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O sonho dos quatro animais

Uma noite, durante o primeiro ano do reinado de Belsazar, rei da Babilónia, Daniel teve um sonho e relatou-o por escrito. Foi assim: No meu sonho estava a assistir a uma tremenda tempestade num grande oceano, com fortes ventos soprando em todas as direções. Então quatro enormes animais saíram do mar, todos eles diferentes.

O primeiro era semelhante a um leão, mas tinha asas de águia; no entanto, estas encontravam-se arrancadas e, por isso, não podia mais voar; estava de pé, sobre duas patas, como um ser humano; foi-lhe mesmo dada uma mente humana.

O segundo parecia-se com um urso, levantado sobre as suas patas traseiras. Vi-lhe três costelas entre os dentes e ouvi uma voz que lhe dizia: “Levanta-te! Devora muita gente!”

O terceiro destes animais parecia-se com um leopardo, mas no seu dorso tinha asas como os pássaros, e quatro cabeças! Foi-lhe dado grande poder sobre o género humano.

Enquanto continuava a olhar, no meu sonho, um quarto animal levantou-se das águas, terrível e espantoso. Devorava as vítimas, desfazendo-as primeiro em pedaços, com grandes dentes de ferro e pisando-as sob as patas. Era de longe muito mais brutal e feroz que os anteriores e tinha dez chifres.

Atentando para esses chifres, reparei que nascia entre eles um outro mais pequeno e que, na sequência disso, três dos outros foram arrancados com a raiz e tudo, para lhe deixar espaço; essa ponta mais pequena tinha olhos humanos; tinha também uma boca, com a qual falava com grande arrogância.

A certa altura, foram colocados uns tronos e um ancião de idade avançada sentou-se para julgar. A roupa que trazia vestida era da maior alvura e o seu cabelo era branquíssimo. Estava sentado num trono feito de chamas, o qual se deslocava sobre rodas de fogo; 10 um rio de fogo jorrava dele; tinha milhões de anjos ao seu serviço; centenas de milhões de pessoas esperavam as suas ordens e serviam-no; então o tribunal começou a sua sessão e foram abertos os livros.

11 Continuando eu a olhar, o quarto animal brutal foi morto e o seu corpo ligado para ser queimado, por causa da sua altivez para com o Deus poderoso e por causa da soberba do seu chifre mais pequeno. 12 Quanto aos outros três animais, foi-lhes retirado o seu domínio; no entanto, a sua vida foi prolongada ainda durante algum tempo.

13 Seguidamente, assisti ao aparecimento de um Filho de Homem, segundo me pareceu, trazido até ali sobre nuvens desde o céu; aproximou-se do ancião e foi-lhe apresentado. 14 Deram-lhe poder para governar e para que fosse honrado em todas as nações do mundo, pelo que todos os povos da Terra lhe devem obedecer. O seu poder é eterno, nunca mais terá fim; o seu governo nunca será destruído.

15 Eu estava confuso e perturbado com tudo o que tinha visto. 16 Por isso, aproximei-me de um dos que estavam junto ao trono, para lhe perguntar o sentido de todas estas coisas. E explicou-me:

A interpretação do sonho

17 “Estes quatro animais representam quatro reinos[a] que um dia hão de governar a Terra. 18 Mas por fim o povo do Deus altíssimo terá autoridade sobre os governos do mundo para sempre!”

19 Depois perguntei acerca do quarto animal, que não era semelhante aos outros, aquele animal terrível e espantoso, com os seus dentes de ferro e garras de bronze, o animal que despedaçava e devorava as suas vítimas com facilidade, e depois pisava os restos que deixava para trás. 20 Pretendi igualmente saber quanto aos dez chifres e sobre o que era mais pequeno, que apareceu depois e provocou o desaparecimento de três outros, o qual tinha olhos e boca, com a qual dizia coisas arrogantes, e que era mais forte que os outros. 21 Pois eu tinha visto este chifre a fazer guerra contra o povo de Deus e vencê-lo, 22 até à altura em que o ancião de idade avançada veio, abriu o tribunal e reabilitou o seu povo, dando-lhe poderes de governo sobre o mundo.

23 “Este quarto animal”, disse-me, “representa o quarto poder mundial que governará a Terra. Será mais brutal que qualquer dos outros; devorará todo o mundo, destruindo tudo diante de si. 24 Os seus dez chifres são dez reis que aparecerão saídos do seu império; depois outro rei aparecerá, ainda mais violento que os dez outros, e humilhará três deles. 25 Desafiará o Deus altíssimo e consumirá os santos com perseguições, tentando alterar todas as leis, a moral e os costumes. O povo de Deus estará nas suas mãos por três anos e meio.

26 Mas abrir-se-á o tribunal de justiça e retirará todo o poder a este rei corrompido, destruindo-o totalmente. 27 Nessa altura, todas as nações debaixo dos céus e todo o poder será entregue ao povo santo do Deus altíssimo. E o reino de Deus será um reino sem fim e todos os governantes e domínios o adorarão, obedecerão e servirão eternamente.”

28 Assim acabou a visão. Fiquei grandemente perturbado e com o rosto pálido de espanto, mas não disse a ninguém o que via.

A visão de Daniel do carneiro e do bode

No terceiro ano do reinado de Belsazar, tive outra visão. Desta vez eu estava em Susã, a capital da província de Elão, e encontrava-me junto ao rio Ulai. Olhando eu em volta, vi um carneiro ali perto do rio que tinha dois chifres muito altos; um destes chifres era mais comprido que o outro; entretanto, o mais longo foi o último a nascer, dos dois. O carneiro marrava em tudo o que encontrava no caminho e ninguém era capaz de o impedir ou de lhe subtrair as vítimas. Fazia o que entendia e engrandeceu-se muito.

Estando eu a considerar estas coisas, apareceu de repente um bode vindo do ocidente; aproximava-se de uma forma tal que nem tocava no chão. Este bode, que tinha um chifre no meio dos olhos, correu furiosamente para o carneiro que tinha as duas pontas. Caindo sobre o carneiro partiu-lhe ambas as hastes. Este último ficou sem nenhuma força e o bode abateu-o e pisou-o. Não havia mais salvação para ele. O animal vencedor tornou-se orgulhoso e ficou muito engrandecido. Contudo, quando estava no auge do seu poder, foi-lhe quebrado o único chifre que tinha e no seu lugar apareceram-lhe outros quatro chifres, também de tamanho considerável, apontando em todas as direções.

Um destes, crescendo devagar ao princípio, depressa se tornou muito forte e começou a atacar para o sul e para o oriente, fazendo guerra contra a terra gloriosa de Israel. 10 Tornou-se tão poderoso que chegou a atacar os exércitos celestiais. 11 Chegou mesmo a desafiar o seu comandante, lançando por terra algumas das suas estrelas, pisando-as e fazendo cancelar os sacrifícios diários contínuos que se faziam em sua adoração, e profanando o seu santuário. 12 Mas o exército dos santos e o sacrifício diário foi destruído por causa das transgressões; a verdade foi lançada por terra; fez o que lhe agradou e prosperou.

13 Em seguida, ouvi dois dos santos anjos que dialogavam entre si: “Quando será novamente restabelecido o sacrifício contínuo? Quando será castigada a destruição do templo e o povo de Deus tornado de novo triunfante?”

14 “Duas mil e trezentas tardes e manhãs deverão decorrer primeiro!”, respondeu-lhe o outro. “Depois o santuário será purificado!”

Gabriel interpreta a visão

15 Estava eu a tentar compreender o sentido desta visão, quando apareceu uma figura humana diante de mim. 16 E ouvi a voz dum homem chamando do outro lado do rio: “Gabriel, diz a Daniel o significado deste sonho!”

17 Então Gabriel veio para onde eu me encontrava. Mas quando se aproximou de mim fiquei muito perturbado e caí com o rosto em terra. “Homem mortal”, disse-me ele, “tens de perceber que estes acontecimentos que viste figurados nessa visão não terão lugar antes que venha o fim dos tempos.”

18 Depois perdi os sentidos, estando com o rosto em terra, mas ele tocou-me, ergueu-me e ajudou-me a manter-me em pé. 19 “Estou aqui para te dizer o que irá acontecer aquando da vinda dos tempos de ira, porque o que viste pertence ao fim dos tempos. 20 Os dois chifres do carneiro que observaste são os reis da Média e da Pérsia. 21 O bode peludo é a nação grega e o seu longo chifre representa o primeiro rei dessa nação. 22 Quando viste que foi quebrado e substituído por quatro outros mais pequenos, isso significa que o império grego se repartirá em quatro partes, cada uma com seu rei, nenhum deles tão grande como o primeiro.

23 Já no final desses reinados, quando a sua maldade atingir o seu máximo, um outro rei feroz se levantará com grande sagacidade e inteligência. 24 O seu poder será grande e não virá de si próprio. Prosperará para onde quer que se voltar; destruirá todos os que se lhe opuserem, ainda que o façam com poderoso exército; desvastará o santo povo de Deus. 25 Será mestre na arte do engano; muitos serão derrotados, ao serem apanhados desprevenidos, confiados numa falsa segurança. Sem pré-aviso destruí-los-á. Considerar-se-á tanto a si próprio que até será capaz de pretender travar batalha contra o Príncipe dos príncipes. Contudo, ao tentar fazê-lo, selará a sua própria condenação, pois será aniquilado pela mão de Deus, pois nenhum ser humano poderia vencê-lo.

26 Na tua visão ouviste falar nas tardes e manhãs que passarão, antes que os direitos do culto sejam restabelecidos. A visão foi-te explicada e será cumprida. Contudo, guarda-a por agora em segredo, porque ainda falta muito tempo até que se torne realidade.”

27 Eu fiquei exausto e doente por vários dias; mas restabeleci-me e continuei a dar execução aos meus deveres para com o rei. No entanto, fiquei muito impressionado com esse sonho que não entendi bem.

A oração de Daniel

Era agora o primeiro ano do reinado de Dario, filho de Assuero. Dario era medo e foi constituído rei dos caldeus. No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros sagrados, de acordo com a palavra do Senhor, concedida a Jeremias, que Jerusalém deveria ficar desolada por 70 anos. Por isso, voltei o meu rosto para o Senhor Deus; busquei-o mediante orações e súplicas, jejuei e vesti-me com sacos, pondo cinza sobre mim. Também confessei os meus pecados assim como os do meu povo.

“Ó Senhor, meu Deus!” orava eu. “Tu és um grande e temível Deus! Sempre guardas a aliança e a tua misericórdia para com aqueles que amas e guardam as tuas leis. Mas nós pecámos muitíssimo; rebelámo-nos contra ti e tivemos em pouca conta os teus mandamentos. Recusámos prestar atenção aos teus servos, os profetas, que mandaste repetidas vezes através dos anos, com as tuas mensagens para os nossos reis e governantes, assim como para todo o povo.

Ó Senhor, tu és justo! Quanto a nós, estamos sempre envergonhados com os nossos pecados, como hoje se vê. Sim, todos nós, a gente de Judá, o povo de Jerusalém, assim como todo o Israel, que espalhaste por toda a parte, perto e longe, por causa da nossa infidelidade para contigo. Ó Senhor, nós, os nossos reis, governantes e pais estamos profundamente abatidos por causa de todos os nossos pecados. Mas o Senhor, nosso Deus, é misericordioso e perdoa até mesmo aqueles que se rebelaram contra ele. 10 Senhor, nosso Deus, nós desobedecemos-te, escarnecemos de todas as leis que nos deste através dos teus servos, os profetas. 11 Todo o Israel transgrediu a tua Lei. Afastámo-nos de ti e recusámos continuar a ouvir-te.

Foi assim que a tremenda maldição de Deus se descarregou sobre nós, a maldição escrita na Lei de Moisés, teu servo. 12 Fizeste exatamente como avisaste que farias, pois nunca houve tal desastre como aquele que nos aconteceu em Jerusalém, a nós e aos nossos chefes. 13 Cada uma das maldições contra nós, escritas na Lei de Moisés, se realizaram; todos os males preditos, todos eles aconteceram. Mesmo assim, não procurámos o favor do Senhor, nosso Deus, desviando-nos dos nossos pecados e praticando a justiça. 14 E foi por isso que o Senhor deliberadamente nos esmagou com calamidades que tinha preparado. Pois o Senhor, nosso Deus, é justo em tudo o que executa; nós é que não queremos obedecer.

15 Ó Senhor, nosso Deus, foi com grande poder e honra para ti que tiraste o teu povo do Egito! 16 Senhor, faz agora algo de semelhante! Ainda que tenhamos pecado profundamente e que seja tão grande a nossa maldade, por causa de todas as tuas misericórdias, Senhor, retira, te pedimos, a tua ira de Jerusalém, a tua cidade, o teu santo monte! Porque os pagãos troçam de ti, por deixares a tua cidade em ruínas, devido aos nossos pecados.

17 Ó nosso Deus, escuta a oração do teu servo! Ouve enquanto te rogo que o teu rosto se ilumine de novo com a paz e a alegria sobre o teu desolado santuário, que é a tua própria glória, Senhor! 18 Meu Deus, inclina os teus ouvidos e ouve os meus rogos! Abre os teus olhos e vê a nossa miséria e como a tua cidade está em ruínas! Sim, porque toda a gente sabe que se trata da tua cidade. Não te pedimos isso porque pensamos que o merecemos, mas porque confiamos na tua bondade, a despeito da gravidade dos nossos pecados. 19 Ó Senhor, ouve-nos! Ó Senhor, perdoa-nos! Ó Senhor, escuta e atua! Não te demores em defesa da tua própria causa, ó meu Deus, pois o teu povo e a tua cidade trazem o teu próprio nome!”

Os quatrocentos e noventa anos

20 Estive assim a orar e a confessar o meu pecado e o do meu povo, implorando fervorosamente ao Senhor, meu Deus, a favor de Jerusalém, o seu santo monte. 21 Gabriel, que eu vira na minha primeira visão, deslocou-se entretanto rapidamente nos ares, até junto de mim; era a altura do sacrifício da tarde. 22 E disse-me: “Daniel, encontro-me aqui para te ajudar a compreenderes os planos de Deus. 23 No momento em que começaste a orar, foi dada uma ordem e eu aqui estou para te dizer qual foi, visto que Deus te ama muito. Escuta e procura compreender o sentido da visão que tiveste!

24 Deus decretou um período de setenta vezes sete anos, para libertar o seu povo e a sua santa cidade do pecado e do mal, para que os pecados sejam perdoados e reine a justiça para sempre, para que a visão e a profecia se cumpram e o santuário seja de novo consagrado. 25 Agora ouve bem! Passarão sete vezes sete anos, mais sete vezes sessenta e dois anos, desde a altura em que for dada ordem para a reconstrução de Jerusalém, até à vinda do Messias, o Príncipe! As ruas e os muros de Jerusalém serão reconstruídos, a despeito dos tempos perigosos que hão de acontecer.

26 Depois deste período de sete vezes sessenta e dois anos, o Messias será morto. Levantar-se-á um rei cujos exércitos destruirão a cidade e o templo. Mas serão vencidos por uma tempestade; até ao fim haverá guerras com as suas desgraças. 27 Este rei fará um acordo de sete anos com o povo; decorrido metade desse tempo, denunciará o tratado e proibirá os judeus de fazerem qualquer sacrifício ou oferta; posteriormente, como cúmulo das suas terríveis ações, o inimigo profanará completamente o santuário de Deus. Mas quando chegar o tempo determinado nos planos de Deus, o julgamento de Deus será derramado sobre esse assolador.”

A visão de Daniel de um homem

10 No terceiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, Daniel, também chamado Beltessazar, teve outra visão. Dizia igualmente respeito a acontecimentos a realizarem-se no futuro, tempos de guerra e angústias, e desta vez ele compreendeu o significado da visão.

Quando tive esta visão, eu, Daniel, tinha estado de luto três semanas inteiras. Durante todo esse tempo não bebi vinho nem comi carne, nem qualquer comida saborosa. Também não lavei a cabeça, nem cortei o cabelo.

Então, no vigésimo quarto dia do primeiro mês do ano[b], estando junto ao grande rio Tigre, reparei numa pessoa junto de mim, vestida de roupa de linho com um cinto de ouro puro de Ufaz à volta da cintura. Tinha a pele brilhante como topázio; saíam-lhe do rosto cintilações e os seus olhos eram como tochas de fogo; os braços e os pés brilhavam também como bronze; quando falava, a voz soava como se se tratasse duma vasta multidão.

Só eu, Daniel, vi isto; as pessoas que estavam comigo nada viram. No entanto, sentiram repentinamente um terror inexplicável e foram a correr esconder-se. Apenas eu permaneci ali. Quando vi aquela figura impressionante fiquei sem forças, empalideci e perdi os sentidos.

Ele dirigiu-me a palavra, o que fez com que eu caísse com o rosto no chão, desfalecido. 10 Nessa altura, uma mão tocou-me e levantou-me; ainda a tremer fiquei de joelhos. 11 E ouvi: “Daniel, homem muito amado de Deus, ergue-te e ouve atentamente o que tenho a dizer-te, porque foi Deus quem me mandou junto de ti!” Levantei-me, ainda a tremer, e ele continuou:

12 “Não tenhas medo, Daniel, porque as tuas orações são atendidas nos céus e a resposta foi dada logo no primeiro dia em que começaste a jejuar perante o Senhor e a pedir-lhe esclarecimento; nesse mesmo dia fui mandado vir ter contigo. 13 Mas durante vinte e um dias o príncipe que governa o reino da Pérsia opôs-me resistência. Então Miguel, um dos chefes do exército celestial, veio apoiar-me e consegui vencer os reis da Pérsia. 14 Agora, aqui estou para te dizer o que há de acontecer ao teu povo no futuro, porque o cumprimento desta profecia será daqui a muito tempo.”

15 Todo esse tempo, mantive-me de olhos baixos, incapaz de proferir uma palavra. 16 Depois, alguém que me pareceu um homem, tocou-me nos lábios e pude dizer ao mensageiro do céu: “Senhor, estou extremamente perturbado com esta aparição e estou sem forças! 17 Como é que uma pessoa como eu pode falar contigo? Estou desfalecido e até respiro com dificuldade!”

18 Então, aquele que me pareceu ser um homem, tocou-me outra vez e senti as forças voltarem-me novamente. 19 “Deus ama-te muito!”, disse ele. “Não tenhas receio! Acalma-te e anima-te! Sim, anima-te!”

Enquanto me dizia isto, senti-me mais forte e respondi-lhe: “Podes falar, senhor, porque me fortaleceste!”

20 “Sabes a razão por que vim? Quando regressar, enfrentarei de novo o príncipe da Pérsia e depois dele o príncipe da Grécia. 21 Mas estou aqui para te dizer o que está registado na escritura da verdade. Só Miguel, o príncipe de Israel, estará ali para me ajudar.

Os reis do Sul e do Norte

11 Eu fui mandado fortalecer e ajudar Dario, o medo, no primeiro ano do seu reinado. Mas agora vou mostrar-te o que o futuro tem guardado. Três outros reis persas governarão e um quarto suceder-lhes-á, muito mais próspero que os primeiros. Usando os recursos de que dispõe, irá obter vitórias políticas e desencadeará uma guerra total contra a Grécia.

Depois levantar-se-á um poderoso rei na Grécia que governará um vasto reino e conseguirá tudo o que tiver planeado conquistar. Contudo, no auge do seu poder, o seu reino será repartido em quatro nações mais fracas, que nem sequer serão dirigidas pelos seus filhos. O seu império será dividido e entregue a outros.

Um deles, o rei do Sul[c], há de conseguir aumentar bastante em força, mas um dos seus comandantes revoltar-se-á, tomará conta do poder, tornando-o ainda mais forte. Anos mais tarde formar-se-á uma aliança entre o rei do Norte[d] e o do Sul. A filha deste será dada em casamento ao rei do Norte, num gesto de paz, mas ela perderá a sua influência sobre ele e as suas esperanças, assim como as do seu pai, o rei do Egito, serão frustradas.

Contudo, quando o seu irmão subir ao trono, como rei do Sul, há de congregar um exército contra o rei do Norte e derrotá-lo-á. Quando regressar ao Egito trará consigo os ídolos da Síria e também artigos preciosos de ouro e prata. Durante muitos anos deixará o rei da Síria em paz. Entretanto, o rei do Norte invadirá o reino do Sul, por pouco tempo, pois depressa regressará à sua terra. 10 Contudo, os filhos deste rei do Norte juntarão um poderoso exército que invadirá Israel, passará ao Egito e se fortificará ali.

11 Depois o rei do Sul, com grande ira, concentrar-se-á contra as vastas forças do rei do Norte e as derrotará. 12 Cheio de orgulho, após esta vitória retumbante, há de chegar a liquidar milhares dos seus inimigos. No entanto, o seu sucesso será de pouca duração. 13 Alguns anos mais tarde o rei do Norte voltará com um exército completamente equipado, muito maior do que aquele que perdera antes. 14 Outras nações se unirão a ele nessa cruzada contra o Egito; gente rebelde entre os judeus se juntará a ele, cumprindo assim a profecia; mas não serão bem sucedidos. 15 Então o rei do Norte e os seus aliados sitiarão uma cidade fortificada do Egito, conquistá-la-ão e os altivos exércitos do Egito serão derrotados. 16 O rei do Norte continuará sem ninguém que se lhe oponha; ninguém será capaz de o deter. Entrará também na terra gloriosa de Israel e a saqueará. 17 Estabelecerá um plano para o domínio completo do Egito; acordará também o casamento duma filha com o rei do Sul, para que possa avançar melhor com os seus intentos, mas não conseguirá o que quer. 18 Posteriormente, voltará a sua atenção para as cidades costeiras e tomará muitas delas. Contudo, haverá um comandante que o deterá e o fará retirar-se envergonhado. 19 Regressará à sua terra, mas pelo caminho terá problemas e desaparecerá.

20 O seu sucessor será lembrado como aquele que colocou impostos sobre Israel. Depois dum breve reinado, morrerá misteriosamente, nem em combate, nem em disputa nenhuma.

21 O rei a seguir será um homem mau e não subirá ao trono por sucessão real. Tomará o poder através do engano e da intriga. 22 Depois toda a oposição desaparecerá diante dele, incluindo o chefe do povo da aliança. 23 As suas promessas serão sempre falsas. Desde o princípio que a sua forma de atuar será sempre a do engano; apenas com um punhado de seguidores, tornar-se-á poderoso. 24 Entrará nas áreas mais prósperas da terra, sem aviso prévio, e fará aquilo que nunca tinha sido feito antes: tomará as propriedades dos ricos e dos abastados e distribuí-las-á pelo povo. Com grande sucesso irá atacar e capturar grandes fortalezas através das terras que controla, mas isto durará apenas um certo tempo.

25 Conseguirá conjugar forças e levantar um exército contra o Egito; este também tentará fazer o mesmo, mas sem êxito, porque enormes conjuras se formarão contra ele. 26 Os da sua própria casa irão depô-lo; o seu exército será dizimado e muitos serão mortos. 27 Ambos estes reis conspirarão um contra o outro, mesmo à mesa das negociações, tentando enganar-se mutuamente, mas isso de pouco servirá, pois nem um nem outro serão bem sucedidos até que chegue o tempo indicado por Deus.

28 O rei do Norte regressará então a casa com grandes riquezas, não sem antes marchar sobre Israel, o povo da santa aliança, e destruí-la; fará o que planeou e regressará à sua terra. 29 No tempo previsto, voltará de novo as suas forças para o Sul, mas nessa altura será tudo diferente. 30 Porque navios de guerra de Quitim virão atacá-lo, e isso vai atemorizá-lo. A seguir, furioso, ele tentará destruir a religião do povo da santa aliança. E atenderá aos que abandonaram essa aliança. 31 Enfurecido por ter sido obrigado a fugir, vai levantar-se ferozmente, a fim de profanar o santuário, fazendo parar os sacrifícios diários e estabelecendo a abominação que causa a desolação. 32 O rei usará o engano para ganhar o apoio dos que transgrediram os preceitos da aliança, para ganhá-los para o seu lado; mas os que reconhecem a Deus resistirão com firmeza e coragem e farão grandes coisas.

33 Os que têm discernimento espiritual terão um largo ministério, ensinando, durante aquele tempo. Correrão constantemente perigo; muitos deles morrerão pelo fogo ou pelas armas, ou serão postos em cárceres, despojados do que possuem. 34 No meio destas pressões, alguns homens descrentes apresentar-se-ão como que pretendendo oferecer socorro, mas só para tirar proveito dos que são perseguidos. 35 Até alguns dos mais dotados nas coisas de Deus tropeçarão naquele dia e cairão; mas isto acabará por ser uma forma de os refinar e purificar, tornando-os mais limpos até ao fim de todas estas provações, até ao momento que Deus indicar.

36 O rei fará só aquilo que lhe agrada, proclamando-se acima dos deuses, blasfemando até do Deus dos deuses e prosperando, mas só até quando o Senhor entender, porque os planos de Deus são inabaláveis. 37 O rei não terá consideração alguma pelos deuses dos seus antepassados, nem pelo deus amado pelas mulheres, nem por nenhum outro, porque se gloriará como sendo ele o maior de todos. 38 Em lugar desses deuses todos, adorará o deus das fortalezas, um deus que seus pais desconheciam, e será pródigo em ofertar-lhe donativos muito caros como ouro, prata, joias e outras riquezas. 39 Dirá que é com a sua ajuda que há de atacar grandes fortalezas e conquistá-las. Dará honras aos que se lhe submetem, nomeando-os para posições de autoridade e repartindo entre eles a terra como recompensa.

40 Chegando o tempo do fim, o rei do Sul tornará a atacá-lo e o do Norte reagirá com a violência e a fúria dum furacão; o seu vasto exército e a sua grande armada de navios de guerra sairão para invadi-lo com o seu poder. 41 Dessa forma, conseguirá invadir vários países, incluindo Israel, a terra gloriosa, e derrubará o governo de muitas outras nações. Moabe, Edom e quase todo Amon escaparão. 42 O Egito e muitas outra nações serão ocupadas. 43 Tomará posse de todos os tesouros do Egito, tesouros de ouro e de prata, além doutras riquezas, e os líbios e os cuchitas tornar-se-ão seus servos.

44 Nessa altura, notícias vindas tanto do norte como do oriente irão alarmá-lo e voltará em grande ira para destruir e aniquilar muitos. 45 Deter-se-á entre a gloriosa montanha santa e o mar, armando ali as tendas reais. Enquanto permanece nesse sítio, o seu tempo chegará e não haverá ninguém que o apoie.

Os tempos do fim

12 Nesse tempo, se levantará Miguel, o poderoso príncipe que protege a tua nação. Haverá um tempo de angústia para os judeus, maior do que qualquer outro período de angústia na história de Israel. Mas todos aqueles cujos nomes estão escritos no livro serão libertados. Muitos daqueles cujos corpos jazem mortos, enterrados, ressuscitarão, uns para a vida eterna, outros para a vergonha e desprezo eternos. Os entendidos brilharão como o resplendor do Sol, no firmamento. Os que ensinam a muitos a justiça refulgirão como estrelas para sempre. Mas tu, Daniel, não dês esta profecia a conhecer a ninguém! Sela-a para que não seja revelada até ao tempo final, quando a deslocação de pessoas de uma para outra parte do mundo, assim como o conhecimento entre os homens, tiverem aumentado grandemente!”

Então eu, Daniel, olhei e vi outros dois seres em cada margem do rio. Um deles perguntou àquele que estava vestido de linho e que se encontrava sobre as águas do rio: “Quanto tempo haverá até que se cumpram todas essas coisas espantosas?”

O outro respondeu, levantando as mãos para os céus e jurando por aquele que vive por toda a eternidade, que estas coisas não serão cumpridas até que três anos e meio se completem, depois de terminar a perseguição contra o povo santo. Depois tudo estará terminado.

Ouvi aquilo que ele disse, mas não percebi. Por isso, perguntei: “Senhor, como será que isto tudo vai acontecer?”

“Podes retirar-te, Daniel, porque aquilo que expus não é para ser compreendido antes do tempo do fim. 10 Muitos serão colocados à prova e assim purificados e aperfeiçoados. Contudo, os perversos continuarão na sua perversidade e não entenderão coisa nenhuma. Só os que desejam mesmo aprender virão a saber o significado disso.

11 Desde o momento em que o sacrifício contínuo for proibido e instalada a abominação que causa a desolação, a fim de ser adorada, decorrerão 1290 dias. 12 Felizes aqueles que esperam e chegam aos 1335 dias!

13 Quanto a ti, persevera até ao fim da tua vida e depois repousarás. Porque ressuscitarás e terás a tua recompensa nos últimos dias.”

Footnotes

  1. 7.17 Literalmente: reis.
  2. 10.4 Mês de Abibe ou Nisan. Entre a lua nova do mês de março e o mês de abril.
  3. 11.5 Referência ao Egito debaixo do domínio grego.
  4. 11.6 Referência à Síria debaixo do domínio grego.