Lucas 9:1-13:33
O Livro
Jesus envia os doze
(Mt 10.5-14; Mc 6.7-12)
9 Reunindo os doze discípulos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios e para curar as enfermidades. 2 Em seguida, enviou-os a pregar a toda a gente o reino de Deus e a curar os doentes. 3 “Não levem convosco nem sequer um bordão”, recomendou-lhes, “nem saco de viagem, nem comida, nem dinheiro de prata, nem mesmo uma muda de roupa. 4 Na casa em que entrarem, fiquem nela até à vossa partida. 5 Se o povo de qualquer povoação não vos receber, sacudam a poeira dos vossos pés quando saírem, como testemunho de que abandonaram essa terra à sua própria sorte.”
6 Começaram então essa digressão pelas povoações, pregando as boas novas e curando os doentes.
Herodes preocupado com Jesus
(Mt 14.1-2; Mc 6.14-16)
7 Quando soube dos milagres de Jesus, o governador Herodes ficou preocupado, pois já havia quem dissesse: “É João Batista que voltou à vida.” 8 E outros: “É Elias ou outro antigo profeta que ressuscitou dos mortos.”
9 “Degolei João”, dizia Herodes, “quem será este homem de quem me contam tais histórias?” E procurava ver Jesus.
Jesus alimenta 5000 homens
(Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Jo 6.1-15)
10 Quando os apóstolos voltaram para contar a Jesus o que tinham feito, este saiu com eles para um sítio isolado, para os lados da povoação de Betsaida. 11 O povo, porém, descobriu para onde se dirigia e seguiu-o. Ele acolheu-os, ensinando-os acerca do reino de Deus e curando os doentes.
12 No fim da tarde, os doze discípulos vieram recomendar-lhe: “Manda o povo retirar-se, para ir às aldeias e campos dos arredores arranjar abrigo para a noite e encontrar comida, porque o lugar em que estamos é deserto.”
13 Mas Jesus respondeu: “Deem-lhes vocês de comer.”
“Como, se temos apenas cinco pães e dois peixes?”, protestaram. “Onde é que iríamos agora arranjar alimento suficiente para toda esta multidão?” 14 É que estavam ali uns 5000 homens.
“Digam-lhes que se sentem no chão em grupos de cerca de cinquenta cada”, ordenou Jesus aos discípulos. 15 E assim fizeram. 16 Tomando os cinco pães e os dois peixes, Jesus ergueu os olhos para o céu e abençoou-os. Depois, partiu-os em pedaços e deu-os aos discípulos, para que os oferecessem à multidão.
17 Todos comeram até ficarem satisfeitos. E quando as sobras foram recolhidas enchiam doze cestos.
Pedro confessa que Jesus é o Cristo
(Mt 16.13-20; Mc 8.27-30)
18 Um dia, estando sozinho a orar e encontrando-se os discípulos ali perto, Jesus aproximou-se e perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?”
19 Responderam-lhe: “João Batista, ou talvez Elias, ou outro dos antigos profetas que terá ressuscitado.”
20 Então perguntou-lhes: “E vocês, quem pensam que eu sou?” E Pedro respondeu: “Tu és o Cristo de Deus!”
Jesus prediz a sua morte
(Mt 16.20-23; Mc 8.30-33)
21 Jesus deu-lhes ordens rigorosas para não falarem nisso a ninguém.
22 Disse-lhes ele: “O Filho do Homem está destinado a passar por muitos sofrimentos, ser rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos especialistas na Lei e ser morto, mas três dias depois ressuscitará.”
Como ser um discípulo de Cristo
(Mt 16.24-28; Mc 8.34–9.1)
23 Então disse a todos: “Se alguém quiser ser meu seguidor, tem de esquecer-se de si próprio, tomar a sua cruz todos os dias e seguir-me. 24 Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á. E quem perder a sua vida por minha causa salvá-la-á. 25 Que lucro terá o homem em ganhar o mundo inteiro e causar dano a si mesmo? 26 Quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, também eu, o Filho do Homem, me envergonharei desse, quando vier na minha glória e na do Pai e dos santos anjos. 27 Porém, a verdade é que alguns dos que estão aqui agora não morrerão sem ver o reino de Deus!”
Jesus transfigura-se
(Mt 17.1-13; Mc 9.2-13)
28 Aproximadamente oito dias depois de proferir estas palavras, levou consigo Pedro, Tiago e João e subiu ao monte para orar. 29 Enquanto orava, o seu rosto começou a brilhar e o seu vestuário ficou de uma brancura resplandecente. 30 De súbito, dois homens, Moisés e Elias, puseram-se a falar com ele. 31 O aspeto deles era glorioso e falavam da sua morte que iria ocorrer em Jerusalém.
32 Pedro e os outros, de tão cheios de sono que estavam, adormeceram. Ao acordarem, viram Jesus cheio de esplendor e glória, e os dois homens que estavam com ele. 33 Quando Moisés e Elias se iam retirar, Pedro, não sabendo o que dizer, exclamou: “Mestre, que bom é estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias!”
34 No momento em que dizia isto, uma nuvem formou-se por cima deles e encheram-se de terror, quando a nuvem os envolveu. 35 Uma voz que saía da nuvem disse: “Este é o meu Filho, a quem escolhi. Ouçam-no!” 36 Quando a voz se calou, ficou apenas Jesus. Os discípulos guardaram silêncio e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.
A cura do rapaz com um espírito mau
(Mt 17.14-19; Mc 9.14-29)
37 No outro dia, quando desceram do monte, veio ao seu encontro uma grande multidão. 38 Um homem gritou-lhe: “Mestre, este menino que aqui está é o meu único filho. 39 E há um demónio que se apodera dele e o faz gritar, abanando-o com violência, a ponto de espumar pela boca. Esse demónio fá-lo ferir-se constantemente e não o deixa em paz. 40 Já roguei aos teus discípulos que o expulsassem, mas não foram capazes.”
41 Jesus respondeu: “Ó povo sem fé e obstinado! Até quando terei de andar convosco e de vos suportar? Traz-me cá o teu filho!” 42 Quando a criança se aproximava, o espírito impuro atirou-a ao chão numa violenta agitação. Mas Jesus, ordenando-lhe que saísse, curou o menino e entregou-o ao pai. 43 O espanto apoderou-se do povo ao ver esta manifestação do poder de Deus.
Jesus fala outra vez da sua morte e ressurreição
(Mt 17.22-23; Mc 9.30-32)
Entretanto, enquanto se admiravam das coisas maravilhosas que fazia, Jesus disse aos discípulos: 44 “Ouçam-me e lembrem-se do que vos vou dizer. O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.” 45 Eles, porém, não compreendiam o que ele dizia; tal estava-lhes velado, de modo a não o perceberem, e tinham medo de lhe fazer perguntas sobre isso.
Quem será o maior?
(Mt 18.1-5; Mc 9.33-37)
46 Surgiu então entre eles uma discussão sobre qual dos discípulos seria o mais importante. 47 Jesus, contudo, conhecendo-lhes os pensamentos, colocou uma criancinha ao seu lado 48 e disse-lhes: “Quem receber uma criancinha como esta, em meu nome, é a mim que recebe. E quem me receber recebe aquele que me enviou. O mais insignificante entre vós, esse é o maior.”
Quem não é contra nós é por nós
(Mc 9.38-40)
49 João disse-lhe: “Mestre, vimos alguém que se servia do teu nome para expulsar demónios, mas dissemos-lhe que não o fizesse, por não pertencer ao nosso grupo.”
50 Mas Jesus disse-lhe: “Não o proíbam! Porque quem não está contra vós está do vosso lado.”
Oposição de Samaria
51 À medida que se aproximava o momento de regressar ao céu, Jesus mostrava-se decidido a ir a Jerusalém. 52 Um dia, enviou mensageiros à sua frente, a fim de reservar hospedagem numa localidade samaritana. 53 Todavia, mandaram-nos embora. O povo daquele lugar não quis nada com eles, porque viram que se dirigiam para Jerusalém. 54 Quando chegou a notícia do que tinha acontecido, os discípulos Tiago e João perguntaram a Jesus: “Mestre, devíamos pedir que caia fogo do céu para os queimar?” 55 Mas Jesus voltou-se e repreendeu-os. 56 E prosseguiram até chegarem a outra aldeia.
O custo de seguir Jesus
(Mt 8.19-22)
57 Quando iam a passar, alguém disse a Jesus: “Seguir-te-ei aonde quer que fores.”
58 Mas Jesus respondeu: “As raposas têm tocas e as aves têm ninhos; eu, porém, o Filho do Homem, não possuo lar próprio nem sítio onde repousar a cabeça.”
59 Ele disse a outro homem: “Segue-me.” Este disse-lhe: “Senhor, deixa-me primeiro enterrar o meu pai.”
60 Jesus respondeu: “Os mortos de espírito que cuidem dos seus mortos. Tu deves ir anunciar o reino de Deus.”
61 Outro disse-lhe: “Sim, Senhor, irei, mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família.”
62 “Aquele que lança mão do arado e depois olha para trás não está pronto para o reino de Deus!”, replicou-lhe Jesus.
Jesus envia setenta e dois discípulos
(Mt 11.21-24)
10 Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e enviou-os à sua frente, dois a dois, a todas as localidades, vilas e aldeias que tencionava visitar mais tarde. 2 Foram estas as instruções que lhes deu: “A seara é vasta e os trabalhadores são poucos. Roguem ao Senhor da seara que envie trabalhadores para ela.
Perseguições futuras
3 Agora vão, envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não levem bolsa com dinheiro convosco, nem saco de viagem, nem mesmo calçado de reserva. E não percam tempo a cumprimentar as pessoas pelo caminho.
5 Na casa em que entrarem, primeiramente declarem a paz sobre ela. 6 Se o residente for digno de paz, deixem-lhe a vossa paz; se não, para vocês voltará. 7 Na casa em que entrarem, fiquem nela e comam e bebam do que vos puserem à frente. Porque digno é o trabalhador do seu salário.
8 Se uma cidade vos receber, comam do que vos oferecerem. 9 Curem os enfermos e digam: ‘O reino de Deus chegou até vós!’ 10 Se, porém, na cidade em que entrarem não vos receberem, saiam para as ruas e digam: 11 ‘Limpamos o pó desta povoação que se tiver incrustado aos nossos pés em protesto contra vós. Nunca se esqueçam de que o reino de Deus chegou!’ 12 Eu vos digo: Sodoma estará em melhor situação no dia do juízo do que essa cidade!
13 Ai de ti, Corazim, e ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres que vos fiz tivessem sido realizados nas cidades de Tiro e Sídon, o seu povo ter-se-ia sentado, há muito, em profundo arrependimento, vestindo pano de saco e deitando cinzas sobre a cabeça em sinal de remorso. 14 Contudo, Tiro e Sídon estarão em melhor situação no dia do juízo do que vocês! 15 E tu, povo de Cafarnaum, serás tu levantado até ao céu? Serás antes mergulhado no inferno!”
16 Depois disse aos discípulos: “Quem vos ouve é a mim que ouve e quem vos rejeita é a mim que rejeita. E quem me rejeitar rejeita quem me enviou.”
Os setenta e dois discípulos voltam
(Mt 11.25-27; 13.16-17)
17 Quando os setenta e dois discípulos voltaram, cheios de alegria, contaram: “Senhor, os próprios demónios nos obedecem quando nos servimos do teu nome.”
18 Disse-lhes Jesus: “Sim, eu próprio vi Satanás cair dos céus como um raio! 19 Dei-vos autoridade sobre os poderes do inimigo e para pisar serpentes e escorpiões. Nada vos fará mal. 20 Todavia, não se alegrem porque os demónios vos obedecem. Alegrem-se por os vossos nomes estarem registados nos céus!”
21 Naquele momento, Jesus, cheio da alegria do Espírito Santo, disse: “Pai, Senhor do céu e da Terra, graças te dou por teres escondido estas coisas aos instruídos e aos sábios e as revelares às criancinhas. Sim, obrigado, Pai, pois foi assim que quiseste!
22 O meu Pai deu-me autoridade sobre todas as coisas; e ninguém conhece verdadeiramente o Filho a não ser o Pai; e ninguém conhece verdadeiramente o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho tiver por bem revelá-lo.”
23 Voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: “Felizes são os olhos que veem o que estão a ver! 24 Muitos profetas e reis desejaram ver o que vocês veem e não o viram; ouvir o que vocês ouvem e não o ouviram!”
O bom samaritano
(Mt 22.34-40; Mc 12.28-31)
25 Certo dia, um especialista na Lei judaica quis pôr Jesus à prova fazendo-lhe esta pergunta: “Mestre, que farei para obter a vida eterna?”
26 Jesus respondeu: “Que diz a Lei sobre o assunto?”
27 “Diz assim: ‘Ama o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento. E ama o teu próximo como a ti mesmo.’ ”[a]
28 “Estás certo”, respondeu-lhe Jesus. “Faz isso e terás a vida eterna!”
29 O homem, querendo justificar-se, perguntou: “E quem é o meu próximo?”
30 Jesus respondeu-lhe com esta parábola: “Um judeu que viajava de Jerusalém para Jericó viu-se atacado por salteadores. Estes, depois de lhe tirarem todas as roupas e o dinheiro, espancaram-no e deixaram-no como morto na berma da estrada. 31 Por acaso, passou por ali um sacerdote que, ao ver o homem tombado, se afastou para o outro lado da estrada e passou de largo. 32 Um outro, que era levita, fez o mesmo, deixando também o homem ali caído.
33 Porém, surgiu um samaritano que, ao vê-lo, teve muita compaixão dele. 34 Ajoelhando-se, tratou-lhe as feridas com azeite e vinho e pôs-lhe ligaduras. Depois, colocando o homem sobre o seu jumento, foi caminhando ao lado até chegarem a uma hospedaria, onde cuidou dele durante a noite. 35 No dia seguinte, entregou ao dono da hospedaria uma certa importância, recomendando-lhe que cuidasse do homem. ‘Se a despesa for além disto, pago a diferença na próxima vez que por aqui passar’, disse-lhe.
36 Ora, qual destes três homens dirias tu que foi o semelhante da vítima dos salteadores?” Ao que o homem respondeu:
37 “Foi aquele que mostrou compaixão por ele.”
Jesus disse-lhe: “É isso mesmo. Vai e faz o mesmo.”
Em casa da Marta e Maria
38 A caminho de Jerusalém, Jesus e os discípulos chegaram a um sítio onde uma mulher chamada Marta os recebeu em casa. 39 Maria, sua irmã, sentou-se no chão ao pé de Jesus, ouvindo o que ele dizia. 40 Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços. E, indo ter com Jesus, observou: “Senhor, achas bem que minha irmã me deixe sozinha a fazer o trabalho todo? Diz-lhe que venha ajudar-me.”
41 “Marta, Marta, como tu te deixas prender por tantas coisas! 42 Há só uma que é necessária. Maria escolheu bem e isso não lhe será tirado!”
Jesus ensina sobre oração
(Mt 6.9-13; 7.7-11)
11 Numa ocasião em que Jesus se tinha retirado para orar, um dos discípulos, quando ele terminou, disse-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como João fez com os seus discípulos.”
2 Foi assim que Jesus os ensinou a orar:
“Pai, que o teu santo nome seja honrado.
Venha o teu reino.
3 Dá-nos o pão para o nosso alimento diário.
4 Perdoa-nos os nossos pecados,
pois nós próprios perdoamos os que nos ofendem.
E não deixes que caiamos em tentação.”
5 Ensinou-lhes mais: “Quem dentre vocês pode imaginar uma situação como a que vos vou contar? Alguém vai a casa de um amigo à meia-noite e diz-lhe: ‘Amigo, cede-me três pães, 6 pois acaba de chegar um amigo e não tenho nada para lhe dar a comer.’ 7 Não responderia ele lá de dentro: ‘Não me incomodes agora. A porta da rua já está trancada e eu e os meus filhos já estamos deitados. Não posso levantar-me para te valer!’? 8 Digo-vos que ele acabará por levantar-se e dar o que o outro quiser, embora não o faça por amizade, mas por causa do incómodo.
9 O mesmo se passa com a oração: Peçam e receberão o que pedirem. Procurem que hão de achar. Batam que a porta há de abrir-se. 10 Porque todo aquele que pede recebe. Quem procura acha. Se baterem, a porta abrir-se-á.
11 Quem de entre vocês que seja pai, se o seu filho lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente em vez do peixe? 12 Se pedir um ovo, dão-lhe um escorpião? 13 Se vocês, que são pecadores, sabem dar coisas boas aos vossos filhos, porventura não dará muito mais o vosso Pai, que está nos céus, o Espírito Santo àqueles que lho pedirem!”
Jesus e Satanás
(Mt 12.22-30, 43-45; Mc 3.22-27)
14 Certa vez, estava Jesus a expulsar de um homem um demónio que era mudo. Depois de o demónio ter saído, o mudo recuperou a fala e as multidões ficaram maravilhadas. 15 Mas houve entre eles quem dissesse: “Expulsa os demónios pelo poder de Belzebu[b], líder dos demónios.” 16 Outros, para o porem à prova, pediram-lhe que fizesse um sinal do céu.
17 Jesus, conhecendo os seus pensamentos, respondeu: “Todo o reino dividido fica deserto. E uma casa dividida contra si mesma desabará. 18 Ora, se Satanás está dividido contra si próprio, como subsistirá o seu reino? Pois vocês dizem que expulso os demónios pelo poder de Belzebu. 19 E se expulso os demónios pelo poder de Belzebu, a que poder recorrem os vossos, quando fazem o mesmo? Por esta razão, eles serão os vossos juízes! 20 Mas, se expulso os demónios pelo dedo de Deus, então é porque o reino de Deus já está no vosso meio. 21 Pois quando o homem forte e bem armado guarda a sua casa o seu domínio está seguro, 22 até que alguém ainda mais forte o ataque e derrote, lhe tire as armas em que confiava e leve os seus bens.
23 Quem não é por mim é contra mim; quem não ajunta comigo espalha.
24 Quando um espírito impuro é expulso de um homem, vai para lugares áridos, procurando onde ficar; não encontrando lugar, diz: ‘Vou voltar para a morada que deixei.’ 25 E descobre que a sua antiga morada está varrida e arranjada. 26 Então, o demónio vai buscar outros sete espíritos, ainda piores do que ele próprio, e todos entram na tal pessoa para morar dentro dela. E deste modo fica pior do que antes.”
27 Enquanto falava, uma mulher de entre a multidão gritou: “Bendita seja a tua mãe, o ventre de que nasceste e o peito que te deu leite!”
28 Ao que ele respondeu: “Benditos são antes todos aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática!”
O sinal de Jonas
(Mt 12.38-42)
29 Jesus expôs os seguintes ensinamentos: “Esta geração é uma má geração; pede um sinal, mas não receberá nenhum, a não ser o de Jonas! 30 Pois como Jonas foi um sinal de Deus para o povo de Nínive, assim também o Filho do Homem o será para esta geração.
31 No dia do juízo dos homens a rainha de Sabá há de levantar-se e condenar esta geração, porque fez uma viagem longa e difícil para escutar a sabedoria de Salomão. Mas aqui está quem é superior a Salomão. 32 Também os homens de Nínive se levantarão para condenar esta geração, porque se arrependeram ao ouvir a pregação de Jonas. E agora está aqui alguém que é superior a Jonas.
A luz do corpo
33 Ninguém acende uma lâmpada para escondê-la, mas coloca-a num candeeiro, para que aqueles que entrarem em casa vejam a luz. 34 Os olhos são a luz do teu corpo. Se forem puros, o teu corpo terá luz. Se forem maus, haverá escuridão. 35 Vigiem, pois, para que nada impeça a luz de brilhar em vocês. 36 Se estiverem cheios de luz interior, sem recantos escuros, então também todo o vosso íntimo ficará na luz como se o clarão duma lâmpada vos iluminasse.”
Jesus denuncia os fariseus e os especialistas na Lei
(Mt 23.1-36)
37 Enquanto falava, um fariseu pediu-lhe que fosse comer a sua casa. Quando Jesus chegou, acomodou-se para a refeição. 38 Mas o fariseu surpreendeu-se que eles não cumprissem o ritual da lavagem das mãos. 39 Mas o Senhor disse-lhe: “Ora, vocês, fariseus, lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estão cheios de roubo e maldade. 40 Loucos! Não foi Deus que fez tanto o interior como o exterior? 41 Uma forma de mostrar pureza é exercer generosidade para com os pobres.
42 Mas ai de vocês, fariseus! Porque, embora tenham o cuidado de dar a Deus o dízimo da hortelã, da arruda e de todos os vegetais, esquecem por completo a justiça e o amor de Deus. Vocês devem praticar o dízimo, sim, mas sem pôr de parte as coisas mais importantes.
43 Como vos lamento, fariseus! Amam tanto os assentos presidenciais nas sinagogas e as saudações que vos dirigem nas praças! 44 Ai de vocês, porque são como as sepulturas escondidas: as pessoas caminham por cima delas sem o saberem.”
45 “Mestre”, observou um especialista na Lei que se encontrava ali, “insultaste também a minha atividade com o que acabaste de dizer.”
46 “Sim”, replicou-lhe Jesus, “Ai de vocês, peritos na Lei, porque sobrecarregam as pessoas com fardos insuportáveis em que vocês próprios nem sequer com um só dos vossos dedos estão dispostos a tocar! 47 Ai de vocês, pois levantam monumentos aos profetas que os vossos pais mataram. 48 Vocês próprios são testemunhas de como concordam com eles, porque levantam os túmulos dos mesmos profetas que os nossos pais mataram. 49 Isto é o que Deus diz na sua sabedoria: ‘Mandar-vos-ei profetas e apóstolos, mas vocês matarão alguns deles, a outros expulsá-los-ão.’
50 Esta geração será considerada responsável pelo assassínio dos profetas desde a fundação do mundo; 51 desde o assassínio de Abel ao de Zacarias, que foi morto no templo, entre o altar e o santuário. Sim, digo-vos que serão pedidas contas a esta geração.
52 Ai de vocês, que são tidos como peritos na Lei! Esconderam do povo a chave do conhecimento e não entram nem deixam entrar os outros.”
53 Os especialistas na Lei e os fariseus ficaram furiosos. A partir dali atacavam-no ferozmente com toda a espécie de perguntas. 54 E tentavam fazê-lo tropeçar e dizer algo que servisse para o mandarem prender.
Avisos contra o fingimento
(Mt 10.26-27)
12 Entretanto, a multidão crescia até haver milhares de pessoas que se atropelavam. Voltando-se primeiro para os discípulos, avisou-os: “Tenham cuidado com o fermento dos fariseus, que é a sua hipocrisia. 2 Porém, não há nada escondido que não venha a revelar-se, nem nada oculto que não venha a ser conhecido. 3 Tudo o que disserem nas trevas será escutado à luz e o que segredarem ao ouvido num quarto será proclamado pelos telhados!
A quem devemos temer
(Mt 10.28-33)
4 Meus amigos, não temam os que podem matar-vos o corpo, mas que não têm para vos fazer mais do que isso. 5 Dir-vos-ei quem devem temer: temam Deus, que tem autoridade para matar e lançar no inferno. Sim, é a ele que devem temer.
6 Não se vendem cinco pardais por duas moedinhas? E nem um só deles passará despercebido aos olhos de Deus. 7 Os próprios cabelos da vossa cabeça estão contados. Portanto, não se preocupem! Para ele, vocês valem mais do que muitos pardais juntos.
Confessar Jesus perante as pessoas
(Mt 12.31-32; Mc 3.28-29)
8 E garanto-vos: quem me reconhecer diante dos homens, também o Filho do Homem o reconhecerá diante dos anjos de Deus. 9 Porém, quem me negar na presença dos homens, também eu o negarei na presença dos anjos de Deus. 10 Até o dizer mal do Filho do Homem pode ser perdoado, mas nunca quem falar mal do Espírito Santo.
11 E quando forem levados às sinagogas, aos governantes e autoridades, não se preocupem com a vossa defesa ou com o que vão dizer, 12 porque o Espírito Santo vos ensinará naquele momento as palavras a dizer.”
A parábola do homem rico
13 Foi então que alguém exclamou do meio da multidão: “Senhor, peço-te que digas ao meu irmão que reparta comigo a herança do meu pai!” Jesus respondeu:
14 “Não sou juiz para decidir sobre essas questões legais entre vocês. 15 A questão de fundo é que não se deixem dominar pela avareza. Porque a vida verdadeira não está garantida pelos bens que cada um possa ter.”
16 E contou-lhe uma parábola: “Certo homem rico possuía uma propriedade fértil que dava boas colheitas. 17 Os seus celeiros transbordavam e não podia guardar tudo lá dentro. O homem pôs-se a pensar no problema. 18 Por fim, concluiu: ‘Já sei, vou deitar abaixo os celeiros e construir outros maiores. 19 Assim terei espaço suficiente. Depois direi comigo mesmo: “Amigo, armazenaste o bastante para os anos futuros. Agora, repousa e come, bebe e diverte-te!” ’
20 Mas Deus disse-lhe: ‘Louco! Esta noite vais morrer e para quem fica tudo isso?’
21 Sim, louco é quem acumula riquezas na Terra, mas não é rico em relação a Deus.”
Não se preocupem
(Mt 6.25-34)
22 E voltando-se para os discípulos: “Portanto, aconselho-vos que não se preocupem com o ter ou não comida suficiente e roupa para vestir. 23 Porque a vida é muito mais do que o comer ou o vestir. 24 Olhem os corvos que não plantam, não colhem, não têm celeiros para armazenar alimento, e mesmo assim vivem, porque é Deus quem os sustenta. E vocês valem muito mais do que as aves! 25 As vossas preocupações poderão porventura acrescentar um só momento ao tempo da vossa vida? 26 Claro que não! E se a preocupação não ajuda nem sequer a realizar coisas pequenas, qual é a vantagem de nos preocuparmos com coisas maiores?
27 Olhem os lírios do campo, que não trabalham nem tecem! E contudo nem Salomão em toda a sua glória se vestiu tão bem como eles. 28 E se Deus veste a erva do campo, que hoje é viçosa e amanhã é lançada no fogo, não acham que vos dará também o necessário, almas com tão pouca fé? 29 E não se preocupem com o que comer e o que beber; que isso não vos cause ansiedade. 30 Os gentios é que se afadigam com estas coisas, mas o vosso Pai sabe perfeitamente que precisam delas. 31 Deem pois prioridade ao seu reino e ele dar-vos-á estas coisas.
32 Portanto, não tenhas medo, pequeno rebanho, porque o vosso Pai se alegra em dar-vos o reino.
33 Vendam o que têm e deem aos que estão em necessidade. Preparem bolsas que não envelhecem e nos céus um tesouro inesgotável, onde o ladrão não o alcança nem a traça o corrói. 34 Pois onde estiver o vosso tesouro ali estará também o vosso coração.
Sejam vigilantes
(Mt 24.43-51; 25.1-13; Mc 13.33-37)
35 Estejam preparados, com os vossos lombos cingidos e as vossas candeias acesas, 36 como se esperassem o vosso Senhor regressando da festa de casamento. Assim, estarão preparados para lhe abrir a porta e deixá-lo entrar quando chegar e bater. 37 Felizes os servos que estiverem vigiando assim. É realmente como vos digo: ele mesmo os sentará à mesa e os servirá!
38 Poderá vir às nove da noite ou talvez à meia-noite. Porém, seja qual for a hora, felizes os que estiverem prontos. 39 Saibam isto: se o senhor da casa soubesse exatamente quando o ladrão vem, ficaria de vigilância e não deixaria que a casa fosse arrombada. 40 Também vocês devem estar prontos em todo o tempo, porque o Filho do Homem virá quando menos o esperarem.”
41 Pedro perguntou: “Senhor, essa parábola que contas é só para nós ou é também para toda a gente?”
42 O Senhor respondeu: “Quem é o gerente fiel e sensato, a quem o seu senhor confiará a responsabilidade sobre os empregados, para lhes dar o sustento à hora certa? 43 Feliz é o servo cujo senhor, no seu regresso, encontrar a fazer um bom trabalho. 44 É realmente como vos digo: tal servo o senhor porá sobre tudo o que tem. 45 Mas se esse servo disser consigo próprio: ‘O meu senhor não voltará tão cedo’, e começar a maltratar os servos e as servas, e a fazer uma vida de comezainas e bebedeiras, 46 o seu senhor, ao voltar sem aviso, num dia e numa hora em que não é esperado, castigá-lo-á severamente e dar-lhe-á a condenação reservada aos infiéis. 47 Será severamente castigado por se recusar a cumprir a sua obrigação, ainda que sabendo bem qual era. 48 Mas aquele que por desconhecimento não se apercebe do seu mau comportamento será castigado com maior brandura. A quem muito se dá muito se exige, pois a sua responsabilidade é maior; e a quem muito foi confiado muito mais se lhe pede.
Não paz mas divisões
(Mt 10.34-36)
49 Vim trazer fogo à Terra e desejava que essa tarefa estivesse já completada! 50 Aguarda-me um batismo terrível e sinto-me bem oprimido até que chegue! 51 Julgam que vim trazer a paz à Terra? Pelo contrário, vim trazer contendas! 52 Daqui em diante as famílias se dividirão, três a meu favor, dois contra, ou o inverso. 53 O pai estará dividido contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e esta contra aquela.”
Os sinais dos tempos
(Mt 16.2-3)
54 E voltando-se para o povo, Jesus disse: “Quando veem as nuvens a formar-se no poente, sabem dizer: ‘Vem aí chuva!’, e têm razão. 55 Quando sopra o vento sul, comentam: ‘Hoje vai fazer calor!’, e assim é. 56 Que hipocrisia! Sabem interpretar os sinais da Terra e do céu, mas como não sabem interpretar os do tempo em que vivem. 57 Porque é que não veem por vós próprios o que é justo?
58 Se te encontrares com o teu adversário diante da autoridade judicial, procura resolver o conflito antes que chegue ao juiz, não vá este condenar-te à prisão. Porque, se tal acontecer, 59 ali ficarás até pagares a última moeda.”
Chamada ao arrependimento
13 Por esse tempo, contaram a Jesus que Pilatos tinha mandado matar alguns judeus da Galileia, enquanto ofereciam sacrifícios no templo em Jerusalém. 2 “Pensam, por acaso, que esses eram mais pecadores do que os outros homens da Galileia?”, perguntou-lhes. 3 “E que foi por isso que sofreram a morte? Não perceberam que também vocês se perderão se não se arrependerem? 4 E os dezoito homens que morreram quando a torre de Siloé desabou sobre eles? Terá sido porque seriam os piores pecadores que havia em Jerusalém? 5 Sem dúvida que não! Também vocês se perderão se não se arrependerem!”
6 Jesus apresentou-lhes então a seguinte parábola: “Certo homem plantou uma figueira na sua quinta e muitas vezes ia ver se tinha fruto, ficando sempre desapontado. 7 Por fim, disse ao empregado que a cortasse: ‘Há três anos que espero e não brotou um único figo! Para que me hei de ralar mais com esta figueira? O espaço que ocupa podemos nós utilizar para qualquer outra coisa.’
8 ‘Dá-lhe uma nova oportunidade’, respondeu o empregado. ‘Deixa-a ficar mais um ano que eu vou dedicar-lhe cuidados especiais e pôr-lhe adubo com abundância. 9 Se conseguirmos figos no próximo ano, tanto melhor; se não, então corto-a.’ ”
Uma aleijada é curada no sábado
10 Um sábado, estava Jesus a ensinar numa sinagoga, 11 quando viu uma mulher que andava curvada, sem se poder endireitar, havia dezoito anos, por estar possuída por um espírito maligno. 12 Jesus chamou-a para junto de si. “Mulher, estás curada da tua doença!” 13 Tocou-a e imediatamente pôde endireitar-se. E ela glorificava e agradecia a Deus.
14 Todavia, o líder da sinagoga local ficou muito zangado, porque Jesus tinha efetuado aquela cura no sábado. “Há seis dias da semana para trabalhar”, bradou ele à multidão. “Nesses dias e não no sábado é que se deve vir em busca de cura!”
15 Mas o Senhor respondeu: “És um hipócrita! Tu trabalhas ao sábado! Ao sábado não desatas o gado no estábulo e não o levas a beber? 16 E será condenável que, lá porque é sábado, eu liberte, após dezoito anos de cativeiro de Satanás, esta filha de Abraão?” 17 Isto envergonhou os seus inimigos. E todo o povo se alegrava com as maravilhas que fazia.
Ilustrações da semente de mostarda e do fermento
(Mt 13.31-32; Mc 4.30-32)
18 Começou então novamente a instruí-los acerca do reino de Deus: “Com que se parece o reino e como posso explicá-lo? 19 É como uma semente de mostarda que um homem planta na sua horta; depois cresce e transforma-se num arbusto em cujos ramos as aves do céu fazem os seus ninhos.”
20 Outra vez ele perguntou: “A que compararei o reino de Deus? 21 Pode ser comparado ao fermento que uma mulher misturou em três medidas de farinha, até toda ela levedar.”
A porta estreita
(Mt 7.13-14, 22-23; 8.11-12)
22 Jesus ia de cidade em cidade e de localidade em localidade, ensinando pelo caminho e avançando sempre para Jerusalém. 23 Alguém lhe perguntou: “É verdade que só poucos é que serão salvos?” Ele respondeu:
24 “É estreita a porta do céu. Esforcem-se por entrar, porque muitos tentarão fazê-lo. 25 Mas quando o dono da casa tiver trancado a porta, será já tarde. Se ficarem do lado de fora, ainda que batendo e suplicando: ‘Senhor, abre-nos a porta!’, ele contudo responderá: ‘Não vos conheço nem sei de onde vêm!’ 26 E dir-lhe-ão: ‘Mas nós comemos contigo e ensinaste nas nossas ruas.’ 27 Tornará a responder: ‘Não vos conheço nem sei de onde vêm. Afastem-se da minha presença, pois todos vocês são praticantes da injustiça!’
28 E haverá choro e ranger de dentes, ao verem Abraão, Isaque, Jacob e todos os profetas dentro do reino de Deus, mas vocês são lançados fora. 29 Então virá gente do Este e do Oeste, do Norte e do Sul e sentar-se-ão no reino de Deus. 30 E notem que há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que virão a ser últimos.”
Jesus em Jerusalém
(Mt 23.37-39)
31 Nesse momento, alguns fariseus disserem-lhe: “Retira-te daqui se queres continuar vivo, porque Herodes anda à tua procura!” 32 Ao que Jesus respondeu:
“Digam a essa raposa que continuarei a expulsar demónios e a operar curas milagrosas hoje e amanhã; e no terceiro dia chegarei ao meu destino. 33 Sim, hoje, amanhã e depois de amanhã devo prosseguir o meu caminho! Porque não ficaria bem a um profeta de Deus ser morto noutro local que não em Jerusalém!
Footnotes
- 10.27 Dt 6.5; Lv 19.18.
- 11.15 Belzebu. Nome habitualmente designativo de Satanás, príncipe dos demónios. Na origem, era uma expressão honorífica para designar Baal, a divindade suprema cananeia (Baal-Zebul), e que significaria Baal ou Senhor Príncipe. Os Hebreus alteraram o nome, por meio de um jogo paronímico, para Beel-Zebub(Senhor das Moscas), uma referência sarcástica aos deuses de outros povos.
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