1 Reis 19-22
O Livro
Elias foge para Horebe
19 Quando Acabe contou à rainha Jezabel o que Elias fizera, que tinha matado todos os profetas de Baal, 2 ela mandou um recado a Elias: “Mataste os meus profetas, mas juro-te pelos deuses que amanhã, por esta altura, te matarei eu.”
3 Elias resolveu fugir para escapar com vida. Foi a Berseba, cidade de Judá e deixou ali o seu criado. 4 Depois continuou sozinho pelo deserto, andando o dia inteiro. A certa altura, sentou-se debaixo dum zimbro e orou, pedindo que a morte o levasse: “Já basta, Senhor! Toma agora a minha vida. Tenho de morrer um dia, como todos os que me precederam e que morreram por te servir. Então que seja agora.”
5 Deitou-se e adormeceu ali, debaixo do zimbro. Enquanto dormia, um anjo chegou-se, tocou-lhe e disse-lhe que se levantasse e comesse. 6 Olhou em volta e viu pão, que fora cozido sobre brasas, e um jarro de água. Comeu, bebeu e tornou a deitar-se.
7 O anjo do Senhor veio de novo, tocou-lhe e disse-lhe: “Levanta-te, come mais alguma coisa, porque tens uma longa caminhada pela frente.”
8 Levantou-se então, comeu, bebeu, e aquele alimento deu-lhe forças bastantes para uma longa marcha de quarenta dias e quarenta noites, até ao monte Horebe, a montanha de Deus. 9 Ali passou a noite numa gruta.
O Senhor aparece a Elias
Contudo, o Senhor disse-lhe: “Que fazes aqui, Elias?”
10 Elias respondeu: “Tenho sido muito zeloso pelo Senhor, Deus dos exércitos, mas o povo de Israel quebrou a aliança que fizeste com ele, derrubou os teus altares e matou os teus profetas; só eu fiquei e ainda procuram matar-me.”
11 “Sai daí; põe-te perante mim, nesta montanha.”
Elias assim fez e o Senhor passou por ele, ao mesmo tempo que soprava um fortíssimo vento sobre a montanha; era de tal intensidade que até as rochas se quebravam. Mas o Senhor não estava nesse vento. Depois houve um tremor de terra; mas também aí não estava o Senhor. 12 Posteriormente apareceu um fogo; mas também no fogo o Senhor não estava. Por fim, ouviu-se o ruído de um som delicado, como um sopro. 13 Ao ouvi-lo, Elias escondeu o rosto na capa, saiu da gruta e pôs-se à entrada.
Disse-lhe assim uma voz: “Que estás aqui a fazer, Elias?”
14 Respondeu de novo o profeta: “Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos, mas o povo de Israel quebrou a aliança que fizeste com ele, derrubou os teus altares e matou os teus profetas; só eu fiquei e ainda procuram matar-me.”
15 “Volta pelo caminho do deserto para Damasco; quando lá chegares unge Hazael como rei de Aram. 16 Depois unge também Jeú, o filho de Ninsi, como rei de Israel, e unge ainda Eliseu, o filho de Safate de Abel-Meolá, para te substituir como profeta. 17 Quem escapar de Hazael será morto por Jeú; os que escaparem de Jeú, serão mortos por Eliseu. 18 Acontece que ainda há 7000 pessoas em Israel que nunca se inclinaram perante Baal, nem o beijaram!”
A chamada de Eliseu
19 Elias partiu e encontrou Eliseu, lavrando um campo com doze juntas de bois; ele encontrava-se com a última junta. Elias foi ter com ele, lançou-lhe a capa sobre os ombros e continuou o seu caminho. 20 Eliseu deixou ali os bois e correu atrás de Elias dizendo: “Deixa-me ir primeiro dizer adeus aos meus pais e depois logo vou contigo!”
Elias respondeu-lhe: “Vai e volta depois! Bem viste o que eu te fiz!”
21 Eliseu voltou para os seus bois, matou-os e usou a madeira do arado para fazer fogo para assar a carne. Deu assim de comer a todo o povo. Depois seguiu Elias como seu assistente.
Ben-Hadade ataca Samaria
20 O rei Ben-Hadade de Aram mobilizou o exército e, com mais 32 nações aliadas com os seus batalhões de carros de combate e cavalaria, atacou Samaria, a capital israelita. 2 Ben-Hadade mandou uma mensagem à cidade para o rei Acabe de Israel: 3 “A tua prata e o teu ouro são meus, assim como as tuas mulheres mais bonitas e os melhores dos teus filhos!”
4 “Está bem, meu senhor”, respondeu Acabe. “Tudo o que tenho é teu!”
5 Os mensageiros de Ben-Hadade em breve voltaram com outra mensagem: “Não será apenas o ouro, a prata, as mulheres e os filhos que terás de me dar. 6 Amanhã, por esta altura mandarei os meus homens fazer uma busca no teu palácio e nas casas do teu povo e trazer tudo o que lhes apetecer!”
7 Acabe convocou todos os anciãos do país: “Vejam bem o que este indivíduo está a fazer!”, lamentou-se ele. “Está decididamente a provocar-me para a guerra, a despeito de já lhe ter dito que podia ficar com as minhas mulheres, os meus filhos, o ouro e a prata, como exigira.”
8 “Então não lhes dês mais nada”, opinaram os anciãos.
9 Acabe deu esta resposta aos mensageiros: “Digam ao rei, meu senhor: Dar-te-ei tudo o que pediste da primeira vez, mas não deixarei que os teus homens entrem no meu palácio e nas casas do meu povo.” Os mensageiros regressaram com a resposta para Ben-Hadade.
10 Ben-Hadade tornou a enviar uma nova mensagem a Acabe. “Que os deuses me façam ainda pior do que aquilo que eu te fizer, se não tornar Samaria num montão de ruínas!”
11 O rei de Israel enviou-lhe a seguinte resposta: “Não contes com vitórias de guerras que ainda não travaste.”
12 Esta última resposta recebeu-a Ben-Hadade e os outros reis que estavam com ele, numa altura em que bebiam juntos na sua tenda de campanha. “Preparem o ataque!”, ordenou o rei arameu aos oficiais.
Acabe derrota Ben-Hadade
13 Então um profeta veio ter com Acabe e deu-lhe esta mensagem da parte do Senhor: “Vês todas estas forças inimigas? Vou entregá-las nas tuas mãos, hoje mesmo. Reconhecerás, enfim, que eu sou o Senhor.”
14 Acabe perguntou: “E quem é que vai fazer isso?” O profeta respondeu: “Serão as tropas das províncias.” Inquiriu ainda: “Quem começará a atacar?” Ao que lhe respondeu: “Tu.”
15 Assim contou os soldados das províncias, 232 mais o resto do exército israelita, 7000 homens. 16 Cerca do meio-dia, enquanto Ben-Hadade e os 32 reis aliados estavam ainda a beber, já embriagados, saíram as primeiras tropas de Acabe da cidade. 17 Durante a aproximação, as sentinelas de Ben-Hadade vieram dizer-lhe: “Estão a aproximar-se algumas tropas inimigas da Samaria!”
18 “Apanhem-nos vivos”, ordenou o rei, “venham para pedir tréguas ou para combater.”
19 Entretanto, o resto das tropas de Acabe tinham-se juntado para atacar. 20 Cada um matou um soldado arameu e, de repente, todo o exército de Ben-Hadade desertou em pânico. 21 Os israelitas perseguiram-nos; contudo, o rei e alguns outros conseguiram escapar a cavalo, mas a maior parte dos carros e da cavalaria foi capturada e muitos dos arameus foram mortos.
22 O profeta foi dizer a Acabe: “Vai e fortalece-te; atenta bem para as tuas atitudes, porque na próxima primavera o rei de Aram voltará a atacar-te!”
23 Porque, após esta derrota, os oficiais de Ben-Hadade disseram: “O Deus dos israelitas tem poder nas montanhas; por isso, é que eles ganharam; numa planície, facilmente os bateremos. 24 Da próxima vez substitui os reis por generais! 25 Recruta outro exército semelhante àquele que perdeste; dá-nos o mesmo número de cavalos, de carros e de homens; vencê-los-emos se for numa planície; não há sombra de dúvida que os liquidaremos.” Então o rei Ben-Hadade aceitou a sugestão.
26 No ano seguinte mobilizou o exército e marchou novamente contra Israel; desta vez em Afeque. 27 Israel convocou igualmente as suas tropas, que foram revistas; organizaram-se as linhas de abastecimento e deslocaram-se para a batalha; mas as forças israelitas mais pareciam dois pequenos rebanhos de cabritinhos em comparação com a imensa força militar dos arameus, que enchia por completo a paisagem.
28 Um homem de Deus foi ter com o rei de Israel para lhe dar a seguinte mensagem da parte do Senhor: “Visto que os arameus declaram: ‘O Senhor é Deus de colinas e não de planícies’, derrotarei este imenso exército e saberás, sem dúvida alguma, que eu sou o Senhor.”
29 Os dois exércitos formaram em linha de combate um em frente do outro e assim estiveram sete dias. Por fim, começou a peleja. Os israelitas mataram 100 000 homens de infantaria naquele primeiro dia. 30 O resto foi refugiar-se dentro das muralhas de Afeque; mas estas ruíram sobre eles, matando mais 27 000. Ben-Hadade fugiu também para dentro da povoação, escondendo-se no interior duma casa.
31 “Senhor”, disseram-lhe os seus oficiais, “ouvimos dizer que os reis de Israel são muito misericordiosos. Vamos pôr saco sobre nós e cordas ao pescoço e apresentar-nos perante o rei Acabe, pode ser que nos poupe a vida.”
32 Foram assim ter com o rei de Israel e imploraram: “O teu servo Ben-Hadade roga-te: ‘Deixa-nos viver!’ ” O rei de Israel respondeu: “O quê? Ele ainda está vivo? É meu irmão!”
33 Aqueles homens receberam aquelas palavras como um raio de esperança e apressaram-se a exclamar: “Sim, é verdade! É teu irmão!” O rei de Israel ordenou-lhes: “Vão já buscá-lo!” Quando Ben-Hadade chegou, convidou-o a subir para o seu carro.
34 O rei arameu disse-lhe: “Devolver-te-ei as povoações que o meu pai tomou ao teu e poderás estabelecer postos de comércio em Damasco, tal como o meu pai fez em Samaria.”
Acabe disse-lhe: “Vou deixar-te sair sob estas condições.” Fizeram então um tratado e Ben-Hadade foi em liberdade.
O profeta reprova Acabe
35 Entretanto, o Senhor deu instruções a um dos profetas para dizer a outro: “Fere-me, peço-te!” Mas aquele homem recusou. 36 Então o profeta disse-lhe: “Visto não teres obedecido à voz do Senhor, um leão matar-te-á assim que saíres daqui.” Com efeito, mal ele se foi, apareceu um leão que o matou.
37 O profeta voltou-se para outro homem e disse-lhe: “Fere-me com a tua espada.” O outro obedeceu e feriu-o.
38 O profeta ficou à espera do rei à beira da estrada, tendo vendado os olhos para se disfarçar. 39 Quando o rei passou, o profeta chamou-o: “Senhor, eu estive na batalha; um homem trouxe-me um prisioneiro e disse-me: ‘Guarda este indivíduo; se ele fugir, terás de morrer, ou então pagar-me 34 quilos de prata!’ 40 Enquanto eu fazia alguma coisa, o prisioneiro desapareceu.” O rei replicou: “Pois bem, a culpa é tua. Terás de pagar.”
41 Nessa altura, o profeta desvendou os olhos e o rei reconheceu-o como sendo um dos profetas. 42 Este disse-lhe: “Assim diz o Senhor: ‘Visto que poupaste o homem que eu disse que devia morrer, morrerás tu em seu lugar e o teu povo perecerá em lugar do dele.’ ” 43 O rei de Israel regressou a Samaria muito irritado e desgostoso.
A vinha de Nabote
21 Nabote, um indivíduo de Jezreel, tinha uma vinha nos subúrbios da cidade, perto do palácio do rei Acabe, rei da Samaria. 2 Um dia, o rei propôs-lhe comprar-lhe aquele pedaço de terra. “Quero fazer um jardim”, explicou-lhe, “porque está junto ao palácio.” Ofereceu-se para lhe pagar em dinheiro ou dar-lhe em troca outra vinha melhor.
3 Nabote respondeu: “Nunca poderia vender essa terra, porque se trata de uma herança dos meus antepassados, já de há muitas gerações. O Senhor não o permite.” 4 Acabe foi para casa abatido e indignado. Não queria comer e meteu-se na cama com a cara virada para a parede.
5 “Que desgosto tão grande é esse?”, perguntou-lhe a mulher, Jezabel. “Porque é que nem sequer queres comer?”
6 “Pedi a Nabote que me vendesse a vinha, ou que a desse em troca de outra e recusou!”, disse-lhe Acabe.
7 “Afinal, és ou não o rei de Israel? Trata de te levantar e andar normalmente, porque eu me ocuparei desse assunto; hei de conseguir essa vinha de Nabote!”
8 Jezabel escreveu uma série de cartas, em nome de Acabe, com o selo real, e endereçou-as aos líderes da cidade de Jezreel, onde vivia Nabote. 9 Nelas dava a seguinte ordem:
“Façam uma proclamação, por toda a cidade, para que a população jejue. 10 Convoquem Nabote e arranjem dois marginais que o acusem de ter amaldiçoado a Deus e ao rei. Depois levem-no e apedrejem-no até morrer.”
11 Os chefes locais obedeceram àquelas instruções. 12-13 Convocaram uma reunião, acarearam Nabote com dois marginais, os quais o acusaram de ter amaldiçoado a Deus e ao rei. Nabote foi arrastado para fora da cidade e apedrejado até morrer. 14 Depois os líderes da cidade participaram a Jezabel que Nabote já estava morto.
15 Quando a rainha tomou conhecimento disso, falou a Acabe: “Lembras-te da vinha que Nabote não te queria ceder? Pois bem, já podes tê-la. O homem morreu!” 16 Então Acabe desceu para ir tomar posse da terra.
17 No entanto, o Senhor disse a Elias, o tesbita: 18 “Vai até Samaria falar com Acabe. Ele há de estar na vinha de Nabote, tomando posse dela. 19 Dá-lhe esta mensagem da minha parte: ‘Não terá sido bastante que tenhas morto Nabote? Irás ainda roubá-lo? Visto que fizeste tamanha maldade, o teu sangue virá a ser lambido por cães, fora da cidade, tal como lamberam o sangue de Nabote!’ ”
20 “Acabas sempre por me encontrar, meu inimigo!”, exclamou Acabe para Elias. “Sim, é verdade”, respondeu Elias. “Vim para te dar a conhecer a maldição que Deus colocou sobre ti, porque te vendeste para fazeres o que é mau aos olhos do Senhor. 21 Ele trará um grande mal sobre ti e não deixará que um só dos teus descendentes masculinos sobreviva! 22 Deus destruirá a tua família, como o fez com a de Jeroboão, filho de Nebate, e a do rei Bacha, filho de Aías, porque acendeste a sua ira muitíssimo e levaste todo o Israel a pecar. 23 O Senhor também me disse que os cães despedeçarão o corpo da tua mulher Jezabel junto à muralha de Jezreel. 24 Os membros da tua família que morrerem na cidade serão comidos pelos cães e os que morrerem no campo serão devorados pelas aves dos céus.”
25 Não houve ninguém que se tivesse vendido como Acabe, para fazer o que era mau aos olhos do Senhor, instigado por sua mulher Jezabel. 26 A sua culpa era especialmente agravada porque prestava culto aos ídolos, tal como os amorreus, o povo que o Senhor tinha lançado fora da terra para dar lugar ao seu povo de Israel.
27 Quando Acabe ouviu estas profecias, rasgou a roupa que trazia vestida, cobriu-se com saco e até assim dormia, jejuou e andava profundamente triste.
28 Mais tarde, veio outra mensagem a Elias, o tesbita: 29 “Estás a ver como Acabe anda humilhado perante mim? Visto que tomou essa atitude, não farei o que lhe prometi durante o tempo da sua vida; isso dar-se-á com os seus filhos; destruirei os seus descendentes.”
Micaías profetiza contra Acabe
(2 Cr 18.1-27)
22 Durante três anos houve guerra entre a Aram e Israel. 2 Durante o terceiro ano, enquanto o rei Jeosafá de Judá estava a visitar o rei Acabe de Israel, 3 Acabe disse aos seus oficiais: “Estão a dar-se conta de como os arameus ainda ocupam Ramote-Gileade? E nós aqui estamos, sentados, sem nada fazer para a recuperar!”
4 Depois voltou-se para Jeosafá: “Estarias de acordo em enviar as tuas tropas com as minhas para reaver essa cidade?” Jeosafá respondeu ao rei Acabe: “Com certeza que sim! Tu e eu somos irmãos! O meu povo poderá ficar sob o teu comando e os meus cavalos ao teu serviço. 5 No entanto, vamos primeiro consultar o Senhor sobre isso.”
6 O rei Acabe convocou 400 dos seus profetas pagãos e perguntou-lhes: “Devo ir à guerra contra Ramote-Gileade?” Eles responderam-lhe: “Vai, porque o Senhor te concederá a vitória!”
7 Por sua vez, Jeosafá perguntou: “Não haverá aqui um profeta do Senhor? Gostaria de o interrogar também.”
8 “Sim, há um”, respondeu o rei Acabe, “mas odeio-o, porque nunca profetiza nada de bom! É um tal Micaías, filho de Imlá.” Jeosafá replicou: “Acho que não devias falar assim.”
9 Então o rei de Israel chamou um dos seus ajudantes: “Vai buscar Micaías, o filho de Imlá, depressa!”
10 O rei de Israel e Jeosafá, rei de Judá, estavam sentados em tronos, com os seus trajes de gala, numa praça à entrada de Samaria, com todos os profetas pagãos profetizando em frente deles. 11 Um dos profetas, Zedequias, filho de Quenaana, fez uns chifres de ferro e declarou: “O Senhor promete que com estes chifres empurrarás na tua frente os arameus, até os teres destruído.”
12 E todos os outros concordavam: “Sim!”, diziam em coro. “Sobe a Ramote-Gileade e vencerás. O Senhor te fará prosperar nesse empreendimento.”
13 O mensageiro encarregado de ir buscar Micaías contou-lhe o que os profetas estavam a declarar e pressionou-o para que dissesse a mesma coisa. 14 Micaías, no entanto, respondeu-lhe: “Tão certo como vive o Senhor, que direi aquilo que o Senhor me mandar dizer.”
15 Quando chegou perante o rei, este perguntou-lhe: “Micaías, iremos nós à guerra contra Ramote-Gileade?” Micaías retorquiu: “Sim, com certeza. Terás uma grande vitória e o Senhor te ajudará!”
16 O rei disse-lhe com rispidez: “Quantas vezes te tenho dito que quero que me fales unicamente o que o Senhor te manda dizer?”
17 Então Micaías falou deste modo: “Tive uma visão em que vi todo o Israel disperso pelos montes como ovelhas sem pastor. E o Senhor disse: ‘Não têm pastor porque foi morto. Que cada um vá em paz para a sua casa!’ ”
18 Voltando-se para Jeosafá, Acabe lamentou-se: “Não te disse que era isto que iria acontecer? Ele nunca me diz nada de bom; fala sempre mal.”
19 Micaías continuou. “Ouve o resto da palavra do Senhor. Eu vi o Senhor sentado sobre o seu trono, com os exércitos celestiais à sua volta. 20 E o Senhor disse: ‘Quem irá convencer Acabe para que vá e morra em Ramote-Gileade?’ Várias sugestões foram feitas. 21 Finalmente, apresentou-se um espírito diante do Senhor que disse: ‘Vou eu. Eu o persuadirei.’ O Senhor perguntou-lhe: ‘Como?’
22 E ele respondeu: ‘Serei um espírito de mentira na boca dos profetas.’ E o Senhor disse: ‘Isso dará resultado; conseguirás o que pretendes; podes ir.’ ”
23 Micaías continuou, dirigindo-se ao rei: “Estás a ver que o Senhor pôs um espírito de mentira na boca destes teus profetas. Na realidade o que ele determinou foi o oposto do que têm estado a dizer!”
24 Então Zedequias, o filho de Quenaana, adiantou-se e deu uma bofetada no rosto de Micaías: “Quando foi que o Espírito do Senhor me deixou a mim para falar por ti?”
25 “Não tardará que tenhas a resposta”, respondeu-lhe Micaías, “quando te fores esconder no quarto interior!”
26 O rei Acabe mandou que prendessem Micaías: “Levem-no a Amom, o governador da cidade, e a Joás, o meu filho. 27 Digam-lhes: ‘O rei manda pôr este indivíduo no cárcere e alimentá-lo a pão e água, apenas o suficiente para que não morra, até que eu regresse em paz!’ ”
28 “Se voltares em paz”, insistiu Micaías, “isso será a prova de que o Senhor não falou por mim.” Depois voltou-se para o povo que estava a assistir: “Tomem bem nota do que eu disse!”
A morte de Acabe
(2 Cr 18.28-34)
29 O rei Acabe de Israel e o rei Jeosafá de Judá levaram os seus exércitos contra Ramote-Gileade. 30 O rei de Israel disse a Jeosafá: “Leva tu o fato real que eu irei disfarçado!” Então Acabe foi para a batalha trajando como um simples soldado.
31 O rei de Aram tinha dado ordens aos capitães dos 32 carros que lutassem apenas contra o Acabe. 32 Quando viram o rei Jeosafá vestido com os trajes reais, pensaram: “É este o homem que procuramos.” Rodearam-no para o atacar, mas Jeosafá gritou. 33 Logo que viram que não era o rei de Israel, deixaram-no.
34 Contudo, alguém atirou uma flecha ao acaso que foi precisamente ferir Acabe numa juntura da sua armadura. “Levem-me daqui para fora, porque estou ferido”, rouquejou ele ao condutor do carro.
35 A batalha ia-se tornando cada vez mais intensa, à medida que o dia avançava. Tiveram que manter o rei Acabe de pé no seu carro diante dos arameus. O sangue que saía da sua ferida escorria no fundo do carro. Finalmente, ao anoitecer, morreu. 36 Estava o Sol a pôr-se, quando começou a correr a notícia por entre as tropas: “Acabou-se, voltemos para casa! 37 O rei morreu!” O seu corpo foi levado para Samaria e enterrado ali. 38 Quando o carro e a armadura foram lavados junto dum poço em Samaria, onde as prostitutas se lavavam, os cães vieram e puseram-se a lamber o sangue do rei, tal como o Senhor dissera que haveria de acontecer.
39 O resto da história de Acabe, incluindo a descrição do seu palácio de marfim e as cidades que construiu, está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. 40 Acabe foi sepultado junto dos seus antepassados. Acazias, seu filho, tornou-se o novo rei de Israel.
O reinado de Jeosafá
(2 Cr 17.1–21.1)
41 Em Judá, Jeosafá, o filho de Asa, tinha sido coroado rei no quarto ano do reinado de Acabe de Israel. 42 Jeosafá tinha 35 anos quando ascendeu ao trono e reinou 25 anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Azuba e era filha de Sili. 43 Fez o que seu pai Asa tinha feito, obedecendo ao Senhor em tudo, e fez sempre o possível por não se desviar dos caminhos de Deus, fazendo o que era reto aos olhos do Senhor. 44 Contudo, não destruiu os santuários pagãos e continuou a queimar ali incenso. Fez também a paz com Acabe, rei de Israel.
45 O resto dos feitos de Jeosafá, o poder que revelou e as guerras que travou, está descrito no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. 46 Também mandou fechar todas as casas de prostituição masculina que ainda se mantinham, depois do tempo do seu pai Asa.
47-48 Não havia rei em Edom nessa altura, apenas um governador nomeado pelo rei de Judá. O rei Jeosafá mandou construir grandes navios de Társis para irem a Ofir buscar ouro, mas nunca lá chegaram, porque naufragaram em Eziom-Geber. 49 Acazias, o filho e sucessor do rei Acabe, tinha proposto a Jeosafá que os seus homens fossem também, mas este recusou a sua oferta.
50 Quando Jeosafá morreu, foi enterrado junto dos seus antepassados, em Jerusalém, a cidade do seu antecessor David. O seu filho Jeorão ocupou o trono em seu lugar.
Acazias rei de Israel
51 Foi no décimo sétimo ano do reinado de Jeosafá, rei de Judá, que Acazias, filho de Acabe, começou a reinar sobre Israel, em Samaria, e reinou durante 2 anos. 52 Não foi um bom rei, pois seguiu nas pisadas do seu pai e da sua mãe e também de Jeroboão, que levou Israel a pecar contra o Senhor. 53 Serviu o deus Baal e adorou-o. Por isso, Acazias suscitou muito a ira do Senhor, Deus de Israel, tal como antes fizera o seu pai.
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