Lucas 11-17
O Livro
Jesus ensina sobre oração
(Mt 6.9-13; 7.7-11)
11 Numa ocasião em que Jesus se tinha retirado para orar, um dos discípulos, quando ele terminou, disse-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como João fez com os seus discípulos.”
2 Foi assim que Jesus os ensinou a orar:
“Pai, que o teu santo nome seja honrado.
Venha o teu reino.
3 Dá-nos o pão para o nosso alimento diário.
4 Perdoa-nos os nossos pecados,
pois nós próprios perdoamos os que nos ofendem.
E não deixes que caiamos em tentação.”
5 Ensinou-lhes mais: “Quem dentre vocês pode imaginar uma situação como a que vos vou contar? Alguém vai a casa de um amigo à meia-noite e diz-lhe: ‘Amigo, cede-me três pães, 6 pois acaba de chegar um amigo e não tenho nada para lhe dar a comer.’ 7 Não responderia ele lá de dentro: ‘Não me incomodes agora. A porta da rua já está trancada e eu e os meus filhos já estamos deitados. Não posso levantar-me para te valer!’? 8 Digo-vos que ele acabará por levantar-se e dar o que o outro quiser, embora não o faça por amizade, mas por causa do incómodo.
9 O mesmo se passa com a oração: Peçam e receberão o que pedirem. Procurem que hão de achar. Batam que a porta há de abrir-se. 10 Porque todo aquele que pede recebe. Quem procura acha. Se baterem, a porta abrir-se-á.
11 Quem de entre vocês que seja pai, se o seu filho lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente em vez do peixe? 12 Se pedir um ovo, dão-lhe um escorpião? 13 Se vocês, que são pecadores, sabem dar coisas boas aos vossos filhos, porventura não dará muito mais o vosso Pai, que está nos céus, o Espírito Santo àqueles que lho pedirem!”
Jesus e Satanás
(Mt 12.22-30, 43-45; Mc 3.22-27)
14 Certa vez, estava Jesus a expulsar de um homem um demónio que era mudo. Depois de o demónio ter saído, o mudo recuperou a fala e as multidões ficaram maravilhadas. 15 Mas houve entre eles quem dissesse: “Expulsa os demónios pelo poder de Belzebu[a], líder dos demónios.” 16 Outros, para o porem à prova, pediram-lhe que fizesse um sinal do céu.
17 Jesus, conhecendo os seus pensamentos, respondeu: “Todo o reino dividido fica deserto. E uma casa dividida contra si mesma desabará. 18 Ora, se Satanás está dividido contra si próprio, como subsistirá o seu reino? Pois vocês dizem que expulso os demónios pelo poder de Belzebu. 19 E se expulso os demónios pelo poder de Belzebu, a que poder recorrem os vossos, quando fazem o mesmo? Por esta razão, eles serão os vossos juízes! 20 Mas, se expulso os demónios pelo dedo de Deus, então é porque o reino de Deus já está no vosso meio. 21 Pois quando o homem forte e bem armado guarda a sua casa o seu domínio está seguro, 22 até que alguém ainda mais forte o ataque e derrote, lhe tire as armas em que confiava e leve os seus bens.
23 Quem não é por mim é contra mim; quem não ajunta comigo espalha.
24 Quando um espírito impuro é expulso de um homem, vai para lugares áridos, procurando onde ficar; não encontrando lugar, diz: ‘Vou voltar para a morada que deixei.’ 25 E descobre que a sua antiga morada está varrida e arranjada. 26 Então, o demónio vai buscar outros sete espíritos, ainda piores do que ele próprio, e todos entram na tal pessoa para morar dentro dela. E deste modo fica pior do que antes.”
27 Enquanto falava, uma mulher de entre a multidão gritou: “Bendita seja a tua mãe, o ventre de que nasceste e o peito que te deu leite!”
28 Ao que ele respondeu: “Benditos são antes todos aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática!”
O sinal de Jonas
(Mt 12.38-42)
29 Jesus expôs os seguintes ensinamentos: “Esta geração é uma má geração; pede um sinal, mas não receberá nenhum, a não ser o de Jonas! 30 Pois como Jonas foi um sinal de Deus para o povo de Nínive, assim também o Filho do Homem o será para esta geração.
31 No dia do juízo dos homens a rainha de Sabá há de levantar-se e condenar esta geração, porque fez uma viagem longa e difícil para escutar a sabedoria de Salomão. Mas aqui está quem é superior a Salomão. 32 Também os homens de Nínive se levantarão para condenar esta geração, porque se arrependeram ao ouvir a pregação de Jonas. E agora está aqui alguém que é superior a Jonas.
A luz do corpo
33 Ninguém acende uma lâmpada para escondê-la, mas coloca-a num candeeiro, para que aqueles que entrarem em casa vejam a luz. 34 Os olhos são a luz do teu corpo. Se forem puros, o teu corpo terá luz. Se forem maus, haverá escuridão. 35 Vigiem, pois, para que nada impeça a luz de brilhar em vocês. 36 Se estiverem cheios de luz interior, sem recantos escuros, então também todo o vosso íntimo ficará na luz como se o clarão duma lâmpada vos iluminasse.”
Jesus denuncia os fariseus e os especialistas na Lei
(Mt 23.1-36)
37 Enquanto falava, um fariseu pediu-lhe que fosse comer a sua casa. Quando Jesus chegou, acomodou-se para a refeição. 38 Mas o fariseu surpreendeu-se que eles não cumprissem o ritual da lavagem das mãos. 39 Mas o Senhor disse-lhe: “Ora, vocês, fariseus, lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estão cheios de roubo e maldade. 40 Loucos! Não foi Deus que fez tanto o interior como o exterior? 41 Uma forma de mostrar pureza é exercer generosidade para com os pobres.
42 Mas ai de vocês, fariseus! Porque, embora tenham o cuidado de dar a Deus o dízimo da hortelã, da arruda e de todos os vegetais, esquecem por completo a justiça e o amor de Deus. Vocês devem praticar o dízimo, sim, mas sem pôr de parte as coisas mais importantes.
43 Como vos lamento, fariseus! Amam tanto os assentos presidenciais nas sinagogas e as saudações que vos dirigem nas praças! 44 Ai de vocês, porque são como as sepulturas escondidas: as pessoas caminham por cima delas sem o saberem.”
45 “Mestre”, observou um especialista na Lei que se encontrava ali, “insultaste também a minha atividade com o que acabaste de dizer.”
46 “Sim”, replicou-lhe Jesus, “Ai de vocês, peritos na Lei, porque sobrecarregam as pessoas com fardos insuportáveis em que vocês próprios nem sequer com um só dos vossos dedos estão dispostos a tocar! 47 Ai de vocês, pois levantam monumentos aos profetas que os vossos pais mataram. 48 Vocês próprios são testemunhas de como concordam com eles, porque levantam os túmulos dos mesmos profetas que os nossos pais mataram. 49 Isto é o que Deus diz na sua sabedoria: ‘Mandar-vos-ei profetas e apóstolos, mas vocês matarão alguns deles, a outros expulsá-los-ão.’
50 Esta geração será considerada responsável pelo assassínio dos profetas desde a fundação do mundo; 51 desde o assassínio de Abel ao de Zacarias, que foi morto no templo, entre o altar e o santuário. Sim, digo-vos que serão pedidas contas a esta geração.
52 Ai de vocês, que são tidos como peritos na Lei! Esconderam do povo a chave do conhecimento e não entram nem deixam entrar os outros.”
53 Os especialistas na Lei e os fariseus ficaram furiosos. A partir dali atacavam-no ferozmente com toda a espécie de perguntas. 54 E tentavam fazê-lo tropeçar e dizer algo que servisse para o mandarem prender.
Avisos contra o fingimento
(Mt 10.26-27)
12 Entretanto, a multidão crescia até haver milhares de pessoas que se atropelavam. Voltando-se primeiro para os discípulos, avisou-os: “Tenham cuidado com o fermento dos fariseus, que é a sua hipocrisia. 2 Porém, não há nada escondido que não venha a revelar-se, nem nada oculto que não venha a ser conhecido. 3 Tudo o que disserem nas trevas será escutado à luz e o que segredarem ao ouvido num quarto será proclamado pelos telhados!
A quem devemos temer
(Mt 10.28-33)
4 Meus amigos, não temam os que podem matar-vos o corpo, mas que não têm para vos fazer mais do que isso. 5 Dir-vos-ei quem devem temer: temam Deus, que tem autoridade para matar e lançar no inferno. Sim, é a ele que devem temer.
6 Não se vendem cinco pardais por duas moedinhas? E nem um só deles passará despercebido aos olhos de Deus. 7 Os próprios cabelos da vossa cabeça estão contados. Portanto, não se preocupem! Para ele, vocês valem mais do que muitos pardais juntos.
Confessar Jesus perante as pessoas
(Mt 12.31-32; Mc 3.28-29)
8 E garanto-vos: quem me reconhecer diante dos homens, também o Filho do Homem o reconhecerá diante dos anjos de Deus. 9 Porém, quem me negar na presença dos homens, também eu o negarei na presença dos anjos de Deus. 10 Até o dizer mal do Filho do Homem pode ser perdoado, mas nunca quem falar mal do Espírito Santo.
11 E quando forem levados às sinagogas, aos governantes e autoridades, não se preocupem com a vossa defesa ou com o que vão dizer, 12 porque o Espírito Santo vos ensinará naquele momento as palavras a dizer.”
A parábola do homem rico
13 Foi então que alguém exclamou do meio da multidão: “Senhor, peço-te que digas ao meu irmão que reparta comigo a herança do meu pai!” Jesus respondeu:
14 “Não sou juiz para decidir sobre essas questões legais entre vocês. 15 A questão de fundo é que não se deixem dominar pela avareza. Porque a vida verdadeira não está garantida pelos bens que cada um possa ter.”
16 E contou-lhe uma parábola: “Certo homem rico possuía uma propriedade fértil que dava boas colheitas. 17 Os seus celeiros transbordavam e não podia guardar tudo lá dentro. O homem pôs-se a pensar no problema. 18 Por fim, concluiu: ‘Já sei, vou deitar abaixo os celeiros e construir outros maiores. 19 Assim terei espaço suficiente. Depois direi comigo mesmo: “Amigo, armazenaste o bastante para os anos futuros. Agora, repousa e come, bebe e diverte-te!” ’
20 Mas Deus disse-lhe: ‘Louco! Esta noite vais morrer e para quem fica tudo isso?’
21 Sim, louco é quem acumula riquezas na Terra, mas não é rico em relação a Deus.”
Não se preocupem
(Mt 6.25-34)
22 E voltando-se para os discípulos: “Portanto, aconselho-vos que não se preocupem com o ter ou não comida suficiente e roupa para vestir. 23 Porque a vida é muito mais do que o comer ou o vestir. 24 Olhem os corvos que não plantam, não colhem, não têm celeiros para armazenar alimento, e mesmo assim vivem, porque é Deus quem os sustenta. E vocês valem muito mais do que as aves! 25 As vossas preocupações poderão porventura acrescentar um só momento ao tempo da vossa vida? 26 Claro que não! E se a preocupação não ajuda nem sequer a realizar coisas pequenas, qual é a vantagem de nos preocuparmos com coisas maiores?
27 Olhem os lírios do campo, que não trabalham nem tecem! E contudo nem Salomão em toda a sua glória se vestiu tão bem como eles. 28 E se Deus veste a erva do campo, que hoje é viçosa e amanhã é lançada no fogo, não acham que vos dará também o necessário, almas com tão pouca fé? 29 E não se preocupem com o que comer e o que beber; que isso não vos cause ansiedade. 30 Os gentios é que se afadigam com estas coisas, mas o vosso Pai sabe perfeitamente que precisam delas. 31 Deem pois prioridade ao seu reino e ele dar-vos-á estas coisas.
32 Portanto, não tenhas medo, pequeno rebanho, porque o vosso Pai se alegra em dar-vos o reino.
33 Vendam o que têm e deem aos que estão em necessidade. Preparem bolsas que não envelhecem e nos céus um tesouro inesgotável, onde o ladrão não o alcança nem a traça o corrói. 34 Pois onde estiver o vosso tesouro ali estará também o vosso coração.
Sejam vigilantes
(Mt 24.43-51; 25.1-13; Mc 13.33-37)
35 Estejam preparados, com os vossos lombos cingidos e as vossas candeias acesas, 36 como se esperassem o vosso Senhor regressando da festa de casamento. Assim, estarão preparados para lhe abrir a porta e deixá-lo entrar quando chegar e bater. 37 Felizes os servos que estiverem vigiando assim. É realmente como vos digo: ele mesmo os sentará à mesa e os servirá!
38 Poderá vir às nove da noite ou talvez à meia-noite. Porém, seja qual for a hora, felizes os que estiverem prontos. 39 Saibam isto: se o senhor da casa soubesse exatamente quando o ladrão vem, ficaria de vigilância e não deixaria que a casa fosse arrombada. 40 Também vocês devem estar prontos em todo o tempo, porque o Filho do Homem virá quando menos o esperarem.”
41 Pedro perguntou: “Senhor, essa parábola que contas é só para nós ou é também para toda a gente?”
42 O Senhor respondeu: “Quem é o gerente fiel e sensato, a quem o seu senhor confiará a responsabilidade sobre os empregados, para lhes dar o sustento à hora certa? 43 Feliz é o servo cujo senhor, no seu regresso, encontrar a fazer um bom trabalho. 44 É realmente como vos digo: tal servo o senhor porá sobre tudo o que tem. 45 Mas se esse servo disser consigo próprio: ‘O meu senhor não voltará tão cedo’, e começar a maltratar os servos e as servas, e a fazer uma vida de comezainas e bebedeiras, 46 o seu senhor, ao voltar sem aviso, num dia e numa hora em que não é esperado, castigá-lo-á severamente e dar-lhe-á a condenação reservada aos infiéis. 47 Será severamente castigado por se recusar a cumprir a sua obrigação, ainda que sabendo bem qual era. 48 Mas aquele que por desconhecimento não se apercebe do seu mau comportamento será castigado com maior brandura. A quem muito se dá muito se exige, pois a sua responsabilidade é maior; e a quem muito foi confiado muito mais se lhe pede.
Não paz mas divisões
(Mt 10.34-36)
49 Vim trazer fogo à Terra e desejava que essa tarefa estivesse já completada! 50 Aguarda-me um batismo terrível e sinto-me bem oprimido até que chegue! 51 Julgam que vim trazer a paz à Terra? Pelo contrário, vim trazer contendas! 52 Daqui em diante as famílias se dividirão, três a meu favor, dois contra, ou o inverso. 53 O pai estará dividido contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e esta contra aquela.”
Os sinais dos tempos
(Mt 16.2-3)
54 E voltando-se para o povo, Jesus disse: “Quando veem as nuvens a formar-se no poente, sabem dizer: ‘Vem aí chuva!’, e têm razão. 55 Quando sopra o vento sul, comentam: ‘Hoje vai fazer calor!’, e assim é. 56 Que hipocrisia! Sabem interpretar os sinais da Terra e do céu, mas como não sabem interpretar os do tempo em que vivem. 57 Porque é que não veem por vós próprios o que é justo?
58 Se te encontrares com o teu adversário diante da autoridade judicial, procura resolver o conflito antes que chegue ao juiz, não vá este condenar-te à prisão. Porque, se tal acontecer, 59 ali ficarás até pagares a última moeda.”
Chamada ao arrependimento
13 Por esse tempo, contaram a Jesus que Pilatos tinha mandado matar alguns judeus da Galileia, enquanto ofereciam sacrifícios no templo em Jerusalém. 2 “Pensam, por acaso, que esses eram mais pecadores do que os outros homens da Galileia?”, perguntou-lhes. 3 “E que foi por isso que sofreram a morte? Não perceberam que também vocês se perderão se não se arrependerem? 4 E os dezoito homens que morreram quando a torre de Siloé desabou sobre eles? Terá sido porque seriam os piores pecadores que havia em Jerusalém? 5 Sem dúvida que não! Também vocês se perderão se não se arrependerem!”
6 Jesus apresentou-lhes então a seguinte parábola: “Certo homem plantou uma figueira na sua quinta e muitas vezes ia ver se tinha fruto, ficando sempre desapontado. 7 Por fim, disse ao empregado que a cortasse: ‘Há três anos que espero e não brotou um único figo! Para que me hei de ralar mais com esta figueira? O espaço que ocupa podemos nós utilizar para qualquer outra coisa.’
8 ‘Dá-lhe uma nova oportunidade’, respondeu o empregado. ‘Deixa-a ficar mais um ano que eu vou dedicar-lhe cuidados especiais e pôr-lhe adubo com abundância. 9 Se conseguirmos figos no próximo ano, tanto melhor; se não, então corto-a.’ ”
Uma aleijada é curada no sábado
10 Um sábado, estava Jesus a ensinar numa sinagoga, 11 quando viu uma mulher que andava curvada, sem se poder endireitar, havia dezoito anos, por estar possuída por um espírito maligno. 12 Jesus chamou-a para junto de si. “Mulher, estás curada da tua doença!” 13 Tocou-a e imediatamente pôde endireitar-se. E ela glorificava e agradecia a Deus.
14 Todavia, o líder da sinagoga local ficou muito zangado, porque Jesus tinha efetuado aquela cura no sábado. “Há seis dias da semana para trabalhar”, bradou ele à multidão. “Nesses dias e não no sábado é que se deve vir em busca de cura!”
15 Mas o Senhor respondeu: “És um hipócrita! Tu trabalhas ao sábado! Ao sábado não desatas o gado no estábulo e não o levas a beber? 16 E será condenável que, lá porque é sábado, eu liberte, após dezoito anos de cativeiro de Satanás, esta filha de Abraão?” 17 Isto envergonhou os seus inimigos. E todo o povo se alegrava com as maravilhas que fazia.
Ilustrações da semente de mostarda e do fermento
(Mt 13.31-32; Mc 4.30-32)
18 Começou então novamente a instruí-los acerca do reino de Deus: “Com que se parece o reino e como posso explicá-lo? 19 É como uma semente de mostarda que um homem planta na sua horta; depois cresce e transforma-se num arbusto em cujos ramos as aves do céu fazem os seus ninhos.”
20 Outra vez ele perguntou: “A que compararei o reino de Deus? 21 Pode ser comparado ao fermento que uma mulher misturou em três medidas de farinha, até toda ela levedar.”
A porta estreita
(Mt 7.13-14, 22-23; 8.11-12)
22 Jesus ia de cidade em cidade e de localidade em localidade, ensinando pelo caminho e avançando sempre para Jerusalém. 23 Alguém lhe perguntou: “É verdade que só poucos é que serão salvos?” Ele respondeu:
24 “É estreita a porta do céu. Esforcem-se por entrar, porque muitos tentarão fazê-lo. 25 Mas quando o dono da casa tiver trancado a porta, será já tarde. Se ficarem do lado de fora, ainda que batendo e suplicando: ‘Senhor, abre-nos a porta!’, ele contudo responderá: ‘Não vos conheço nem sei de onde vêm!’ 26 E dir-lhe-ão: ‘Mas nós comemos contigo e ensinaste nas nossas ruas.’ 27 Tornará a responder: ‘Não vos conheço nem sei de onde vêm. Afastem-se da minha presença, pois todos vocês são praticantes da injustiça!’
28 E haverá choro e ranger de dentes, ao verem Abraão, Isaque, Jacob e todos os profetas dentro do reino de Deus, mas vocês são lançados fora. 29 Então virá gente do Este e do Oeste, do Norte e do Sul e sentar-se-ão no reino de Deus. 30 E notem que há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que virão a ser últimos.”
Jesus em Jerusalém
(Mt 23.37-39)
31 Nesse momento, alguns fariseus disserem-lhe: “Retira-te daqui se queres continuar vivo, porque Herodes anda à tua procura!” 32 Ao que Jesus respondeu:
“Digam a essa raposa que continuarei a expulsar demónios e a operar curas milagrosas hoje e amanhã; e no terceiro dia chegarei ao meu destino. 33 Sim, hoje, amanhã e depois de amanhã devo prosseguir o meu caminho! Porque não ficaria bem a um profeta de Deus ser morto noutro local que não em Jerusalém!
Jesus tem pena de Jerusalém
34 Jerusalém, Jerusalém, cidade que mata os profetas de Deus e apedreja todos aqueles que ele lhe envia! Quantas vezes quis juntar os teus filhos como uma galinha junta os pintainhos debaixo das asas, mas vocês não me deixaram. 35 Agora a vossa casa fica ao abandono. Lembrem-se do que vos digo: nunca mais me tornarão a ver senão quando disserem, ‘bendito aquele que vem em nome do Senhor!’ ”[b]
Jesus na casa de um fariseu
14 Jesus foi comer a casa de um dos líderes dos fariseus num certo sábado; e eles vigiavam-no, 2 para ver se curaria um dos presentes, que sofria de uma doença que o fazia inchar. 3 Então Jesus dirigiu-se aos fariseus e especialistas na Lei que se achavam em volta: “A Lei permite ou não curar um homem num dia de sábado?” 4 E visto que se recusavam a responder, Jesus, tomando o doente pela mão, curou-o e mandou-o embora. 5 Depois, voltando-se para eles disse: “Qual de vocês, que tivesse um filho ou um boi, e se este caísse num poço, não iria logo tirá-lo, num dia de sábado?” 6 Uma vez mais, não encontraram resposta que lhe dessem.
7 Quando reparou que todos os convidados procuravam o lugar de honra, perto do topo da mesa, contou-lhes a seguinte parábola: 8 “Se fores convidado para uma festa de casamento, não procures ocupar o melhor lugar, pois, se aparecer alguém de posição superior à tua, 9 o dono da casa levá-lo-á para o sítio onde te encontras sentado e dir-te-á: ‘Deixa que esta pessoa se sente no lugar em que estavas.’ E tu ficarás humilhado e terás de aceitar qualquer lugar que reste, ao fundo da mesa.
10 Em vez disso, começa pelo fim. E quando aquele que te convidou te vir, dirá: ‘Amigo, temos para ti um lugar melhor do que esse!’ E assim serás honrado perante todos os outros convidados! 11 Porque todo aquele que procura elevar-se será humilhado e todo aquele que se humilhar a si mesmo será elevado.”
12 Voltou-se então para o seu hospedeiro: “Quando ofereceres um jantar, não convides amigos, irmãos, parentes e vizinhos ricos, porque esses retribuirão o convite. 13 Em vez disso, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. 14 Na ressurreição dos justos Deus recompensar-te-á por teres convidado aqueles que não podem retribuir-te.”
15 Ouvindo isto, alguém que estava à mesa com Jesus exclamou: “Feliz aquele que tiver o privilégio de cear no reino de Deus!” Ao que Jesus respondeu com a seguinte parábola:
A parábola da grande festa
(Mt 22.1-14)
16 “Um homem preparou uma grande festa e enviou muitos convites. 17 Chegada a hora do banquete, mandou o seu servo dizer aos convidados: ‘Venham, pois já está pronto.’ 18 Todos, porém, começaram com desculpas: um porque acabara de comprar um campo e queria vê-lo, pedindo, portanto, que dispensasse a sua presença. 19 Outro porque tinha acabado de comprar cinco juntas de bois e queria experimentá-los. 20 Outro ainda, porque acabara de casar-se, não podia ir.
21 O servo voltou e transmitiu ao seu senhor as respostas. Este, indignado, disse ao seu servo que fosse depressa pelas ruas e becos da cidade e convidasse os mendigos, paralíticos, coxos e cegos. 22 Ele foi e, mesmo assim, ainda havia lugar. 23 Então disse o senhor ao servo: ‘Vai por aí fora, pelos caminhos e por todos esses lugares; insiste para que venham, de modo que a casa fique cheia. 24 Quanto aos que primeiro convidei, ninguém provará dos manjares que eu tinha preparado!’ ”
O custo de ser discípulo
(Mt 10.37-38; 5.13; Mc 9.50)
25 Grandes multidões seguiam Jesus, que lhes falou assim: 26 “Todo aquele que quiser ser meu seguidor e não odiar[c] o seu próprio pai, mãe, esposa, filhos, irmãos ou irmãs e a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não carregar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo.
28 Contudo, não deve começar a seguir-me enquanto não tiver pensado no custo que isso implica. Pois quem começaria a construir um edifício sem primeiro fazer cálculos e verificar se tem dinheiro suficiente para pagar as contas? 29 De outro modo, arriscar-se-ia a só poder lançar os alicerces, por se terem esgotado os recursos. 30 E então toda a gente troçaria dele! ‘Veem aquele homem?’, diriam então em tom de zombaria. ‘Começou uma casa e ficou sem dinheiro antes de a terminar!’
31 E qual é o rei que se dispõe a iniciar uma guerra sem primeiro consultar os seus conselheiros e verificar se com 10 000 homens terá força suficiente para derrotar os 20 000 que marcham contra ele? 32 E se vir que não, enquanto as tropas inimigas ainda vêm longe, enviará uma comissão de tréguas para discutir as condições de paz. 33 Semelhantemente, ninguém pode tornar-se meu discípulo sem ter primeiro calculado bem o que isso representa, e sem ter renunciado a tudo por amor a mim.
34 O sal é bom para temperar, mas se perder o sabor como pode tornar-se outra vez salgado? 35 O sal sem sabor não presta para nada, nem mesmo para adubo. É lançado fora. Quem tem ouvidos, ouça!”
A parábola da ovelha perdida
(Mt 18.12-14)
15 Muitas vezes vinham cobradores de impostos, e outras pessoas de conduta reprovável, para ouvirem Jesus. 2 Isto, porém, dava origem a queixas por parte dos fariseus e especialistas na Lei, por se misturar com gente condenável, chegando até a comer com eles! 3 Jesus então recorreu à seguinte parábola:
4 “Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se perder, não deixará as outras noventa e nove no deserto para ir em busca da que se perdeu, até a encontrar? 5 E ao encontrá-la, carregá-la-á, com alegria, aos ombros. 6 Quando chegar, reunirá amigos e vizinhos para se regozijarem com eles, por a sua ovelha perdida ter sido achada. 7 É realmente como vos digo: haverá mais alegria no céu por causa de um pecador perdido que se arrependeu do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento!
A moeda perdida
8 Ou ainda: Uma mulher, por exemplo, tem dez moedas valiosas e perde uma delas em casa. Porventura não acenderá uma luz e não procurará por toda a parte, varrendo cada recanto até a achar? 9 E depois de encontrá-la não chamará as amigas e vizinhas para que se regozijem com ela? 10 Assim também há alegria entre os anjos de Deus quando um pecador se arrepende.”
O filho perdido
11 E contou-lhes o seguinte: “Certo homem tinha dois filhos. 12 O mais novo disse ao pai: ‘Dá-me agora a minha parte da herança a que tenho direito!’ O pai concordou então em dividir a fortuna entre os filhos.
13 Poucos dias depois, este filho, já na posse de tudo o que lhe pertencia, partiu para uma terra distante, onde desperdiçou o dinheiro em pândegas e na má vida. 14 Ao mesmo tempo que o dinheiro se acabava, a terra foi assolada por uma grande fome e ele começou a passar privações. 15 Foi então ter com um lavrador que o contratou para lhe tomar conta dos porcos. 16 O jovem sentia tanta fome que até as bolotas que dava aos porcos lhe apetecia comer. Mas nem isso lhe davam.
17 Quando, por fim, caiu em si, disse consigo mesmo: ‘Na casa de meu pai, até os trabalhadores têm comida em abundância e eu estou aqui a morrer de fome! 18 Vou voltar para o meu pai e dizer-lhe: “Pai, pequei contra o céu e contra ti, 19 e já nem mereço ser chamado teu filho. Peço-te que me contrates como trabalhador.” ’
20 Pôs-se então a caminho de casa. E ainda vinha longe, quando o seu pai, vendo-o aproximar-se, e cheio de compaixão, correu ao seu encontro, abraçou-o e beijou-o. 21 O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti e já nem mereço ser chamado teu filho.’
22 Mas o pai disse aos servos: ‘Depressa, tragam o melhor manto que houver em casa e vistam-lho; e ponham-lhe um anel no dedo e calçado novo! 23 Matem o bezerro que estamos a engordar; porque vai haver grande festa! 24 Pois este meu filho estava como morto e voltou à vida; estava perdido e tornou a ser achado!’ Com isto começou o banquete.
25 Entretanto, o filho mais velho, que estava no campo a trabalhar, ao voltar para casa ouviu a música da festa e das danças. 26 E perguntou a um dos criados o que se passava. 27 ‘Foi o teu irmão que voltou’, respondeu-lhe. ‘O teu pai matou o bezerro que estávamos a engordar e preparou uma grande festa para celebrar o regresso dele são e salvo ao lar.’
28 O filho mais velho ficou zangado e não queria entrar, mas o pai saiu e insistiu que o fizesse. 29 Ele, porém, respondeu: ‘Todos estes anos tenho trabalhado duramente para ti sem nunca me recusar a fazer fosse o que fosse que me mandasses, e em todo este tempo nunca me deste nem sequer um cabrito para que festejasse com os meus amigos. 30 Agora volta este teu filho, depois de te gastar o dinheiro na má vida, e celebras o seu regresso matando o melhor bezerro!’
31 ‘Meu querido filho, eu e tu continuamos ligados e tudo o que possuo é teu! 32 É justo, porém, festejarmos, pois o teu irmão estava como morto e tornou a viver; estava perdido e foi achado!’ ”
O negociante esperto
16 Jesus contou ainda aos discípulos: “Um homem rico contratou um feitor para lhe administrar os negócios, mas logo começou a constatar que o indivíduo era esbanjador. 2 Então o patrão chamou-o e disse-lhe: ‘Que é isto que me contam? Põe as tuas contas em ordem porque estás despedido.’
3 O feitor pensou consigo: ‘E agora? Estou liquidado. Para cavar não tenho força e de mendigar tenho vergonha. 4 Já sei como arranjar muitos amigos que cuidem de mim quando me for embora!’
5 Convocou os devedores do patrão e perguntou ao primeiro: ‘Quanto lhe deves?’
6 ‘Três mil litros de azeite.’
‘Aqui está o contrato que assinaste’, disse o administrador. ‘Rasga-o e escreve outro por metade disso.’
7 ‘E tu, quanto lhe deves?’, perguntou ao segundo.
‘35 000 litros de trigo.’
‘Vá, toma o teu compromisso e troca-o por outro de apenas 28 000 litros!’
8 O homem rico não pôde deixar de admirar a astúcia daquele homem desonesto.
As pessoas deste mundo são mais espertas nos negócios do que os crentes. 9 Por isso, digo-vos, usem a riqueza deste mundo injusto para ajudar outros e fazer amigos. Desta maneira, serão acolhidos nas habitações eternas. 10 Quem for fiel nas coisas pequenas, sê-lo-á também nas grandes; e quem for desonesto nas coisas pequenas, sê-lo-á também nas grandes. 11 Por conseguinte, se forem fiéis nas riquezas injustas, as deste mundo, quem vos confiará a verdadeira riqueza, a do céu? 12 Se não são fiéis com o dinheiro dos outros, porque vos há de ser confiado o vosso próprio?
13 Pois nenhum servo pode servir dois patrões: Deus e o dinheiro. Porque, ao desprezar um, acaba por preferir o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro.”
14 Os fariseus, que eram avarentos, ridicularizavam-no por tudo isto. 15 Então Jesus disse-lhes: “Vocês são daqueles que se justificam a si mesmos diante dos outros, mas Deus conhece o vosso coração. O que é altamente avaliado entre as pessoas é cotado de maneira inteiramente diferente por Deus.
A Lei de Moisés e as boas novas
(Mt 11.12-13; 5.18, 31-32)
16 Até João Batista começar a pregar, vigoravam a Lei de Moisés e as mensagens dos profetas. Agora as boas novas do reino de Deus são anunciadas e todos exercem força para entrar nele. 17 É mais fácil que o céu e a Terra passem do que cair um só traço da Lei.”
18 Disse ainda: “Quem se divorciar da sua mulher e se casar com outra comete adultério; e quem casar com uma mulher divorciada comete adultério também.”
O rico e Lázaro
19 “Havia um certo homem rico”, contou Jesus, “que se vestia elegantemente e vivia todos os dias no prazer e no luxo. 20 Um mendigo, chamado Lázaro, cheio de doenças, costumava estar deitado à sua porta. 21 Desejava comer ao menos as sobras da mesa desse rico, mas só tinha cachorros que vinham lamber-lhe as feridas. 22 Um dia, o mendigo faleceu e foi levado pelos anjos para junto de Abraão. Também o rico morreu e foi sepultado. 23 Ali, no inferno, viu Lázaro lá longe com Abraão.
24 ‘Pai Abraão’, gritou, ‘tem misericórdia de mim! Manda Lázaro vir ter comigo, nem que seja para molhar a ponta do dedo em água e refrescar-me a língua, pois estou atormentado nestas chamas!’
25 ‘Filho’, respondeu-lhe Abraão, ‘lembra-te de que durante a tua vida tiveste tudo quanto querias, enquanto Lázaro nada teve! Ele está aqui a ser consolado e tu estás em tormentos. 26 Além disso, há um grande abismo que nos separa e que ninguém pode transpor.’
27 ‘Ó pai Abraão, manda-o a casa de meu pai’, retorquiu o rico, 28 ‘pois tenho cinco irmãos e é preciso avisá-los para que não venham para este lugar de sofrimento quando morrerem.’
29 Mas Abraão declarou-lhe: ‘Têm as Escrituras de Moisés e dos profetas. Ouçam os seus avisos!’
30 ‘Não, pai Abraão! Se alguém de entre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão.’
31 ‘Se eles não ouvem Moisés e os profetas, não ouvirão nem mesmo alguém que se levante de entre os mortos.’ ”
Pecado, fé e responsabilidade
(Mt 18.6-7, 21-22; Mc 9.42)
17 “É impossível que não haja tropeções na fé”, disse Jesus aos discípulos. “Mas ai daquele que os provocar! 2 Melhor seria ser atirado ao mar com uma mó amarrada ao pescoço do que fazer tropeçar na fé um só destes pequeninos. 3 Deem atenção! Repreende o teu irmão se ele pecar e perdoa-lhe se se arrepender. 4 Mesmo que te ofenda sete vezes num dia, se cada vez voltar e te pedir perdão, perdoa-lhe sempre!”
Footnotes
- 11.15 Belzebu. Nome habitualmente designativo de Satanás, príncipe dos demónios. Na origem, era uma expressão honorífica para designar Baal, a divindade suprema cananeia (Baal-Zebul), e que significaria Baal ou Senhor Príncipe. Os Hebreus alteraram o nome, por meio de um jogo paronímico, para Beel-Zebub(Senhor das Moscas), uma referência sarcástica aos deuses de outros povos.
- 13.35 Sl 118.26.
- 14.26 O versículo Mt 10.37 mostra que “odiar”, aqui, não tem um significado literal, mas que Jesus espera que quem o deseja seguir deve amá-lo mais a ele do que à própria família.
O Livro Copyright © 2000 by Biblica, Inc.® Used by permission. All rights reserved worldwide.