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23 Após passar ali algum tempo, tornou a partir para a província da Ásia, atravessando a Galácia e a Frígia, visitando todos os discípulos, animando-os.

24 Sucedeu que acabara de chegar a Éfeso, vindo de Alexandria no Egito, um judeu chamado Apolo, que conhecia bem as Escrituras. 25 Tinha sido instruído sobre o caminho do Senhor e falava e ensinava os outros com grande entusiasmo no espírito e com exatidão acerca de Jesus. Contudo, conhecia apenas o batismo de João. 26 Quando Priscila e Áquila o ouviram pregar com ousadia na sinagoga, convidaram-no para a sua casa e explicaram-lhe mais exatamente o caminho de Deus.

27 Apolo tinha a intenção de ir à Acaia, ideia que os discípulos encorajaram. Escreveram, até, aos cristãos dessa região, recomendando-lhes que o aceitassem com agrado. Chegado à Acaia, Apolo ajudou grandemente os que tinham recebido a fé através da graça, 28 pois derrubava com poder todos os argumentos dos judeus em debate público, mostrando pelas Escrituras que Jesus era, de facto, o Cristo.

Paulo em Éfeso

19 Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo percorreu a província da Ásia e chegou a Éfeso, onde encontrou vários discípulos. “Receberam o Espírito Santo quando creram?”, perguntou-lhes.

“Não, nem entendemos o que seja o Espírito Santo!”

“Mas em que doutrina é que creram quando foram batizados?”, perguntou-lhes.

“Naquilo que João Batista ensinou.”

Paulo explicou-lhes então que o batismo de João servia para manifestar o desejo de nos desviarmos do pecado e nos voltarmos para Deus, mas que os que recebiam esse batismo tinham de dar um passo em frente e crer em Jesus, aquele que João dissera que viria mais tarde. Logo que souberam disto, foram batizados no nome do Senhor Jesus. Quando Paulo lhes colocou as mãos sobre a cabeça, o Espírito Santo desceu sobre eles, e começaram a falar noutras línguas e a profetizar. Eram cerca de doze homens.

Depois disto, Paulo foi à sinagoga, onde pregou livremente durante três meses, discorrendo e argumentado acerca do reino de Deus. Alguns, porém, resistiram a esta mensagem e recusaram-se a crer nela, denegrindo publicamente o caminho cristão. Paulo então retirou-se da sinagoga. Levando os discípulos consigo, começou com reuniões separadas na escola de Tirano, onde discorria diariamente. 10 Isto continuou durante dois anos, de modo que toda a gente da província da Ásia, tanto judeus como gregos, ouviu a palavra do Senhor.

11 E Deus fazia milagres por intermédio de Paulo, 12 de tal modo que, quando se pousavam lenços seus ou peças do seu vestuário sobre os doentes estes ficavam curados e saíam deles quaisquer espíritos maus de que estivessem possuídos.

13 Um grupo de judeus que viajavam de terra em terra expulsando espíritos maus tentou servir-se do nome do Senhor Jesus dizendo: “Conjuro-te por Jesus, a quem Paulo prega, que saias!” 14 Os homens que faziam isto eram sete filhos de Ceva, sumo sacerdote judeu. 15 Mas quando experimentaram fazê-lo num homem possuído por um espírito mau, este último respondeu: “Conheço Jesus e conheço Paulo, mas vocês quem são?” 16 E saltando sobre dois deles o homem que tinha o espírito mau, espancou-os, de tal modo que fugiram daquela casa nus e muito magoados.

17 A notícia do que tinha acontecido espalhou-se rapidamente por toda a cidade de Éfeso, tanto entre os judeus como entre os gregos. Sobre a cidade desceu um medo solene e o nome do Senhor Jesus era grandemente honrado.

18 Muitos dos crentes que outrora praticavam bruxarias confessaram os seus atos. 19 Trazendo os seus livros sobre aquelas coisas, queimaram-nos em fogueira pública. Calculou-se que aquilo tudo valia umas 50.000 peças de prata. 20 A ação exercida pela mensagem de Deus era poderosa e estendia-se cada vez mais.

21 Depois disto, Paulo sentiu-se impelido pelo Espírito Santo a atravessar a Macedónia e a Acaia, antes de regressar a Jerusalém. “E depois”, afirmou, “tenho de seguir para Roma!” 22 Assim, mandou à frente os seus dois auxiliares, Timóteo e Erasto, para a Macedónia, enquanto permanecia mais algum tempo na província da Ásia.

Tumulto em Éfeso

23 Por essa altura, houve um grande tumulto em Éfeso, por causa dos que andavam no caminho do Senhor. 24 Começou com Demétrio, um ourives de prata que fazia templos de prata para Ártemis que fazia e proporcionava aos artesãos um nada pequeno rendimento. 25 Reunindo esses trabalhadores e outros que se ocupavam em ofícios semelhantes, dirigiu-lhes as seguintes palavras: “Companheiros, este trabalho é a fonte dos nossos proventos. 26 Como bem sabem, pelo que já viram e ouviram, este homem, Paulo, tem convencido inúmeras pessoas que os deuses feitos por mãos humanas não são deuses. Isto está a tornar-se evidente não só aqui em Éfeso, mas também em toda a província. 27 É claro que não me preocupo apenas com o descrédito da nossa atividade, mas penso também no perigo do templo da grande Ártemis perder a sua influência e a deusa magnífica, adorada não só nesta parte da província da Ásia como também no mundo inteiro, cair no esquecimento.”

28 Ao ouvirem estas palavras, a fúria daqueles homens despertou e começaram a gritar: “Grande é a Ártemis dos efésios!” 29 Juntou-se uma multidão e em breve a cidade se amotinava. Todos correram ao anfiteatro, arrastando Gaio e Aristarco, companheiros de viagem de Paulo, da Macedónia. 30 Paulo queria entrar também, mas os discípulos não lho permitiram. 31 Até algumas autoridades da província, amigos de Paulo, lhe mandaram recado pedindo-lhe que não entrasse no anfiteatro.

32 Lá dentro, toda a gente gritava; uns uma coisa, outros outra; uma confusão. A maior parte das pessoas nem sequer sabia por que razão se encontravam ali. 33 Alguns dos judeus descobriram Alexandre entre a multidão e arrastaram-no para a frente. Ele então, acenando com a mão, pediu silêncio e procurou falar. 34 Mas a multidão, vendo que era judeu, começou outra vez a gritar, clamando durante duas horas: “Grande é a Ártemis dos efésios!”

35 Por fim, o administrador da cidade conseguiu acalmar a multidão com as seguintes palavras: “Homens de Éfeso, toda a gente sabe que Éfeso é o centro da religião da grande Ártemis, cuja imagem caiu dos céus neste local. 36 Uma vez que se trata de um facto inegável, não devem deixar-se perturbar, nem fazer nada de precipitado. 37 No entanto, trouxeram aqui estes homens, que nada roubaram no templo da deusa nem a ofenderam. 38 Se Demétrio e os artífices têm alguma coisa contra eles, os tribunais estão a funcionar e os juízes podem pronunciar-se sobre o caso. 39 Se há outras queixas, podem ser examinadas numa assembleia legal; 40 pois corremos o perigo de ter de prestar contas ao governo romano pelos motins de hoje, sem que haja qualquer motivo que possamos dar para justificar este tumulto.” 41 Assim os despediu e encerrou a assembleia.

Através da Macedónia e Grécia

20 Acabada a confusão, Paulo reuniu os discípulos, dirigiu-lhes uma mensagem de encorajamento, despediu-se e partiu para a Macedónia. Viajou através dessa região, encorajando os crentes em todas as vilas e cidades. Depois chegou à Grécia, ficando ali durante três meses. Preparava-se para embarcar para a Síria, quando descobriu que os judeus conspiravam contra a sua vida. Resolveu então ir primeiro ao norte, à Macedónia.

Acompanharam-no: Sópatro, filho de Pirro, de Bereia; Aristarco e Segundo de Tessalónica; Gaio de Derbe; Timóteo; Tíquico e Trófimo que eram da província da Ásia. Estes últimos, tendo partido à frente, esperaram-nos em Tróade. Mal terminaram as cerimónias da Páscoa, embarcámos em Filipos e passados cinco dias chegávamos a Tróade, na província da Ásia, onde ficámos uma semana.

Êutico é ressuscitado em Tróade

No domingo, reunimo-nos para cear juntos. Paulo pregou nesse encontro e, porque ia partir no dia seguinte, alongou o seu discurso até à meia-noite. A sala no andar onde nos reunimos estava iluminada com muitas lâmpadas a óleo. E como Paulo prolongasse muito o seu sermão, um jovem chamado Êutico, que estava sentado no parapeito duma janela, adormeceu e caiu da altura de três andares, tendo morrido. 10 Paulo desceu e, levantando-o nos braços, disse: “Não se preocupem; ele está vivo!” 11 Voltaram todos para cima e tomaram juntos uma refeição. Paulo ainda lhes falou longamente e já era madrugada quando partiu. 12 Levaram o rapaz dali vivo, o que os deixou não pouco consolados.

A despedida de Paulo dos anciãos de Éfeso

13 Nós seguimos à frente de barco e navegámos até Asson, onde ficámos de receber Paulo, pois assim ele no-lo ordenara, ponde-se ele a caminho por terra. 14 Ali, reuniu-se connosco e embarcámos juntos para Mitilene. 15 No dia seguinte passámos junto a Quio; no outro aproámos a Samos; um dia mais tarde chegámos a Mileto.

16 Paulo resolvera não parar em Éfeso desta vez, para evitar passar tempo na província da Ásia, visto ter pressa em chegar a Jerusalém, se possível para celebrar o Pentecostes. 17 Por isso, quando desembarcámos em Mileto, mandou recado aos anciãos da igreja de Éfeso, pedindo-lhes para virem ter com ele.

18 Quando chegaram, disse-lhes: “Desde o dia em que desembarquei na província da Ásia, até agora, sabem de que modo tenho passado todo o tempo na vossa companhia 19 servindo humildemente o Senhor, no meio de lágrimas e grandes perigos, devido às conspirações dos judeus contra a minha vida. 20 No entanto, nunca deixei de dizer-vos nem de ensinar-vos tudo o que vos fosse útil, quer publicamente quer em vossas casas. 21 O meu testemunho tanto para os judeus como para gentios tem sido o mesmo: que é preciso arrependerem-se do pecado, converterem-se a Deus e crerem no nosso Senhor Jesus Cristo.

22 Agora sigo para Jerusalém, levado pelo Espírito Santo, sem saber o que me espera, 23 a não ser que o Espírito Santo me tem dito que me esperam a prisão e o sofrimento, de cidade em cidade. 24 Porém, não atribuo à minha vida valor algum se não completar a carreira e cumprir a tarefa que me foi confiada pelo Senhor Jesus, ou seja, dar testemunho do evangelho da graça de Deus.

25 Sei bem que nenhum de vocês, junto de quem estive a pregar o reino de Deus, nunca mais tornará a ver-me. 26 Por isso, vos testemunho solenemente, hoje mesmo, que estou inocente da perdição eterna seja de quem for; 27 pois nunca deixei de vos anunciar integralmente a vontade de Deus.

28 Olhem agora por vocês próprios e pelo rebanho de Deus, sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu líderes, para alimentar a igreja que Jesus comprou com o seu próprio sangue. 29 Sei muito bem que, quando vos deixar, hão de aparecer no vosso meio mestres que, como lobos ferozes, não pouparão o rebanho. 30 Mesmo alguns de vocês hão de torcer a verdade só para arranjar discípulos.

31 Cuidado e vigiem! Lembrem-se dos três anos que convosco passei, do meu constante cuidado noite e dia, aconselhando-vos e avisando-vos, até com lágrimas. 32 E agora confio-vos a Deus, ao seu cuidado e à palavra da sua graça. É esta palavra que pode construir a vossa fé e garantir-vos a herança que vos reserva, a vocês e a todos os que são santificados.

33 Nunca cobicei nem prata nem ouro, nem o vestuário, nem as riquezas de ninguém. 34 Sabem que estas minhas mãos trabalharam para me sustentar, e até para atender às necessidades dos que estavam comigo. 35 Em tudo, quis mostrar-vos como, trabalhando esforçadamente, devemos auxiliar os fracos e lembrar-nos das palavras do Senhor Jesus: ‘É mais feliz dar do que receber!’ ”

36 Quando acabou de falar, ajoelhou-se e orou com todos os crentes. 37 Todos choravam copiosamente, abraçando e beijando Paulo, 38 entristecendo-se, sobretudo, por ele ter dito que nunca mais eles haveriam de o ver. Seguidamente, acompanharam-no até ao navio.

Paulo a caminho de Jerusalém

21 Depois de nos termos separado dos pastores de Éfeso, velejámos diretamente para Cós. No dia seguinte, chegámos a Rodes, prosseguindo para Pátara. Ali, tomámos um navio que ia partir para a província da Fenícia. Avistámos a ilha de Chipre, que deixámos à nossa esquerda, e desembarcámos no porto de Tiro, na Síria, onde o barco foi descarregado. Entrámos então em contacto com os discípulos da terra, ficando com eles durante uma semana. Estes discípulos aconselharam Paulo, da parte do Espírito, a não se dirigir para Jerusalém. No fim da semana, quando voltámos para bordo, todos os crentes, incluindo mulheres e crianças, acompanharam-nos para fora da cidade; fomos até à praia, onde orámos ajoelhados e nos despedimos. Depois embarcámos e eles voltaram para casa.

A paragem seguinte, depois de sairmos de Tiro, foi Ptolemaida, onde saudámos os crentes, demorando-nos junto deles, porém, só um dia. Seguimos então para Cesareia e ficámos em casa de Filipe, o evangelista, um dos primeiros sete diáconos. Ele tinha quatro filhas solteiras que possuíam o dom da profecia.

10 Durante a nossa estada de vários dias, fomos visitados por um profeta chamado Ágabo, vindo da Judeia. 11 Dirigindo-se a nós, pegou no cinto de Paulo, amarrou os seus próprios pés e mãos com ele e disse: “Assim diz o Espírito Santo: ‘O homem a quem este cinto pertence será semelhantemente amarrado pelos judeus em Jerusalém e entregue aos gentios.’ ”

12 Ao ouvirmos isto, todos nós, os crentes locais e os companheiros de Paulo, pedimos ao apóstolo que não continuasse viagem para Jerusalém. 13 Mas ele respondeu: “Para que é todo este pranto? Magoam-me o coração, pois estou pronto não só a ser amarrado como também a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.” 14 Quando não havia dúvidas de que era impossível desviar Paulo da sua decisão, desistimos e dissemos: “Faça-se a vontade do Senhor!”

Chegada de Paulo a Jerusalém

15 Assim, passado pouco tempo, juntámos a bagagem e partimos para Jerusalém. 16 Alguns discípulos de Cesareia acompanharam-nos e levaram-nos à casa de Mnasom, natural de Chipre e um dos primeiros discípulos. 17 E todos os irmãos em Jerusalém nos acolheram cordialmente.

18 No segundo dia, Paulo levou-nos consigo para nos encontrarmos com Tiago e com os anciãos da igreja de Jerusalém. 19 Trocadas saudações, Paulo contou as muitas coisas que Deus fizera entre os gentios através do seu trabalho.

20 Eles glorificaram Deus, mas disseram: “Sabes, irmão, quantos milhares de judeus creram também, e todos eles observam zelosamente a Lei. 21 Eles foram informados de que ensinas todos os judeus que vivem no meio dos gentios a afastarem-se da Lei de Moisés, instruindo-os a não circuncidarem os filhos e a não seguirem os costumes judaicos. 22 O que vamos fazer? Sem dúvida que lhes constará que estás de volta.

23 Faz então o que te estamos a dizer: temos aqui quatro homens que se preparam para rapar a cabeça e fazer um voto. 24 Vai com eles ao templo, rapa também a cabeça e paga para que a deles também seja rapada. Assim, todos ficarão a saber que não é verdade o que andam a dizer de ti e que respeitas a Lei.

25 Quanto aos convertidos oriundos dos gentios, comunicamos-lhe a nossa decisão: que se abstenham das carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne não sangrada de animais estrangulados e da imoralidade sexual.”

26 No dia seguinte, Paulo foi com os tais homens ao templo para a referida cerimónia, anunciando assim publicamente o cumprimento dos dias de purificação até que fosse levantada a oferta a favor de cada um deles.

Paulo é preso

27 Os sete dias tinham quase acabado, quando alguns judeus da província da Ásia o viram no templo e, incitando a multidão contra ele, agarraram-no, 28 gritando: “Gente de Israel, venham cá todos! É este o homem que ensina toda a gente em toda a parte contra o nosso povo, contra a Lei e este lugar. Chegou a introduzir gentios no templo e contaminou este lugar santo!” 29 (É que, naquele mesmo dia, tinham-no visto na cidade com Trófimo, gentio de Éfeso, julgando que Paulo o tivesse levado ao templo.)

30 Toda a população da cidade ficou alvoroçada com estas acusações e juntou-se uma multidão. Paulo foi arrastado para fora do templo, cujos portões logo se fecharam. 31 Enquanto procuravam matá-lo, o comandante da guarnição romana foi informado de que toda a Jerusalém estava agitada. 32 Imediatamente mandou aos seus soldados e oficiais que saíssem e ele próprio veio verificar o que se passava. Ao ver que as tropas se aproximavam, a multidão parou de espancar Paulo.

33 O comandante prendeu-o, mandou que o acorrentassem com cadeias dobradas e perguntou à multidão quem era e o que fizera. 34 No meio da multidão, uns gritavam uma coisa, outros outra. Vendo que, naquele tumulto e confusão, não conseguia entender nada, ordenou que o levassem para a fortaleza. 35 Ao chegarem às escadas, a multidão mostrou-se tão violenta que os soldados colocaram Paulo aos ombros para o proteger, 36 enquanto o povo seguia atrás, gritando: “Matem-no!”

Paulo fala à multidão

37 Ao ser levado para dentro, Paulo perguntou ao comandante: “Posso dizer-te uma coisa?”

“Sabes grego?”, perguntou, por sua vez, o comandante. 38 “Não és aquele egípcio que chefiou a revolta há uns tempos e levou consigo 4000 terroristas para o deserto?”

39 “Não!”, respondeu Paulo. “Sou judeu de Tarso, na Cilícia, uma cidade bastante importante, e peço autorização para falar a esta gente.”

40 O comandante concordou. Paulo de pé, nos degraus, fez um gesto ao povo para que se acalmasse. Em breve houve silêncio e Paulo disse, em hebraico, o seguinte:

22 “Irmãos e pais, escutem-me no que vou dizer-vos em minha defesa.” Quando o ouviram falar em hebraico, o silêncio tornou-se ainda maior.

“Sou judeu, nascido em Tarso, cidade da Cilícia, mas educado aqui em Jerusalém sob o ensino de Gamaliel, a cujos pés aprendi a seguir com muito cuidado a nossa Lei e costumes. O meu anseio era honrar a Deus em tudo o que fazia, tal como vocês procuram fazer hoje. Assim, persegui os seguidores do Caminho até à morte, prendendo e entregando à prisão tanto homens como mulheres. O sumo sacerdote pode confirmá-lo, ou até qualquer membro do conselho judaico, pois pedi-lhes que passassem cartas para os irmãos em Damasco, com instruções para me deixarem trazer acorrentado para Jerusalém qualquer cristão que encontrasse, para ser castigado.

Seguia eu pela estrada, já perto de Damasco, quando subitamente, cerca do meio-dia, brilhou em torno de mim uma luz muito forte vinda do céu. Caí e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues?’

‘Quem és tu, Senhor?’, perguntei.

‘Sou Jesus de Nazaré, aquele a quem persegues.’ Os homens que estavam comigo viram a luz, mas não compreenderam as palavras.

10 E eu disse: ‘Que devo eu fazer, Senhor?’

E o Senhor disse-me: ‘Levanta-te, entra em Damasco e aí te será dito o que deves fazer.’

11 A luz era tão forte que deixei de ver e tive de ser conduzido para Damasco pelos meus companheiros. 12 Aí, Ananias, homem obediente a Deus, devoto à Lei e que gozava da consideração de todos os judeus de Damasco, 13 veio ver-me e, chegando-se junto de mim, disse-me: ‘Irmão Saulo, recupera a vista!’ E naquele momento consegui vê-lo.

14 Então disse-me: ‘O Deus de nossos pais escolheu-te para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvi-lo falar. 15 Deverás testemunhar diante de todos os homens aquilo que viste e ouviste. 16 Agora, não te demores. Levanta-te, vai batizar-te e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor.’

17 Um dia depois do meu regresso a Jerusalém, quando orava no templo, tive uma visão 18 em que Jesus me disse: ‘Apressa-te, sai de Jerusalém, pois não acreditarão em ti, quando lhes falares acerca de mim.’

19 ‘Senhor’, respondi, ‘eles sabem, sem dúvida, que meti na prisão e espanquei os membros de todas as sinagogas que criam em ti. 20 E quando a tua testemunha, Estêvão, foi morta, lá estava eu manifestando a minha aprovação ao tomar conta da roupa dos que o apedrejavam.’

21 Mas o Senhor disse-me: ‘Sai de Jerusalém, pois vou mandar-te para longe, para os gentios!’ ”

Paulo, o cidadão romano

22 A multidão escutou Paulo até ele dizer aquela palavra; mas, ao ouvi-la, todos gritaram a uma só voz: “Fora com esse homem! Matem-no! Não é digno de viver!” 23 Clamando eles e lançando ao ar a túnica, misturada com terra, 24 o comandante levou-o para dentro e ordenou que fosse açoitado, para que confessasse o crime, pois pretendia descobrir por que motivo a multidão se enfurecera daquela maneira. 25 Quando estavam a amarrar Paulo para o açoitar, este disse a um oficial que se encontrava perto: “Será legal chicotear um cidadão romano que nem sequer foi julgado?”

26 O oficial, ao ouvir isto, falou com o comandante e avisou-o: “Vê lá o que vais fazer! Trata-se de um cidadão romano!”

27 O comandante foi ter com Paulo e perguntou-lhe: “Diz-me, és cidadão romano?”

“Sou, sim!”, respondeu Paulo.

28 “Também eu”, murmurou o comandante, “e esse direito custou-me muito dinheiro!”

Paulo, por seu turno, respondeu: “Mas eu sou cidadão romano por nascimento!”

29 Os soldados que se preparavam para interrogar Paulo foram-se logo embora, quando souberam que era cidadão romano, e o próprio comandante ficou assustado por Paulo ser cidadão romano e por o ter amarrado.

Paulo é levado ao conselho judaico

30 No dia seguinte, o comandante, desejoso de saber ao certo por que razão Paulo estava a ser acusado pelos judeus, tirou-lhe as cadeias e, mandando convocar os principais sacerdotes para uma sessão com o conselho, trouxe Paulo e apresentou-o.

23 E, estando ali algum tempo, partiu, passando sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia, confirmando a todos os discípulos.

Apolo em Éfeso e em Corinto

24 E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, varão eloquente e poderoso nas Escrituras. 25 Este era instruído no caminho do Senhor; e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. 26 Ele começou a falar ousadamente na sinagoga. Quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais pontualmente o caminho de Deus. 27 Querendo ele passar à Acaia, o animaram os irmãos e escreveram aos discípulos que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam. 28 Porque com grande veemência convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo.

A terceira viagem missionária de Paulo. Paulo prega o evangelho em Éfeso. Tumulto excitado por Demétrio

19 E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos, disse-lhes: Recebestes vós o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados, então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam. Estes eram, ao todo, uns doze varões.

E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do Reino de Deus. Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. 10 E durou isto por espaço de dois anos, de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos. 11 E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia maravilhas extraordinárias, 12 de sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam. 13 E alguns dos exorcistas judeus, ambulantes, tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega. 14 Os que faziam isto eram sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes. 15 Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus e bem sei quem é Paulo; mas vós, quem sois? 16 E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno e assenhoreando-se de dois, pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa. 17 E foi isto notório a todos os que habitavam em Éfeso, tanto judeus como gregos; e caiu temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido. 18 Muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. 19 Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros e os queimaram na presença de todos, e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata. 20 Assim, a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.

21 E, cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma. 22 E, enviando à Macedônia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Ásia.

23 Naquele mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho. 24 Porque um certo ourives da prata, por nome Demétrio, que fazia, de prata, nichos de Diana, dava não pouco lucro aos artífices, 25 aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Varões, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade; 26 e bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. 27 Não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram a ser destruída.

28 Ouvindo isto, encheram-se de ira e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios! 29 E encheu-se de confusão toda a cidade, e unânimes correram ao teatro, arrebatando a Gaio e a Aristarco, macedônios, companheiros de Paulo na viagem. 30 E, querendo Paulo apresentar-se ao povo, não lho permitiram os discípulos. 31 Também alguns dos principais da Ásia, que eram seus amigos, lhe rogaram que não se apresentasse no teatro. 32 Uns, pois, clamavam de uma maneira, outros, de outra, porque o ajuntamento era confuso; e os mais deles não sabiam por que causa se tinham ajuntado. 33 Então, tiraram Alexandre dentre a multidão, impelindo-o os judeus para diante; e Alexandre, acenando com a mão, queria dar razão disto ao povo. 34 Mas, quando conheceram que era judeu, todos unanimemente levantaram a voz, clamando por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios! 35 Então, o escrivão da cidade, tendo apaziguado a multidão, disse: Varões efésios, qual é o homem que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana e da imagem que desceu de Júpiter? 36 Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais temerariamente; 37 porque estes homens que aqui trouxestes nem são sacrílegos nem blasfemam da vossa deusa. 38 Mas, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma coisa contra alguém, há audiências e há procônsules; que se acusem uns aos outros. 39 Mas, se alguma outra coisa demandais, averiguar-se-á em legítimo ajuntamento. 40 Na verdade, até corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sedição, não havendo causa alguma com que possamos justificar este concurso. 41 E, tendo dito isto, despediu o ajuntamento.

Paulo visita outra vez a Macedônia e a Grécia e, depois, volta para a Ásia

20 Depois que cessou o alvoroço, Paulo chamou a si os discípulos e, abraçando-os, saiu para a Macedônia. E, havendo andado por aquelas terras e exortando-os com muitas palavras, veio à Grécia. Passando ali três meses e sendo-lhe pelos judeus postas ciladas, como tivesse de navegar para a Síria, determinou voltar pela Macedônia. E acompanhou-o, até à Ásia, Sópatro, de Bereia, e, dos de Tessalônica, Aristarco e Segundo, e Gaio, de Derbe, e Timóteo, e, dos da Ásia, Tíquico e Trófimo. Estes, indo adiante, nos esperaram em Trôade. E, depois dos dias dos pães asmos, navegamos de Filipos e, em cinco dias, fomos ter com eles a Trôade, onde estivemos sete dias.

No primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática até à meia-noite. Havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos. E, estando um certo jovem, por nome Êutico, assentado numa janela, caiu do terceiro andar, tomado de um sono profundo que lhe sobreveio durante o extenso discurso de Paulo; e foi levantado morto. 10 Paulo, porém, descendo, inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Não vos perturbeis, que a sua alma nele está. 11 E, subindo, e partindo o pão, e comendo, ainda lhes falou largamente até à alvorada; e, assim, partiu. 12 E levaram vivo o jovem, e ficaram não pouco consolados.

13 Nós, porém, subindo ao navio, navegamos até Assôs, onde devíamos receber a Paulo, porque assim o ordenara, indo ele por terra. 14 E, logo que se ajuntou conosco em Assôs, o recebemos e fomos a Mitilene. 15 E, navegando dali, chegamos no dia seguinte defronte de Quios, no outro, aportamos a Samos e, ficando em Trogílio, chegamos no dia seguinte a Mileto. 16 Porque Paulo tinha determinado passar adiante de Éfeso, para não gastar tempo na Ásia. Apressava-se, pois, para estar, se lhe fosse possível, em Jerusalém no dia de Pentecostes.

O discurso de Paulo aos anciãos da igreja de Éfeso

17 De Mileto, mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja. 18 E, logo que chegaram junto dele, disse-lhes: Vós bem sabeis, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós, 19 servindo ao Senhor com toda a humildade e com muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram; 20 como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas, 21 testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. 22 E, agora, eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer, 23 senão o que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações. 24 Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. 25 E, agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o Reino de Deus, não vereis mais o meu rosto. 26 Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos; 27 porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus. 28 Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. 29 Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. 30 E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. 31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós. 32 Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele, que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados. 33 De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem a veste. 34 Vós mesmos sabeis que, para o que me era necessário, a mim e aos que estão comigo, estas mãos me serviram. 35 Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.

36 E, havendo dito isto, pôs-se de joelhos e orou com todos eles. 37 E levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam, 38 entristecendo-se muito, principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto. E acompanharam-no até ao navio.

Paulo chega a Jerusalém e é preso no templo

21 E aconteceu que, separando-nos deles, navegamos e fomos correndo caminho direito e chegamos a Cós e, no dia seguinte, a Rodes, de onde passamos a Pátara. Achando um navio que ia para a Fenícia, embarcamos nele e partimos. E, indo à vista de Chipre, deixando-a à esquerda, navegamos para a Síria e chegamos a Tiro; porque o navio havia de ser descarregado ali. E, achando discípulos, ficamos ali sete dias; e eles, pelo Espírito, diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém. E, havendo passado ali aqueles dias, saímos e seguimos nosso caminho, acompanhando-nos todos, cada um com sua mulher e filhos até fora da cidade; e, postos de joelhos na praia, oramos. E, saudando-nos uns aos outros, subimos ao navio; e eles voltaram para casa.

E nós, concluída a navegação de Tiro, viemos a Ptolemaida; e, havendo saudado os irmãos, ficamos com eles um dia. No dia seguinte, partindo dali Paulo e nós que com ele estávamos, chegamos a Cesareia; e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele. Tinha este quatro filhas donzelas, que profetizavam. 10 E, demorando-nos ali por muitos dias, chegou da Judeia um profeta, por nome Ágabo; 11 e, vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo e, ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus, em Jerusalém, o varão de quem é esta cinta e o entregarão nas mãos dos gentios. 12 E, ouvindo nós isto, rogamos-lhe, tanto nós como os que eram daquele lugar, que não subisse a Jerusalém. 13 Mas Paulo respondeu: Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus. 14 E, como não podíamos convencê-lo, nos aquietamos, dizendo: Faça-se a vontade do Senhor!

15 Depois daqueles dias, havendo feito os nossos preparativos, subimos a Jerusalém. 16 E foram também conosco alguns discípulos de Cesareia, levando consigo um certo Mnasom, natural de Chipre, discípulo antigo, com quem havíamos de hospedar-nos.

17 E, logo que chegamos a Jerusalém, os irmãos nos receberam de muito boa vontade. 18 No dia seguinte, Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciãos vieram ali. 19 E, havendo-os saudado, contou-lhes minuciosamente o que por seu ministério Deus fizera entre os gentios. 20 E, ouvindo-o eles, glorificaram ao Senhor e disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que creem, e todos são zelosos da lei. 21 E acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar os filhos, nem andar segundo o costume da lei. 22 Que faremos, pois? Em todo o caso é necessário que a multidão se ajunte; porque terão ouvido que já és vindo. 23 Faze, pois, isto que te dizemos: temos quatro varões que fizeram voto. 24 Toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei. 25 Todavia, quanto aos que creem dos gentios, nós havemos escrito e achado por bem que nada disto observem; mas que só se guardem do que se sacrifica aos ídolos, e do sangue, e do sufocado, e da prostituição. 26 Então, Paulo, tomando consigo aqueles varões, entrou, no dia seguinte, no templo, já santificado com eles, anunciando serem cumpridos os dias da purificação; e ficou ali até se oferecer em favor de cada um deles a oferta.

27 Quando os sete dias estavam quase a terminar, os judeus da Ásia, vendo-o no templo, alvoroçaram todo o povo e lançaram mão dele, 28 clamando: Varões israelitas, acudi! Este é o homem que por todas as partes ensina a todos, contra o povo, e contra a lei, e contra este lugar; e, demais disto, introduziu também no templo os gregos e profanou este santo lugar. 29 Porque tinham visto com ele na cidade a Trófimo, de Éfeso, o qual pensavam que Paulo introduzira no templo. 30 E alvoroçou-se toda a cidade, e houve grande concurso de povo; e, pegando de Paulo, o arrastaram para fora do templo, e logo as portas se fecharam. 31 E, procurando eles matá-lo, chegou ao tribuno da coorte o aviso de que Jerusalém estava toda em confusão. 32 Este, tomando logo consigo soldados e centuriões, correu para eles. E, quando viram o tribuno e os soldados, cessaram de ferir a Paulo. 33 Então, aproximando-se o tribuno, o prendeu, e o mandou atar com duas cadeias, e lhe perguntou quem era e o que tinha feito. 34 E, na multidão, uns clamavam de uma maneira; outros, de outra; mas, como nada podia saber ao certo por causa do alvoroço, mandou conduzi-lo para a fortaleza. 35 E sucedeu que, chegando às escadas, os soldados tiveram de lhe pegar por causa da violência da multidão, 36 porque a multidão do povo o seguia, clamando: Mata-o!

37 E, quando iam introduzir Paulo na fortaleza, disse Paulo ao tribuno: É-me permitido dizer-te alguma coisa? E ele disse: Sabes o grego? 38 Não és tu, porventura, aquele egípcio que antes destes dias fez uma sedição e levou ao deserto quatro mil salteadores? 39 Mas Paulo lhe disse: Na verdade, eu sou um homem judeu, cidadão de Tarso, cidade não pouco célebre na Cilícia; rogo-te, porém, que me permitas falar ao povo. 40 E, havendo-lho permitido, Paulo, pondo-se em pé nas escadas, fez sinal com a mão ao povo; e, feito grande silêncio, falou-lhes em língua hebraica, dizendo:

O discurso de Paulo em sua defesa

22 Varões irmãos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós. (E, quando ouviram falar-lhes em língua hebraica, maior silêncio guardaram.) E disse:

Quanto a mim, sou varão judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso para com Deus, como todos vós hoje sois. Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em prisões, tanto homens como mulheres, como também o sumo sacerdote me é testemunha, e todo o conselho dos anciãos; e, recebendo destes cartas para os irmãos, fui a Damasco, para trazer manietados para Jerusalém aqueles que ali estivessem, a fim de que fossem castigados.

Ora, aconteceu que, indo eu de caminho e chegando perto de Damasco, quase ao meio-dia, de repente me rodeou uma grande luz do céu. E caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E eu respondi: Quem és, Senhor? E disse-me: Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues. E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram muito; mas não ouviram a voz daquele que falava comigo. 10 Então, disse eu: Senhor, que farei? E o Senhor disse-me: Levanta-te e vai a Damasco, e ali se te dirá tudo o que te é ordenado fazer. 11 E, como eu não via por causa do esplendor daquela luz, fui levado pela mão dos que estavam comigo e cheguei a Damasco.

12 E um certo Ananias, varão piedoso conforme a lei, que tinha bom testemunho de todos os judeus que ali moravam, 13 vindo ter comigo e apresentando-se, disse-me: Saulo, irmão, recobra a vista. E naquela mesma hora o vi. 14 E ele disse: O Deus de nossos pais de antemão te designou para que conheças a sua vontade, e vejas aquele Justo, e ouças a voz da sua boca. 15 Porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido. 16 E, agora, por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor.

17 E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim. 18 E vi aquele que me dizia: Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho acerca de mim. 19 E eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu lançava na prisão e açoitava nas sinagogas os que criam em ti. 20 E, quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as vestes dos que o matavam. 21 E disse-me: Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe.

22 E ouviram-no até esta palavra e levantaram a voz, dizendo: Tira da terra um tal homem, porque não convém que viva! 23 E, clamando eles, e arrojando de si as vestes, e lançando pó para o ar, 24 o tribuno mandou que o levassem para a fortaleza, dizendo que o examinassem com açoites, para saber por que causa assim clamavam contra ele. 25 E, quando o estavam atando com correias, disse Paulo ao centurião que ali estava: É-vos lícito açoitar um romano, sem ser condenado? 26 E, ouvindo isto, o centurião foi e anunciou ao tribuno, dizendo: Vê o que vais fazer, porque este homem é romano. 27 E, vindo o tribuno, disse-lhe: Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim. 28 E respondeu o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu sou-o de nascimento. 29 E logo dele se apartaram os que o haviam de examinar; e até o tribuno teve temor, quando soube que era romano, visto que o tinha ligado.

Paulo perante o Sinédrio

30 No dia seguinte, querendo saber ao certo a causa por que era acusado pelos judeus, soltou-o das prisões e mandou vir os principais dos sacerdotes e todo o seu conselho; e, trazendo Paulo, o apresentou diante deles.