Marcos 1-3
O Livro
João Batista prepara o caminho
(Mt 3.1-12; Lc 3.2-16; Jo 1.19-28)
1 Aqui começa a boa nova de Jesus o Cristo, o Filho de Deus.
2 No livro escrito pelo profeta Isaías, Deus anunciou a seu respeito:
“Envio o meu mensageiro diante de ti,
para preparar o caminho à tua frente.”[a]
3 “Este mensageiro é a voz gritando no deserto:
‘Façam um caminho direito para o Senhor.
Façam-lhe um caminho direito.’ ”[b]
4 Este mensageiro foi João Batista, que apareceu no deserto a pregar que as pessoas deviam batizar-se, como sinal de se terem arrependido dos seus pecados, a fim de serem perdoadas. 5 Gente de Jerusalém e de toda a Judeia ia até aos lugares afastados da Judeia para o ver e ouvir; e, quando confessavam os seus pecados, batizava-os no rio Jordão. 6 A roupa dele era feita de pelo de camelo tecido e usava um cinto de cabedal; e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. 7 Este é um exemplo da sua pregação: “Em breve chegará alguém que é muito maior do que eu, tanto assim que nem sou digno de me ajoelhar para lhe descalçar as sandálias. 8 Eu batizo-vos com água, mas ele vai batizar-vos com o Espírito Santo.”
O batismo e a tentação de Jesus
(Mt 3.13-17; Lc 3.21-22; Jo 1.32-34)
9 Um dia, Jesus veio de Nazaré, na região da Galileia, e foi batizado por João no rio Jordão. 10 No momento em que saía da água, viu os céus abertos e o Espírito Santo que descia sobre si, na forma de uma pomba. 11 E uma voz do céu disse: “Tu és o meu Filho amado, em ti tenho grande prazer.”
Jesus é tentado
(Mt 4.1-11; Lc 4.1-15)
12 Logo o Espírito Santo levou Jesus para o deserto. 13 Ali, durante quarenta dias, acompanhado pelos animais do deserto, sofreu tentações de Satanás. E os anjos serviam-no.
A chamada dos primeiros discípulos
(Mt 4.12-22; Lc 4.14-15; 5.2-11)
14 Mais tarde, depois de João ter sido preso pelo rei Herodes, Jesus foi para a Galileia, a fim de pregar as boas novas de Deus: 15 “Chegou finalmente o tempo!”, anunciou ele. “O reino de Deus está próximo! Deixem os vossos pecados e creiam nesta boa nova!”
16 Um dia, ia Jesus caminhando ao longo da costa do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, a pescar com uma rede, pois eram pescadores por ofício. 17 Jesus chamou-os: “Venham e sigam-me. Farei de vocês pescadores de pessoas!” 18 No mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no.
19 Avançando um pouco mais, viu na praia os filhos de Zebedeu, Tiago e João, num barco a remendar as redes. 20 Chamou-os também e logo o seguiram, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os empregados.
Jesus expulsa demónios e cura doentes
(Mt 8.14-16; Lc 4.31-41)
21 Jesus e os companheiros chegaram a Cafarnaum no sábado, foram à sinagoga e ali ensinava. 22 As pessoas ficaram admiradas com o seu ensino, pois falava com autoridade, ao contrário dos especialistas na Lei.
23 Achava-se ali presente um homem dominado por um espírito impuro, 24 que começou a gritar: “Porque nos vens inquietar, Jesus de Nazaré? Vieste destruir-nos? Sei quem és: és o santo Filho de Deus!” 25 Jesus, porém, impediu-o de falar. “Cala-te!”, disse ao demónio. “Sai dele!” 26 O espírito impuro soltou um grito muito forte e, com uma convulsão violenta, deixou o homem.
27 As pessoas ficaram todas tão pasmadas que se puseram a discutir o sucedido. “Que novo ensino será este, apresentado com autoridade?”, perguntavam. “Pois até os espíritos impuros lhe obedecem!” 28 A notícia do que ele tinha feito depressa se espalhou por toda a região da Galileia.
29 Quando saiu da sinagoga com os discípulos, foram a casa de Simão e André, e Tiago e João estavam com eles. 30 A sogra de Simão estava deitada com febre e contaram-no a Jesus; 31 e foi levantá-la da cama. Ao pegar-lhe na mão, a febre desapareceu e ela foi servi-lo.
32 Ao cair da tarde, à hora do pôr-do-sol, trouxeram a Jesus todos os que sofriam e os possuídos de demónios. 33 E toda a população da a cidade se juntou do lado de fora da porta a observar. 34 E curou muitos que sofriam de várias doenças e expulsou os demónios. Mas não deixava os demónios falar, pois sabiam quem ele era.
Jesus ora e anuncia a boa nova
(Lc 4.42-44)
35 Na manhã seguinte, levantou-se de madrugada e foi sozinho até um lugar deserto para orar. 36 Mais tarde, Simão e os outros saíram à sua procura 37 e disseram-lhe: “Toda a gente pergunta por ti.”
38 Mas ele respondeu: “Devemos seguir também para outras localidades e apresentar ali a minha mensagem, pois foi para isso que vim.” 39 Percorria, assim, toda a província da Galileia, pregando nas sinagogas e livrando muitos do poder dos demónios.
A cura dum homem leproso
(Mt 8.2-4; Lc 5.12-16)
40 Um leproso chegou-se e ajoelhou-se, rogando-lhe: “Se quiseres, podes curar-me!”
41 Então Jesus, cheio de compaixão e estendendo a mão, tocou-lhe e disse: “Sim, quero; sê curado!” 42 Logo a lepra o deixou e o homem ficou curado.
43 Então Jesus, falando com firmeza, despediu-o: 44 “Presta atenção: não digas nada a ninguém. Vai apresentar-te ao sacerdote e leva contigo a oferta que Moisés estabeleceu para a cura, para que lhes sirva de testemunho.”
45 Mas o homem começou a gritar pelo caminho a boa notícia de que estava curado. E tão grande foi a multidão que rodeou Jesus que em nenhuma região ou cidade podia entrar discretamente, vendo-se obrigado a ficar de fora, nos sítios isolados, onde de toda a parte vinha gente procurá-lo.
Jesus cura um paralítico
(Mt 9.2-8; Lc 5.18-26)
2 Passados vários dias, voltou a Cafarnaum e a notícia da sua chegada depressa se espalhou pela cidade. 2 Logo a casa onde estava ficou tão cheia de visitantes que não havia espaço para mais ninguém, nem sequer do lado de fora. E Jesus anunciava-lhes a mensagem de Deus. 3 Logo quatro homens lhe trouxeram, numa esteira, um rapaz paralítico. 4 Como não pudessem chegar junto de Jesus por causa da multidão, abriram o teto por cima do lugar onde se encontrava, e por ali baixaram o doente deitado na cama, bem na sua frente. 5 Vendo a fé de que davam provas, Jesus disse ao doente: “Filho, os teus pecados estão perdoados!”
6 Alguns dos especialistas na Lei que ali estavam sentados diziam no seu coração: 7 “Mas porque fala ele assim? Ele está a blasfemar! Só Deus pode perdoar os pecados!”
8 E Jesus, de imediato percebendo no seu espírito o que eles estavam a pensar consigo mesmos, disse-lhes: “Porque estão a pensar isso nos vossos corações? 9 O que é mais fácil dizer: ‘os teus pecados são perdoados’ ou ‘levanta-te, pega na tua enxerga e anda?’ 10 Portanto, vou provar-vos que o Filho do Homem tem autoridade para perdoar os pecados.” E voltando-se para o paralítico, disse-lhe: 11 “A ti digo: Levanta-te, enrola a tua esteira e vai para casa!”
12 O homem pôs-se em pé. E apanhando a esteira, abriu caminho à vista de toda a gente que ali se encontrava, de forma que toda a gente ficou admirada e glorificava a Deus. “Nunca vimos nada assim!”, diziam.
A chamada de Levi
(Mt 9.9-13; Lc 5.27-32)
13 Depois, foi de novo para a praia, ensinando o povo reunido à sua volta. 14 Ia Jesus a passar quando viu Levi, filho de Alfeu, sentado num balcão de cobrança, e disse-lhe: “Vem comigo e sê meu discípulo!” Levi levantou-se e seguiu-o.
15 Mais tarde, estava Jesus a comer em casa dele, veio também sentar-se à mesa com este e os seus discípulos um bom número de cobradores de impostos e outros pecadores. Aliás, havia muitos homens desta espécie entre o povo que seguia a Jesus. 16 Quando alguns especialistas na Lei que pertenciam ao grupo dos fariseus o viram comer com pecadores e cobradores de impostos, perguntaram aos discípulos: “Porque come o vosso mestre com cobradores de impostos e outros pecadores?”
17 Ao ouvi-los, Jesus respondeu-lhes: “Quem precisa de médico são os doentes, não os que têm saúde! Não vim chamar os justos, mas os pecadores.”
A questão de jejum
(Mt 9.14-17; Lc 5.33-39)
18 Os discípulos de João e os fariseus jejuavam. Certo dia, foram ter com Jesus e perguntaram-lhe porque não faziam os seus discípulos o mesmo que eles. 19 Jesus replicou: “Podem os convidados do noivo jejuar, enquanto o noivo ainda está com eles? Enquanto tiverem o noivo com eles, não podem jejuar. 20 Lá virá o tempo em que lhes será tirado. Então, sim, jejuarão.
21 É como remendar roupa velha com um pedaço de pano que ainda não encolheu. De outro modo, o remendo novo repuxa o tecido velho e o buraco fica pior do que antes. 22 Sabem que não convém pôr vinho novo em odres velhos, se não estes rebentam, o vinho espalha-se e os odres ficam estragados. Para vinho novo, odres novos.”
O Senhor do sábado
(Mt 12.1-8; Lc 6.1-5)
23 Noutra ocasião, num sábado, enquanto Jesus e os seus discípulos atravessavam umas searas, estes começaram a caminhar, a arrancar espigas de trigo e a comer o grão. 24 Alguns dos fariseus disseram então a Jesus: “Porque estão a fazer o que não é permitido no dia de sábado?”
25 “Nunca leram o que o rei David fez quando ele e os companheiros estavam necessitados e com fome, 26 como entrou na casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, comeu os pães da Presença, que apenas aos sacerdotes era permitido comer, e os deu também aos seus companheiros?[c] 27 O sábado foi feito em benefício do homem e não o homem por causa do sábado. 28 Eu, o Filho do Homem, sou o Senhor do próprio sábado.”
Jesus cura um homem com mão paralisada
(Mt 12.9-14; Lc 6.6-11)
3 Jesus foi de novo à sinagoga e aí reparou num homem que tinha uma mão aleijada. 2 E vigiavam atentamente Jesus, para ver se ele curaria o homem no dia de sábado, para terem de que o acusar. 3 Jesus pediu ao homem com a mão paralisada: “Levanta-te e vem aqui ao meio.” 4 Então, voltando-se para os que o observavam, perguntou: “É legítimo praticar o bem num sábado ou praticar o mal? É dia para salvar vidas ou para destruí-las?” Mas eles não foram capazes de lhe responder.
5 Olhando indignado em volta, e profundamente triste, por causa dos seus corações endurecidos, Jesus disse ao homem: “Estende o braço!” Ele assim fez e imediatamente a sua mão ficou completamente normal.
6 Os fariseus saíram e tiveram um encontro com os herodianos, a fim de combinarem como haveriam de o matar.
As multidões seguem Jesus
(Mt 4.23-25; 12.15-16; Lc 6.17-19)
7 Entretanto, Jesus e os discípulos foram para a beira-mar e uma enorme massa de gente o seguia, vinda da Galileia, da Judeia, 8 de Jerusalém, da Idumeia, de além do rio Jordão e até do outro lado de Tiro e Sídon. Ao ouvirem falar do que ele fizera, muita gente acorreu para o ver.
9 Jesus disse aos discípulos que tivessem um bote pronto para o recolher se a multidão na praia o apertasse. 10 Com efeito, tinha realizado muitas curas, de modo que todos os que tinham males o comprimiam, procurando tocar-lhe.
11 E onde quer que os possuídos de espíritos impuros o vissem, caíam à sua frente, clamando: “És o Filho de Deus!” 12 Contudo, advertia-os expressamente que não revelassem quem ele era.
São nomeados os doze discípulos
(Mt 10.2-4; Lc 6.14-16; At 1.13)
13 Jesus subiu a uma montanha, reuniu aqueles que entendeu e estes foram juntar-se a ele.
14 Nomeou então doze, a quem designou apóstolos, para o acompanharem, enviá-los a pregar 15 e a expulsar demónios.
16 Assim se chamavam os doze que escolheu: Simão (a quem pôs o nome de Pedro); 17 Tiago e João, filhos de Zebedeu, a quem Jesus chamou filhos do Trovão; 18 André; Filipe; Bartolomeu; Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Tadeu; Simão, o zelote; 19 e Judas Iscariotes que viria a traí-lo.
Jesus e Satanás
(Mt 12.22-29; Lc 11.14-23; 12.10)
20 Quando Jesus voltou para a casa, o povo começou a juntar-se outra vez. E não tardou que ficasse tão cheia que nem Jesus, nem os discípulos, tinham tempo para comer. 21 Quando os seus familiares souberam o que estava a acontecer tentaram levá-lo dali e diziam: “Está fora de si!”
22 Porém, os especialistas na Lei que tinham chegado de Jerusalém diziam: “Ele está mas é dominado por Belzebu[d]; por isso expulsa os demónios pelo líder dos demónios.”
23 Jesus chamou então estes homens e perguntou-lhes por meio de uma parábola: “Como pode Satanás expulsar Satanás? 24 Se um reino está dividido contra si mesmo não pode subsistir. 25 E se uma está dividida contra si mesma também não poderá subsistir. 26 Ora, se Satanás luta contra si próprio e está dividido, não pode subsistir; antes é o seu fim. 27 Ninguém pode entrar na casa do homem forte e levar os seus bens, sem antes amarrá-lo. Só então poderá roubar-lhe a casa.
28 É realmente como vos digo: qualquer pecado dos homens pode ser perdoado, incluindo a blasfémia. 29 Mas a ofensa contra o Espírito Santo, essa não pode nunca ser perdoada. É um pecado que fica para sempre.” 30 Disse-lhes isto porque afirmavam que os seus milagres eram feitos por um espírito impuro.
A mãe e os irmãos de Jesus
(Mt 12.46-50; Lc 8.19-21)
31 Entretanto, sua mãe e irmãos apareceram do lado de fora da casa onde ele estava e mandaram chamá-lo. 32 Havia uma multidão sentada à volta dele. E disseram-lhe: “A tua mãe, irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura!”
33 Jesus respondeu: “Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?” 34 E, olhando para os que o rodeavam, acrescentou: “Estes é que são a minha mãe e os meus irmãos! 35 Todo aquele que faz a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”
Footnotes
- 1.2 Ml 3.1.
- 1.3 Is 40.3.
- 2.26 Ver 1 Sm 21.1-6.
- 3.22 Belzebu, nome habitualmente designativo de Satanás, príncipe dos demónios. Na origem, era uma expressão honorífica para designar Baal, a divindade suprema cananeia (Baal-Zebul), e que significaria Baal ou Senhor Príncipe. Os Hebreus alteraram o nome, por meio de um jogo paronímico, para Beel-Zebub(Senhor das Moscas), uma referência sarcástica aos deuses de outros povos.
Marcos 1-3
Almeida Revista e Corrigida 2009
João Batista(A)
1 Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
2 Como está escrito no profeta Isaías: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti. 3 Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. 4 Apareceu João batizando no deserto e pregando o batismo de arrependimento, para remissão de pecados. 5 E toda a província da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
6 E João andava vestido de pelos de camelo e com um cinto de couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre, 7 e pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias. 8 Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo.
O batismo e a tentação de Jesus(B)
9 E aconteceu, naqueles dias, que Jesus, tendo ido de Nazaré, da Galileia, foi batizado por João, no rio Jordão. 10 E, logo que saiu da água, viu os céus abertos e o Espírito, que, como pomba, descia sobre ele. 11 E ouviu-se uma voz dos céus, que dizia: Tu és o meu Filho amado, em quem me comprazo.
12 E logo o Espírito o impeliu para o deserto. 13 E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás. E vivia entre as feras, e os anjos o serviam.
Vocação dos primeiros apóstolos(C)
14 E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do Reino de Deus 15 e dizendo: O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.
16 E, andando junto ao mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens. 18 E, deixando logo as suas redes, o seguiram. 19 E, passando dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes, 20 e logo os chamou. E eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os empregados, foram após ele.
A cura do endemoninhado de Cafarnaum(D)
21 Entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, ali ensinava. 22 E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade e não como os escribas. 23 E estava na sinagoga deles um homem com um espírito imundo, o qual exclamou, dizendo: 24 Ah! Que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus. 25 E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te e sai dele. 26 Então, o espírito imundo, agitando-o e clamando com grande voz, saiu dele. 27 E todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si, dizendo: Que é isto? Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem! 28 E logo correu a sua fama por toda a província da Galileia.
A cura da sogra de Pedro(E)
29 E logo, saindo da sinagoga, foram à casa de Simão e de André, com Tiago e João. 30 E a sogra de Simão estava deitada, com febre; e logo lhe falaram dela. 31 Então, chegando-se a ela, tomou-a pela mão e levantou-a; e a febre a deixou, e servia-os.
32 E, tendo chegado a tarde, quando já estava se pondo o sol, trouxeram-lhe todos os que se achavam enfermos e os endemoninhados. 33 E toda a cidade se ajuntou à porta. 34 E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades e expulsou muitos demônios, porém não deixava falar os demônios, porque o conheciam.
35 E, levantando-se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava. 36 E seguiram-no Simão e os que com ele estavam. 37 E, achando-o, lhe disseram: Todos te buscam. 38 E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também pregue, porque para isso vim. 39 E pregava nas sinagogas deles, por toda a Galileia, e expulsava os demônios.
A cura de um leproso(F)
40 E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. 41 E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo! 42 E, tendo ele dito isso, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. 43 E, advertindo-o severamente, logo o despediu. 44 E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho. 45 Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele.
O paralítico de Cafarnaum(G)
2 E, alguns dias depois, entrou outra vez em Cafarnaum, e soube-se que estava em casa. 2 E logo se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto à porta eles cabiam; e anunciava-lhes a palavra. 3 E vieram ter com ele, conduzindo um paralítico, trazido por quatro. 4 E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o telhado onde estava e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico. 5 E Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados. 6 E estavam ali assentados alguns dos escribas, que arrazoavam em seu coração, dizendo: 7 Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? 8 E Jesus, conhecendo logo em seu espírito que assim arrazoavam entre si, lhes disse: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso coração? 9 Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer-lhe: Levanta-te, e toma o teu leito, e anda? 10 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados (disse ao paralítico), 11 a ti te digo: Levanta-te, e toma o teu leito, e vai para tua casa. 12 E levantou-se e, tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos.
A vocação de Levi(H)
13 E tornou a sair para o mar, e toda a multidão ia ter com ele, e ele os ensinava. 14 E, passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na alfândega e disse-lhe: Segue-me. E, levantando-se, o seguiu.
15 E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores, porque eram muitos e o tinham seguido. 16 E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores? 17 E Jesus, tendo ouvido isso, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores.
O jejum(I)
18 Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos? 19 E Jesus disse-lhes: Podem, porventura, os filhos das bodas jejuar, enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar. 20 Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias. 21 Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior. 22 E ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo rompe os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser posto em odres novos.
Jesus é senhor do sábado(J)
23 E aconteceu que, passando ele num sábado pelas searas, os seus discípulos, caminhando, começaram a colher espigas. 24 E os fariseus lhe disseram: Vês? Por que fazem no sábado o que não é lícito? 25 Mas ele disse-lhes: Nunca lestes o que fez Davi, quando estava em necessidade e teve fome, ele e os que com ele estavam? 26 Como entrou na Casa de Deus, no tempo de Abiatar, sumo sacerdote, e comeu os pães da proposição, dos quais não era lícito comer senão aos sacerdotes, dando também aos que com ele estavam? 27 E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causa do sábado. 28 Assim, o Filho do Homem até do sábado é senhor.
A cura de um que tinha uma das mãos mirrada(K)
3 E outra vez entrou na sinagoga, e estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada. 2 E estavam observando-o se curaria no sábado, para o acusarem. 3 E disse ao homem que tinha a mão mirrada: Levanta-te e vem para o meio. 4 E perguntou-lhes: É lícito no sábado fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou matar? E eles calaram-se. 5 E, olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restituída a mão, sã como a outra. 6 E, tendo saído os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos contra ele, procurando ver como o matariam.
7 E retirou-se Jesus com os seus discípulos para o mar, e seguia-o uma grande multidão da Galileia, e da Judeia, 8 e de Jerusalém, e da Idumeia, e dalém do Jordão, e de perto de Tiro, e de Sidom; uma grande multidão que, ouvindo quão grandes coisas fazia, vinha ter com ele. 9 E ele disse aos seus discípulos que lhe tivessem sempre pronto um barquinho junto dele, por causa da multidão, para que o não comprimisse, 10 porque tinha curado a muitos, de tal maneira que todos quantos tinham algum mal se arrojavam sobre ele, para lhe tocarem. 11 E os espíritos imundos, vendo-o, prostravam-se diante dele e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus. 12 E ele os ameaçava muito, para que não o manifestassem.
A eleição dos doze(L)
13 E subiu ao monte e chamou para si os que ele quis; e vieram a ele. 14 E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar 15 e para que tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios: 16 Simão, a quem pôs o nome de Pedro; 17 Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do trovão; 18 André, e Filipe, e Bartolomeu, e Mateus, e Tomé, e Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu, e Simão, o Zelote, 19 e Judas Iscariotes, o que o traiu.
A blasfêmia dos escribas(M)
20 E foram para uma casa. E afluiu outra vez a multidão, de tal maneira que nem sequer podiam comer pão. 21 E, quando os seus parentes ouviram isso, saíram para o prender, porque diziam: Está fora de si. 22 E os escribas, que tinham descido de Jerusalém, diziam: Tem Belzebu e pelo príncipe dos demônios expulsa os demônios. 23 E, chamando-os a si, disse-lhes por parábolas: Como pode Satanás expulsar Satanás? 24 Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; 25 e se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode subsistir. 26 Se Satanás se levantar contra si mesmo, e for dividido, não pode subsistir; antes, tem fim. 27 Ninguém pode roubar os bens do valente, entrando-lhe em sua casa, se primeiro não manietar o valente; e, então, roubará a sua casa. 28 Na verdade vos digo que todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, e toda sorte de blasfêmias, com que blasfemarem. 29 Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo. 30 (Porque diziam: Tem espírito imundo.)
A família de Jesus(N)
31 Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando de fora, mandaram-no chamar. 32 E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram e estão lá fora. 33 E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? 34 E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. 35 Porquanto qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe.
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