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Jesus é ungido em Betânia

(Mt 26.2-16; Lc 7.37-38; 22.1-13; Jo 11.45-53; 12.1-8)

14 Dois dias depois começava a festejar-se a Páscoa, celebração durante a qual não se comia pão que levasse fermento. Os principais sacerdotes e os especialistas na Lei não desistiam de procurar ocasião para prender Jesus secretamente e entregá-lo à morte. “Todavia, não o poderemos fazer durante a festa da Páscoa”, diziam, “para que não haja tumulto.”

Entretanto, Jesus encontrava-se em Betânia em casa de Simão, o leproso. Durante a ceia, entrou uma mulher com um belo vaso de alabastro com um perfume muito caro feito de nardo puro, a qual, quebrando o selo, lhe derramou o perfume sobre a cabeça. Alguns dos que estavam à mesa ficaram zangados por aquilo a que chamavam um desperdício. “Mais valia tê-lo vendido por 300 moedas de prata[a] e dado o produto aos pobres!”, murmuravam, condenando-a com dureza.

Mas Jesus respondeu: “Deixem-na em paz! Porque estão a causar-lhe problemas, se ela me fez uma boa ação? É que os pobres sempre os terão convosco, e quando o desejarem poderão fazer-lhes o bem. Mas a mim nem sempre me terão. Ela fez o que lhe foi possível e perfumou antecipadamente o meu corpo para a sepultura. É realmente como vos digo: onde quer que o evangelho seja pregado no mundo inteiro, este gesto será lembrado e elogiado.”

10 Então Judas Iscariotes, um dos discípulos, foi ter com os principais sacerdotes, para combinar a melhor forma de lhes entregar Jesus. 11 Quando esses sacerdotes souberam o motivo da sua vinda, ficaram alvoroçados e radiantes, e prometeram-lhe uma recompensa. Então começou a preparar o momento e o local certos para trair Jesus.

A ceia do Senhor

(Mt 26.17-29; Lc 22.7-23; Lc 22.17-23; 1 Co 11.23-25)

12 No primeiro dia da celebração dos pães sem fermento, em que se matava o cordeiro da Páscoa, os seus discípulos perguntaram: “Onde queres que te vamos preparar a refeição da Páscoa?”

13 Jesus mandou dois dos discípulos à cidade fazer os preparativos: “No caminho, passarão por um homem transportando um cântaro de água. Sigam-no. 14 E na casa onde entrar digam ao dono: ‘O Mestre pergunta: “Onde fica a sala onde irei comer a refeição da Páscoa com os meus discípulos?” ’ 15 Ele vos levará ao andar de cima, a uma sala grande, toda arranjada e preparada. É ali que devem preparar a nossa ceia.”

16 Os discípulos partiram, entraram na cidade e, tendo encontrado tudo como Jesus tinha dito, prepararam a ceia da Páscoa.

17 Ao anoitecer, Jesus chegou com os doze discípulos. 18 Quando estavam sentados, a comer em volta da mesa, Jesus revelou-lhes: “É realmente como vos digo: um de vocês, um dos que está aqui a comer comigo, vai trair-me!”

19 Eles começaram a ficar tristes e a perguntar-lhe um após outro: “Serei eu?”

20 Ele respondeu: “É um dos doze, que está agora a molhar comigo o pão no prato. 21 O Filho do Homem tem de morrer, tal como as Escrituras disseram há muito. Mas ai do homem que me vai trair! Mais valia nunca ter nascido!”

22 Enquanto comiam, Jesus pegou no pão e, dando graças a Deus por ele, partiu-o e deu-o aos discípulos: “Tomem; este é o meu corpo.”

23 E levantando um cálice de vinho, agradeceu a Deus por ele, distribuiu-o pelos discípulos e todos beberam dele. 24 E disse-lhes:

“Isto é o meu sangue que sela a aliança e que é derramado em favor de muitos. 25 É realmente como vos digo: não beberei outra vez vinho senão no dia em que o beber de novo no reino de Deus.” 26 Depois de cantarem um hino, foram até ao monte das Oliveiras.

Jesus prediz a negação de Pedro

(Mt 26.30-35; Lc 22.31-34; Jo 13.37-38)

27 Então Jesus disse-lhes: “Todos irão abandonar-me, porque as Escrituras dizem: ‘Ferirei o pastor e espalhar-se-ão as ovelhas.’[b] 28 Mas depois de eu ressuscitar, irei para a Galileia e lá me encontrarei convosco.”

29 Pedro disse-lhe: “Façam os outros o que fizerem, nunca te abandonarei!”

30 Mas Jesus disse: “A verdade é que esta mesma noite, antes que o galo cante pela segunda vez, negar-me-ás três vezes!”

31 “Não!”, insistiu Pedro. “Nem que tenha de morrer contigo, nunca te negarei!” E todos garantiram o mesmo.

Getsemane

32 Entretanto, chegaram ao lugar chamado Getsemane, onde disse aos discípulos: “Sentem-se aqui enquanto vou orar.”

33 Levando consigo Pedro, Tiago e João, começou a encher-se de pavor e angústia. 34 E disse-lhes: “A minha alma está cheia de uma tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem.”

35 Indo um pouco mais adiante, prostrou-se na terra e orou para que, se fosse possível, não chegasse a terrível hora que o esperava: 36 “Pai, a ti tudo é possível! Afasta de mim este cálice. Todavia, desejo a tua vontade e não a minha.”

37 Voltando então para junto dos três discípulos, encontrou-os a dormir: “Simão! Adormeceste? Nem mesmo uma hora pudeste velar comigo? 38 Vigiem e orem para não serem vencidos pela tentação, pois embora o espírito seja corajoso o corpo é fraco!”

39 E retirou-se outra vez para orar, repetindo as suas súplicas. 40 Voltou de novo para junto dos discípulos e encontrou-os outra vez a dormir, porque tinham os olhos pesados de sono. E não sabiam o que dizer.

41 Na terceira vez que voltou a ir ter com eles, disse: “Ainda estão a dormir e a descansar? Basta! Chegou a hora! Vou ser entregue nas mãos dos pecadores! 42 Levantem-se, vamos andando! Olhem, já aí vem aquele que me traiu!”

Jesus é traído e preso

(Mt 26.47-56; Lc 22.47-50; Jo 18.3-11)

43 Naquele momento, enquanto assim falava, Judas, um dos doze, chegou com muito povo armado de espadas e paus, enviado pelos principais sacerdotes, pelos especialistas na Lei e pelos anciãos. 44 Judas tinha-lhes dito que o entregaria com um sinal: “Saberão quem é quando o cumprimentar com um beijo. Então podem prendê-lo e levá-lo em segurança.”

45 Judas chegou e aproximou-se logo de Jesus, exclamando: “Mestre!” E beijou-o. 46 Então prenderam Jesus, segurando-o bem.

47 Alguém, contudo, puxou de uma espada e, atacando o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe a orelha.

48 Jesus perguntou-lhes: “Sou algum assaltante perigoso para que venham assim prender-me armados desta maneira com espadas e paus para me levarem preso? 49 Todos os dias estava convosco a ensinar no templo e não me prenderam. Mas estas coisas estão a acontecer para que se cumpra o que está escrito a meu respeito.”

50 Naquela altura, todos o abandonaram e fugiram. 51 Havia, contudo, um jovem que o seguia à distância, envolvido apenas num lençol. Quando a multidão tentou agarrá-lo, 52 ele escapou, largando o lençol, e fugiu nu.

O tribunal judaico

(Mt 26.57-68; Lc 22.54-55, 63-71; Jo 18.12-13, 19-24)

53 Jesus foi conduzido à residência do sumo sacerdote, onde todos os principais sacerdotes, outros líderes e os especialistas na Lei já se juntavam. 54 Pedro seguia-o de longe e, entrando pelo portão da casa do sumo sacerdote, sentou-se junto a uma fogueira entre os criados para se esquentar.

55 Os principais sacerdotes e todo o conselho dos anciãos reuniram-se ali e em vão tentavam encontrar alguma acusação contra Jesus que bastasse para o condenar à morte. 56 Apresentaram-se voluntariamente muitas falsas testemunhas, mas contradiziam-se umas às outras. 57 Por fim, levantaram-se uns homens que, mentindo, afirmaram: 58 “Ouvimo-lo dizer: ‘Destruirei este templo erguido por mãos humanas e em três dias construirei outro, feito sem ser por mãos humanas.’ ” 59 Mesmo assim, não conseguiam fazer acertar as declarações!

60 Então o sumo sacerdote levantou-se diante do tribunal e perguntou a Jesus: “Recusas responder a esta acusação? Que tens a dizer em tua defesa?” 61 Jesus nada disse, pelo que o sumo sacerdote lhe perguntou: “És o Cristo, o Filho do Deus bendito?”

62 Jesus respondeu: “Sou e hão de ver o Filho do Homem sentado à direita de Deus Todo-Poderoso, voltando nas nuvens do céu.”

63 Então o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: “Para que precisamos nós de outras testemunhas? 64 Ouviram a sua blasfémia! Qual é a vossa sentença?” A uma voz, votaram pela sentença de morte.

65 Então alguns começaram a cuspir nele e, vendando-lhe os olhos, davam-lhe socos na cara. “Profetiza-nos, quem foi que te bateu agora?”, zombavam. E até os guardas o agrediam a murro enquanto o levavam para fora.

Pedro nega Jesus

(Mt 26.69-75; Lc 22.54-62; Jo 18.15-18, 25-27)

66 Entretanto, Pedro continuava lá em baixo no pátio. Uma das criadas do sumo sacerdote, 67 reparando nele, enquanto se aquecia na fogueira, olhou-o e exclamou: “Tu estavas com Jesus, o nazareno.”

68 Mas Pedro negou: “Não entendo o que queres dizer.” E saiu para o fundo do pátio. Nesse momento, um galo cantou.

69 A criada reparou de novo nele ali em pé e começou a dizer: “Lá está ele, o discípulo de Jesus!” 70 Pedro tornou a negar.

Um pouco depois, outros que se encontravam em volta da fogueira começaram a dizer a Pedro: “Tu és um deles, porque vens da Galileia.”

71 Ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: “Eu nem sequer conheço esse homem de que estão a falar.” 72 E imediatamente um galo cantou pela segunda vez. De súbito, Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: “Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás.” E não aguentando mais começou a chorar.

Jesus perante Pilatos

(Mt 27.1-2, 11-14; Lc 23.1-5; Jo 18.28-38)

15 De manhã cedo, os principais sacerdotes, os anciãos do povo, os especialistas na Lei e todo o conselho reuniram-se para discutir qual a medida a tomar de seguida. A sua decisão foi mandar Jesus amarrado a Pilatos, o governador romano.

Pilatos perguntou-lhe: “És o rei dos judeus?”

Jesus respondeu: “Sim, é como tu dizes.”

Então os principais sacerdotes começaram a acusá-lo de muitos crimes. Pilatos perguntou-lhe: “Porque não dizes nada? Que respondes a todas estas acusações que te são feitas?” Mas Jesus não adiantou palavra, para grande espanto de Pilatos.

Jesus condenado à morte

(Mt 27.15-26; Lc 23.13-25; Jo 18.39–19.16)

Ora Pilatos tinha por costume soltar todos os anos, por altura da Páscoa, um preso judeu, aquele que lhe fosse pedido. Naquela altura estava preso um tal Barrabás, condenado juntamente com outros por assassínio durante uma revolta. Então começou a juntar-se uma multidão diante de Pilatos pedindo-lhe que soltasse um preso, como era habitual. “Querem que vos solte o rei dos judeus?”, perguntou Pilatos. 10 Porque ele sabia que os principais sacerdotes tinham prendido Jesus por inveja. 11 Os principais sacerdotes então atiçaram o povo para que exigisse a libertação de Barrabás em vez da de Jesus. 12 “Se eu soltar Barrabás”, perguntou novamente Pilatos, “que farei deste homem a quem chamam o rei dos judeus?”

13 E eles responderam em grande gritaria: “Crucifica-o!”

14 “Porquê?”, insistiu Pilatos. “Que mal fez ele?”

E o povo rugia cada vez mais alto: “Crucifica-o!”

15 Pilatos, com medo de um tumulto e desejoso de agradar ao povo, soltou Barrabás e depois de mandar açoitar Jesus, entregou-o para ser crucificado.

Os soldados zombam de Jesus

(Mt 27.27-31; Jo 19.2-3)

16 Assim, os soldados levaram-no para o pátio interno do palácio do governador e chamaram toda a guarnição. 17 Vestindo Jesus com um manto de púrpura, fizeram uma coroa de espinhos, que lhe colocaram na cabeça. 18 E saudavam-no, gritando: “Viva, ó rei dos judeus!” 19 E batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam nele e punham-se de joelhos, fingindo que o adoravam. 20 Quando acabaram toda aquela troça, tiraram-lhe o manto de púrpura, vestiram-no novamente com as suas roupas e levaram-no para ser crucificado.

Jesus é crucificado e morre

(Mt 27.32-44; Lc 23.26-43; Jo 19.16-27)

21 Um certo Simão, cireneu, que passava por ali vindo dos campos, foi forçado a carregar a cruz de Jesus. (Este Simão era o pai de Alexandre e de Rufo.) 22 Levando Jesus para um lugar chamado Gólgota, que significa “Lugar da Caveira”, 23 ofereceram-lhe vinho misturado com ervas amargas, mas recusou. 24 Então pregaram-no na cruz. E lançaram sortes para ver quem ficaria com as suas roupas.

25 A crucificação teve lugar cerca das nove horas da manhã. 26 Puseram na cruz uma tabuleta por cima da sua cabeça, com aquele que diziam ser o seu crime:

o rei dos judeus.

27 Naquela mesma manhã foram crucificados com ele dois malfeitores, ficando um à direita e outro à esquerda. 28 Assim se cumpriu a Escritura que dizia: “Foi contado entre os malfeitores.”[c] 29 As pessoas que passavam insultavam-no, sacudindo a cabeça e dizendo: “És capaz de destruir o templo e construí-lo de novo em três dias, não és? 30 Então, salva-te a ti mesmo e desce da cruz!”

31 Também os principais sacerdotes e os especialistas na Lei que estavam ali troçavam de Jesus: “Salvou os outros, mas não pode salvar-se a si próprio. 32 É o Cristo, o Rei de Israel? Então desça da cruz para que o vejamos e creiamos!” E até os malfeitores que ali foram crucificados com ele o amaldiçoavam.

A morte de Jesus

(Mt 27.45-56; Lc 23.44-49; Jo 19.28-30)

33 Ao meio-dia, a terra inteira ficou em trevas, que duraram até às três horas daquela tarde. 34 Às três da tarde Jesus exclamou em voz muito alta: “Eli, Eli, lema sabactani?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”[d]

35 Alguns dos que ali se encontravam pensaram que chamava por Elias. 36 Um homem correu, ensopou uma esponja e, embebendo-a em vinho azedo, elevou-a num pau. “Vejamos se Elias virá para descê-lo!”, disse.

37 Então Jesus deu outro grande brado e morreu.

38 O véu do templo rasgou-se em dois pedaços, de cima a baixo.

39 Quando o oficial romano que estava junto à cruz viu como Jesus morrera, exclamou: “Verdadeiramente era o Filho de Deus!”

40 Estavam ali algumas mulheres vendo a cena à distância, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o mais novo, e de José, e ainda Salomé, assim como outras. 41 Estas e muitas mais mulheres da Galileia, que eram seguidoras de Jesus, tinham cuidado dele quando andara por aquela província, e tinham-no acompanhado até Jerusalém.

Jesus é sepultado

(Mt 27.57-61; Lc 23.50-56; Jo 19.38-42)

42 Tudo isto aconteceu na véspera do sábado. Ao final da tarde, 43 José de Arimateia, membro respeitado do supremo tribunal, e que aguardava com ansiedade a vinda do reino de Deus, encheu-se de coragem e pediu a Pilatos o corpo de Jesus. 44 Pilatos não acreditava que Jesus já tivesse morrido. 45 Por isso, chamando o oficial romano, perguntou-lhe se era verdade. O oficial respondeu que sim, e Pilatos deixou José levar o corpo. 46 José comprou então um lençol de linho. E descendo o corpo de Jesus, embrulhou-o nele e depositou-o num túmulo escavado numa rocha. Em seguida, rolou uma pedra para tapar a entrada. 47 Maria Madalena e Maria, mãe de José, viram onde o corpo de Jesus foi colocado.

Footnotes

  1. 14.5 Trezentos denários, o valor de um ano de salário.
  2. 14.27 Zc 13.7.
  3. 15.28 Is 53.12.
  4. 15.34 Sl 22.1.