia do calor. O povo da ilha, ao ver a cobra assim pendurada, disse entre si: “É assassino, não há dúvida! Escapou ao mar, mas o destino não o deixa viver!” Paulo, porém, sacudiu a cobra para dentro do lume e não lhe aconteceu nada. As pessoas esperavam que começasse a inchar ou caísse vitimado por morte repentina; mas quando, depois de esperarem muito tempo, viram que nada lhe sucedia, mudaram de opinião e convenceram-se de que era um deus.

Perto da praia onde desembarcámos havia uma herdade que pertencia a Públio, o governador da ilha. Este homem acolheu-nos com muita bondade e sustentou-nos durante três dias. E o pai de Públio estava doente, com febre e disenteria. Paulo foi a sua casa, orou pelo enfermo, colocou as mãos sobre ele e curou-o. Todos os outros doentes que havia na ilha procuraram Paulo e foram curados. 10 Como resultado, recebemos muitas atenções. E chegada a altura de nos retirarmos, puseram-nos a bordo tudo aquilo de que precisávamos para a viagem.

Paulo em Roma

11 Tinham já passado três meses desde o naufrágio, quando nos fizemos de novo ao mar, desta vez num barco de Alexandria, ornado com a efígie dos Gémeos[a], que invernara na ilha. 12 O nosso primeiro porto de paragem foi Siracusa, onde ficámos três dias. 13 Dali, navegámos ao longo da costa até Régio; no dia seguinte começou a soprar um vento do sul, de forma que chegámos a Putéolos no dia imediato. 14 Ali encontrámos alguns crentes que nos pediram que ficássemos com eles durante os sete dias seguintes. Depois retomámos a viagem até Roma.

15 Os irmãos de Roma tinham sabido que a nossa chegada estava próxima e vieram encontrar-se connosco na Praça de Ápio e em Três Tabernas. Ao vê-los, Paulo deu graças a Deus e sentiu-se muito animado.

16 Quando chegámos a Roma, Paulo teve autorização para aí permanecer por sua própria conta, mas sempre guardado por um soldado. 17 Três dias depois da sua chegada, reuniu os líderes locais dos judeus e disse-lhes: “Irmãos, embora não tenha feito mal ao nosso povo nem ofendido os costumes dos nossos antepassados, fui preso em Jerusalém e entregue às autoridades romanas. 18 Os romanos julgaram-me e queriam libertar-me, pois não viam razão para a sentença de morte exigida para mim. 19 Contudo, quando os judeus protestaram contra esta decisão, vi-me na necessidade de apelar para César, embora sem querer acusar a minha nação. 20 Pedi-lhes que viessem hoje aqui para nos conhecermos e para vos dizer que, se estou preso por esta corrente, é por crer na esperança de Israel.”

21 Ao que eles responderam: “Nada ouvimos contra ti! Não recebemos quaisquer cartas da Judeia ou informações a teu respeito por parte de algum irmão dizendo mal de ti. 22 Mas interessa-nos ouvir o que tu pensas, porque a única coisa que sabemos acerca desta seita é que são acusados em toda a parte!”

23 Combinaram uma data e um grande número de judeus foi à casa onde Paulo vivia. Paulo falou-lhes no reino de Deus e, baseando-se nos livros de Moisés e dos profetas, procurou convencê-los acerca de Jesus, em conversas que iam da manhã até à noite. 24 Alguns acreditavam no que ele dizia, mas outros não. 25 Depois de muito discutirem entre si, Paulo disse-lhes, antes de se irem embora: “O Espírito Santo tinha razão quando disse aos nossos antepassados, por intermédio do profeta Isaías:

26 ‘Vai então e diz o seguinte ao meu povo:
“Com efeito, ainda que ouçam com os vossos ouvidos, não entenderão.
Ainda que vejam e vejam, não perceberão.
27 Que o coração deste povo se embruteça,
e se lhes fechem os ouvidos
e os olhos. Não estou empenhado
        em que os seus olhos vejam,
        os seus ouvidos ouçam e os seus corações compreendam,
nem em que se arrependam,
        para que os cure.” ’[b]

28 Quero que saibam que esta salvação de Deus é também para os gentios e que eles a aceitarão.” 29 E quando disse estas palavras, os judeus retiraram-se, e havia grande dissensão entre eles.[c]

30 Paulo passou os dois anos seguintes na casa que arrendara e recebia todos os que o visitavam. 31 Proclamava o reino de Deus com ousadia e ensinava acerca do Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade e sem impedimento algum.

O Livro (OL)

O Livro Copyright © 2000 by Biblica, Inc.® Used by permission. All rights reserved worldwide.