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Deus responde a Jó e mostra-lhe sua grandeza e sabedoria

38 Depois disto, o Senhor respondeu a Jó de um redemoinho e disse: Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-me.

Onde estavas tu quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência. Quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina, quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam?

Ou quem encerrou o mar com portas, quando trasbordou e saiu da madre, quando eu pus as nuvens por sua vestidura e, a escuridão, por envolvedouro? 10 Quando passei sobre ele o meu decreto, e lhe pus portas e ferrolhos, 11 e disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se quebrarão as tuas ondas empoladas?

12 Ou desde os teus dias deste ordem à madrugada ou mostraste à alva o seu lugar, 13 para que agarrasse nas extremidades da terra, e os ímpios fossem sacudidos dela? 14 Tudo se modela como o barro sob o selo e se põe como vestes; 15 e dos ímpios se desvia a sua luz, e o braço altivo se quebranta.

16 Ou entraste tu até às origens do mar, ou passeaste no mais profundo do abismo? 17 Ou descobriram-se-te as portas da morte, ou viste as portas da sombra da morte? 18 Ou com o teu entendimento chegaste às larguras da terra? Faze-mo saber, se sabes tudo isto.

19 Onde está o caminho da morada da luz? E, quanto às trevas, onde está o seu lugar, 20 para que as tragas aos seus limites, e para que saibas as veredas da sua casa? 21 Decerto, tu o sabes, porque já então eras nascido, e porque é grande o número dos teus dias!

22 Ou entraste tu até aos tesouros da neve e viste os tesouros da saraiva, 23 que eu retenho até ao tempo da angústia, até ao dia da peleja e da guerra?

24 Onde está o caminho em que se reparte a luz, e se espalha o vento oriental sobre a terra? 25 Quem abriu para a inundação um leito e um caminho para os relâmpagos dos trovões, 26 para chover sobre uma terra onde não há ninguém e no deserto, em que não gente; 27 para fartar a terra deserta e assolada e para fazer crescer os renovos da erva? 28 A chuva, porventura, tem pai? Ou quem gera as gotas do orvalho? 29 De que ventre procede o gelo? E quem gera a geada do céu, 30 quando debaixo de pedras as águas se escondem, e a superfície do abismo se coalha?

31 Ou poderás tu ajuntar as cadeias do Sete-estrelo ou soltar os atilhos do Órion? 32 Ou produzir as constelações a seu tempo e guiar a Ursa com seus filhos? 33 Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes dispor do domínio deles sobre a terra?

34 Ou podes levantar a tua voz até às nuvens, para que a abundância das águas te cubra? 35 Ou ordenarás aos raios que saiam e te digam: Eis-nos aqui? 36 Quem pôs a sabedoria no íntimo, ou quem à mente deu o entendimento? 37 Quem numerará as nuvens pela sabedoria? Ou os odres dos céus, quem os abaixará, 38 quando se funde o pó numa massa, e se pegam os torrões uns aos outros?

39 Porventura, caçarás tu presa para a leoa ou satisfarás a fome dos filhos dos leões, 40 quando se agacham nos covis e estão à espreita nas covas? 41 Quem prepara para os corvos o seu alimento, quando os seus pintainhos gritam a Deus e andam vagueando, por não terem que comer?

39 Sabes tu o tempo em que as cabras monteses têm os filhos, ou consideraste as dores das cervas? Contarás os meses que cumprem ou sabes o tempo do seu parto? Elas encurvam-se, para terem seus filhos, e lançam de si as suas dores. Seus filhos enrijam, crescem com o trigo, saem, e nunca mais tornam para elas.

Quem despediu livre o jumento montês, e quem soltou as prisões ao jumento bravo, ao qual dei o ermo por casa e a terra salgada, por moradas? Ri-se do arruído da cidade; não ouve os muitos gritos do exator. O que descobre nos montes é o seu pasto, e anda buscando tudo que está verde.

Querer-te-á servir o unicórnio ou ficará na tua cavalariça? 10 Ou amarrarás o unicórnio ao rego com uma corda, ou estorroará após ti os vales? 11 Ou confiarás nele, por ser grande a sua força, ou deixarás a seu cargo o teu trabalho? 12 Ou te fiarás dele que te torne o que semeaste e o recolha na tua eira?

13 Bate alegre as asas o avestruz, que tem penas de cegonha; 14 ele deixa os seus ovos na terra e os aquenta no pó. 15 E se esquece de que algum pé os pode pisar, ou de que podem calcá-los os animais do campo. 16 Endurece-se para com seus filhos, como se não fossem seus; debalde é seu trabalho, porquanto está sem temor. 17 Porque Deus o privou de sabedoria e não lhe repartiu entendimento. 18 A seu tempo se levanta ao alto; ri-se do cavalo e do que vai montado nele.

19 Ou darás tu força ao cavalo, ou revestirás o seu pescoço de crinas? 20 Ou espantá-lo-ás, como ao gafanhoto? Terrível é o fogoso respirar das suas ventas. 21 Escarva a terra, e folga na sua força, e sai ao encontro dos armados. 22 Ri-se do temor, e não se espanta, e não torna atrás por causa da espada. 23 Contra ele rangem a aljava, o ferro flamante da lança e o dardo. 24 Sacudindo-se e removendo-se, escarva a terra e não faz caso do som da buzina. 25 Ao soar das buzinas, diz: Eia! E de longe cheira a guerra, e o trovão dos príncipes, e o alarido.

26 Ou voa o gavião pela tua inteligência, estendendo as suas asas para o sul? 27 Ou se remonta a águia ao teu mandado e põe no alto o seu ninho? 28 Nas penhas, mora e habita; no cume das penhas, e nos lugares seguros. 29 Dali, descobre a presa; seus olhos a avistam desde longe. 30 Seus filhos chupam o sangue; e onde há mortos, ela aí está.

40 Respondeu mais o Senhor a Jó e disse: Porventura, o contender contra o Todo-Poderoso é ensinar? Quem assim argui a Deus, que responda a estas coisas.

Então, Jó respondeu ao Senhor e disse: Eis que sou vil; que te responderia eu? A minha mão ponho na minha boca. Uma vez tenho falado e não replicarei; ou ainda duas vezes, porém não prosseguirei.

Então, o Senhor respondeu a Jó desde a tempestade e disse: Cinge agora os teus lombos como varão; eu te perguntarei a ti, e tu me responderás. Porventura, também farás tu vão o meu juízo ou me condenarás, para te justificares? Ou tens braço como Deus, ou podes trovejar com voz como a sua?

10 Orna-te, pois, de excelência e alteza; e veste-te de majestade e de glória. 11 Derrama os furores da tua ira, e atenta para todo soberbo, e abate-o. 12 Olha para todo soberbo, e humilha-o, e atropela os ímpios no seu lugar. 13 Esconde-os juntamente no pó; ata-lhes os rostos em oculto. 14 Então, também eu de ti confessarei que a tua mão direita te haverá livrado.

15 Contempla agora o beemote, que eu fiz contigo, que come erva como o boi. 16 Eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu poder, nos músculos do seu ventre. 17 Quando quer, move a sua cauda como cedro; os nervos da suas coxas estão entretecidos. 18 Os seus ossos são como tubos de bronze; a sua ossada é como barras de ferro. 19 Ele é obra-prima dos caminhos de Deus; o que o fez o proveu da sua espada. 20 Em verdade, os montes lhe produzem pasto, onde todos os animais do campo folgam. 21 Deita-se debaixo das árvores sombrias, no esconderijo dos canaviais e da lama. 22 As árvores sombrias o cobrem com a sua sombra; os salgueiros do ribeiro o cercam. 23 Eis que um rio trasborda, e ele não se apressa, confiando que o Jordão possa entrar na sua boca. 24 Podê-lo-iam, porventura, caçar à vista de seus olhos, ou com laços lhe furar o nariz?

41 Poderás pescar com anzol o leviatã ou ligarás a sua língua com a corda? Podes pôr uma corda no seu nariz ou com um espinho furarás a sua queixada? Porventura, multiplicará as suas suplicações para contigo? Ou brandamente te falará? Fará ele concertos contigo, ou o tomarás tu por escravo para sempre? Brincarás com ele, como se fora um passarinho, ou o prenderás para tuas meninas? Os teus companheiros farão dele um banquete, ou o repartirão entre os negociantes? Encherás a sua pele de ganchos, ou a sua cabeça de arpéus de pescadores? Põe a tua mão sobre ele, lembra-te da peleja e nunca mais tal intentarás. Eis que a sua esperança falhará; porventura, nenhum à sua vista será derribado? 10 Ninguém há tão atrevido, que a despertá-lo se atreva; quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante de mim? 11 Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu.

12 Não me calarei a respeito dos seus membros, nem da relação das suas forças, nem da graça da sua compostura. 13 Quem descobriria a superfície da sua veste? Quem entrará entre as suas queixadas dobradas? 14 Quem abriria as portas do seu rosto? Pois em roda dos seus dentes está o terror. 15 As suas fortes escamas são excelentíssimas, cada uma fechada como com selo apertado. 16 Uma à outra se chega tão perto, que nem um assopro passa por entre elas. 17 Umas às outras se ligam; tanto aderem entre si, que não se podem separar. 18 Cada um dos seus espirros faz resplandecer a luz, e os seus olhos são como as pestanas da alva. 19 Da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam dela. 20 Do seu nariz procede fumaça, como de uma panela fervente, ou de uma grande caldeira. 21 O seu hálito faz acender os carvões; e da sua boca sai chama. 22 No seu pescoço pousa a força; perante ele, até a tristeza salta de prazer. 23 Os músculos da sua carne estão pegados entre si; cada um está firme nele, e nenhum se move. 24 O seu coração é firme como uma pedra e firme como a mó de baixo. 25 Levantando-se ele, tremem os valentes; em razão dos seus abalos, ficam fora de si. 26 Se alguém lhe tocar com a espada, essa não poderá penetrar, nem lança, dardo ou flecha. 27 Ele reputa o ferro palha, e o cobre, pau podre. 28 A seta o não fará fugir; as pedras das fundas se lhe tornam em restolho. 29 As pedras atiradas são para ele como arestas, e ri-se do brandir da lança. 30 Debaixo de si tem conchas pontiagudas; estende-se sobre coisas pontiagudas como na lama. 31 As profundezas faz ferver, como uma panela; torna o mar como quando os unguentos fervem. 32 Após ele alumia o caminho; parece o abismo tornado em brancura de cãs. 33 Na terra, não há coisa que se lhe possa comparar, pois foi feito para estar sem pavor. 34 Todo o alto vê; é rei sobre todos os filhos de animais altivos.

O Senhor fala

38 Então foi a vez do Senhor responder a Job num redemoinho:

“Quem é que busca turvar os meus desígnios
com palavras sem conhecimento?
Agora prepara-te, porque terás de me responder
a algumas perguntas que te vou fazer.

Onde estavas tu quando eu fundava a Terra?
Responde-me, se tens sabedoria para isso.
Sabes quem determinou as suas dimensões
e quem fez o seu plano?
Sobre o que estão apoiadas as suas bases
e quem foi que assentou a pedra fundamental,
quando as estrelas juntamente produziam harmonias
e todos os anjos gritavam de alegria?

Quem foi que pôs limites aos mares,
quando se agitavam e transbordavam nas profundidades?
Quem os revestiu de nuvens e de espessas trevas,
10 os encerrou nas paredes dos oceanos,
11 dizendo-lhes:
‘Até aqui e não mais adiante;
aqui rebentarão as vossas vagas alterosas!’?

12 Alguma vez pudeste ordenar à manhã que aparecesse
e à alvorada que se levantasse para os lados do nascente?
13 Alguma vez foste capaz de dizer à luz do dia
que se espalhasse até às extremidades da Terra,
para pôr fim à maldade da noite?
14 A Terra assume forma como barro sob um sinete,
como as dobras de um belo manto colorido.
15 A luz é retirada do alcance do malvado
e detém o braço que se levanta em violência.

16 Alguma vez conseguiste explorar as fontes dos mares,
ou andar sobre os seus profundos abismos?
17 Alguma vez te foram reveladas as portas da morte?
Viste tu a entrada para aquele reino de sombras?
18 Dar-te-ás conta da verdadeira extensão da Terra?
Responde-me a isto, se fores capaz!

19 Donde vem a luz, como a alcanças?
Fala-me sobre as trevas; donde vêm?
20 Terás possibilidade de encontrar os seus limites,
ou de chegar à sua origem?
21 Se calhar, sabes todas estas coisas,
porque nasceste antes que tudo tivesse sido criado,
e já tens muitos anos de vida!

22 Já pudeste conhecer os segredos da neve,
ou ver onde o granizo é feito e armazenado?
23 Porque o reservei para quando precisar dele,
para o dia da peleja.
24 Sabes como se difunde a luz
e por onde é que o vento oriental invade a Terra?
25 Quem foi que cavou as gargantas, entre as montanhas,
por onde correm os ribeiros formados pelas chuvas?
Quem abriu o caminho ao relâmpago,
26 que faz com que a chuva caia sobre as terras desertas,
27 para que os terrenos secos e áridos fiquem saciados de água,
e se renove a erva tenra?
28 Terá a chuva um pai?
Donde vem o orvalho?
29 Quem fez aparecer o gelo e a geada?
30 Porque a água torna-se gelo
e fica como uma rocha dura.

31 Serás tu capaz de atar as cordas da constelação de Plêiades,
ou de desatar as de Oríon?
32 Poderias controlar a sequência das constelações,
ou determinar a deslocação da Ursa Maior
e da Ursa Menor, através dos céus?
33 Conheces tu as leis do universo
e de que maneira os céus influenciam a Terra?

34 Poderias tu gritar para as nuvens
e fazeres-te inundar por torrenciais aguaceiros?
35 Serias capaz de dar ordens aos raios,
a ponto de te dizerem: ‘Pronto, aqui estamos!’
36 Quem deu ao íbis sabedoria
e ao galo entendimento[a]?
37 Quem terá sabedoria suficiente para saber a quantidade de nuvens?
Quem é que inclina os cântaros do céu, para que chova,
38 quando tudo se encontra seco
e o pó se acumula em montões?

39 És tu capaz de caçar uma presa, tal como faz a leoa,
para satisfazer o apetite dos filhotes
40 que estão na toca,
ou que esperam no meio da selva?
41 Quem é que fornece alimento aos corvos,
quando os filhos gritam a Deus
e desfalecem nos ninhos, por não terem que comer?

39 Sabes quando é que as cabras-monteses têm as crias?
Já alguma vez viste as gazelas darem à luz?
Sabes quantos meses andam elas prenhes,
antes de se curvarem sobre si próprias
com as dores de parto?
Os filhos criam-se nos campos, sob o céu aberto,
depois deixam os pais e não voltam mais para eles.

Quem pôs o burro selvagem em liberdade?
Quem o fez viver sem amarras?
Coloquei-o no deserto
e dei-lhe terra salgada para nela viver.
Porque ri-se do barulho das cidades
e não tem de ouvir os berros do condutor.
Os grandes espaços das montanhas são os seus pastos;
é lá que procuram a mais pequena erva verde.

Serias capaz de tornar o boi selvagem num servo obediente,
de o manter sossegado atrás da sua manjedoura?
10 Utilizarias um animal desses para te lavrar o campo
e para te puxar o arado?
11 Só porque tem muita força, poderias confiar nele?
Entregar-lhe-ias o trabalho duro que te pertence?
12 Mandá-lo-ias pelos teus campos,
para recolher o trigo e trazê-lo para a eira?

13 A avestruz é um animal imponente,
quando a vemos bater majestosamente as asas,
mas comparar-se-á a sua plumagem à das cegonhas?
14 Põe os ovos à superfície da terra,
para os aquecer com o pó.
15 Esquece-se, porém, que podem ser pisados e esmagados;
que qualquer animal selvagem os pode destruir.
16 Despreza os seus filhotes, como se não fossem seus,
e fica indiferente se os seus esforços forem em vão.
17 Isto porque Deus não lhe deu inteligência.
18 No entanto, quando se levanta para correr,
ri-se da velocidade do cavalo e do cavaleiro.

19 Foste tu quem deu a força ao cavalo
e lhe revestiu de crinas o pescoço?
20 Ensinaste-o tu a saltar como um gafanhoto?
Terrível é o fogoso respirar das suas narinas!
21 Escava a terra e regozija-se na sua força,
quando tem de ir à guerra.
22 Ri-se do medo e nada teme;
não recua diante da espada.
23 À sua volta, vibram as setas na aljava
e brilham as lanças e os dardos.
24 Sacudindo-se ferozmente, escava a terra
e dispara toda a corrida para a batalha,
quando soa o toque da trombeta.
25 Ao soar das trombetas grita:
‘Eh!’ Sente já ao longe o cheiro da guerra
e os brados dos comandantes.

26 É pela tua inteligência que o gavião levanta voo
e bate as asas em direção ao sul?
27 É por ordem tua que a águia escolhe ir
até aos altos cimos das montanhas para ali fazer o ninho?
28 Vive sobre as rochas dos montes
e faz a sua morada nas penhas seguras.
29 Dali espia a presa,
a uma grande distância.
30 As suas crias chupam sangue,
porque onde há mortos, aí está ela!”

40 E o Senhor prosseguiu:

“Queres continuar a argumentar com o Todo-Poderoso?
Se pretendes arvorar-te em crítico de Deus,
responde, então, a tudo isto.”
Então Job respondeu ao Senhor:
“Eu nada valho!
Como poderia eu, alguma vez,
encontrar resposta para essas coisas?
Ponho, antes, a mão na boca e fico em silêncio.
Já falei uma vez, mas não repetirei,
ou mesmo duas vezes, porém não insistirei.”
O Senhor tornou a dirigir-se a Job, do meio do redemoinho:
“Levanta-te, então, como um homem,
deixa-me fazer-te uma pergunta e dá-me uma resposta.

Irás desacreditar a minha justiça e condenar-me,
de forma a poderes dizer que és justo?
Serás tu tão forte como Deus
e poderás dar voz ao trovão como ele?
10 Pois então, veste os teus trajes de honra;
reveste-te de honra e de esplendor!
11 Dá livre curso à tua ira
e que ela se derrame sobre os altivos.
12 Humilha os orgulhosos, só com um olhar teu;
derruba os ímpios, onde quer que tentem estabelecer-se.
13 Lança-os no pó do chão,
com os rostos virados para a morte.
14 Se puderes fazer tais coisas,
então estarei de acordo contigo,
em como a tua força te poderá salvar.

15 Olha só para aquele monstro, o beemot[b]!
Criei-o como a ti e come apenas erva como um boi!
16 Repara nos seus fortíssimos lombos
e nos músculos do seu ventre.
17 A sua cauda é tão forte como um cedro;
tem os tendões das coxas entretecidos.
18 As vértebras parecem-se com tubos de bronze;
as costelas são como barras de ferro.
19 É um animal imponente, entre toda a criação;
Deus o mantém em respeito com a sua espada.
20 As montanhas oferecem-lhe o melhor que têm para ele comer,
enquanto os outros animais selvagens folgam.
21 Deita-se debaixo dos lótus,
escondido nos canaviais, junto aos pântanos.
22 Os lótus cobrem-no com sua sombra
e os salgueiros do ribeiro cercam-no.
23 Não fica incomodado com a força das correntes dos grandes rios,
nem mesmo quando se trata do Jordão,
na altura das grandes cheias.
24 Ninguém é capaz de o caçar, à sua vista,
nem de lhe pôr uma argola no nariz
e de o levar para outro lado.

41 Poderias pescar o monstro marinho[c] com linha e anzol
ou atar-lhe a língua com uma corda?
Serias capaz de o prender com uma corda no nariz,
ou furar-lhe as queixadas com uma escápula?
Porventura iria pedir-te que desistisses das tuas intenções
e tentar brandamente fazer-te mudar de ideias?
Aceitaria, alguma vez,
que fizesses dele teu escravo para toda a vida?
Farias dele um animalzinho domesticado,
como um passarinho que se cria numa gaiola,
que darias às tuas filhinhas para brincar?
Os teus companheiros de pesca
vendê-lo-iam aos comerciantes na lota?
A sua pele, poderia ela ser furada por ganchos,
ou a cabeça presa por arpões?
Se lhe pusesses as mãos em cima,
durante muito tempo haverias de te lembrar da luta
e nunca mais o farias outra vez!
Não! É absolutamente inútil tentar capturá-lo!
Até só o pensar nisso aterroriza!
10 Não há ninguém tão ousado, que se atreva a provocá-lo
e muito menos a conquistá-lo;
se ninguém lhe resiste, quem poderia erguer-se contra mim?
11 Nada recebi de ninguém;
tudo o que existe debaixo dos céus é meu.

12 Não deixarei de fazer referência à tremenda força dos seus membros,
nem da sua grande força, nem de seu belo porte.
13 Quem poderia penetrar a sua pele,
ou quem ousaria ficar ao alcance das suas goelas?
14 Quem jamais lhe abriu o focinho,
guarnecido como está de dentes terríveis?
15 As escamas que possui,
sobrepostas como escudo, são o seu orgulho;
16 são como uma proteção compacta,
de tal forma que nem o ar passa entre elas,
17 e assim é impossível separá-las.
18 Quando ele espirra, a luz brilha;
os seus olhos são como as pálpebras da alva.
19 Da sua boca saem chamas,
saltam dela fagulhas de fogo que estalam.
20 O fumo brota das suas narinas,
até parece uma panela a ferver com água,
ou uma caldeira aquecida.
21 A sua respiração bastaria para acender carvões;
jorram-lhe chamas da boca.
22 A força enorme que tem no pescoço
lança o terror por onde passa.
23 Tem uns músculos duros e firmes;
não se encontra nele carne flácida.
24 O seu coração é duro como uma rocha,
é como uma mó de moinho.
25 Quando se ergue, até os mais valentes têm medo
e ficam paralisados de terror.
26 Não há espada que o detenha, nem qualquer outra arma,
seja lança, dardo ou flecha.
27 Ferro, para ele, é como palha
e o bronze como madeira podre.
28 Setas não o fariam fugir;
pedras de fundas valem contra ele tanto como estolho.
29 Uma tranca, que lhe seja atirada, é perfeitamente inútil;
fica-se a rir das lanças projetadas na sua direção.
30 O ventre, tem-no revestido de escamas;
espoja-se no chão duro como sobre relva!
31 Quando se desloca, deixa atrás de si um rasto de espuma;
agita violentamente os abismos dos oceanos.
32 Deixa atrás de si um sulco brilhante;
poderia pensar-se que o mar gelou!
33 Não há nada mais tremendo, sobre a face da Terra,
que se lhe possa comparar.
34 De todos os animais, é o mais altivo;
é o rei sobre todos os arrogantes.”

Footnotes

  1. 38.36 No Egito pensava-se que o íbis previa as cheias do Nilo. No Oriente atribuía-se ao galo a capacidade de prever as chuvas de outono.
  2. 40.15 Animal existente a época, difícil de determinar. Algumas traduções têm hipopótamo, mas apenas alguns detalhes o tornam semelhante ao beemot.
  3. 41.1 Ver nota a 3.8.

God Confronts Job

Have You Gotten to the Bottom of Things?

38 1-11 And now, finally, God answered Job from the eye of a violent storm. He said:

“Why do you confuse the issue?
    Why do you talk without knowing what you’re talking about?
Pull yourself together, Job!
    Up on your feet! Stand tall!
I have some questions for you,
    and I want some straight answers.
Where were you when I created the earth?
    Tell me, since you know so much!
Who decided on its size? Certainly you’ll know that!
    Who came up with the blueprints and measurements?
How was its foundation poured,
    and who set the cornerstone,
While the morning stars sang in chorus
    and all the angels shouted praise?
And who took charge of the ocean
    when it gushed forth like a baby from the womb?
That was me! I wrapped it in soft clouds,
    and tucked it in safely at night.
Then I made a playpen for it,
    a strong playpen so it couldn’t run loose,
And said, ‘Stay here, this is your place.
    Your wild tantrums are confined to this place.’

12-15 “And have you ever ordered Morning, ‘Get up!’
    told Dawn, ‘Get to work!’
So you could seize Earth like a blanket
    and shake out the wicked like cockroaches?
As the sun brings everything to light,
    brings out all the colors and shapes,
The cover of darkness is snatched from the wicked—
    they’re caught in the very act!

16-18 “Have you ever gotten to the true bottom of things,
    explored the labyrinthine caves of deep ocean?
Do you know the first thing about death?
    Do you have one clue regarding death’s dark mysteries?
And do you have any idea how large this earth is?
    Speak up if you have even the beginning of an answer.

19-21 “Do you know where Light comes from
    and where Darkness lives
So you can take them by the hand
    and lead them home when they get lost?
Why, of course you know that.
    You’ve known them all your life,
    grown up in the same neighborhood with them!

22-30 “Have you ever traveled to where snow is made,
    seen the vault where hail is stockpiled,
The arsenals of hail and snow that I keep in readiness
    for times of trouble and battle and war?
Can you find your way to where lightning is launched,
    or to the place from which the wind blows?
Who do you suppose carves canyons
    for the downpours of rain, and charts
    the route of thunderstorms
That bring water to unvisited fields,
    deserts no one ever lays eyes on,
Drenching the useless wastelands
    so they’re carpeted with wildflowers and grass?
And who do you think is the father of rain and dew,
    the mother of ice and frost?
You don’t for a minute imagine
    these marvels of weather just happen, do you?

31-33 “Can you catch the eye of the beautiful Pleiades sisters,
    or distract Orion from his hunt?
Can you get Venus to look your way,
    or get the Great Bear and her cubs to come out and play?
Do you know the first thing about the sky’s constellations
    and how they affect things on Earth?

34-35 “Can you get the attention of the clouds,
    and commission a shower of rain?
Can you take charge of the lightning bolts
    and have them report to you for orders?

What Do You Have to Say for Yourself?

36-38 “Who do you think gave weather-wisdom to the ibis,
    and storm-savvy to the rooster?
Does anyone know enough to number all the clouds
    or tip over the rain barrels of heaven
When the earth is cracked and dry,
    the ground baked hard as a brick?

39-41 “Can you teach the lioness to stalk her prey
    and satisfy the appetite of her cubs
As they crouch in their den,
    waiting hungrily in their cave?
And who sets out food for the ravens
    when their young cry to God,
    fluttering about because they have no food?”
39 1-4 “Do you know the month when mountain goats give birth?
    Have you ever watched a doe bear her fawn?
Do you know how many months she is pregnant?
    Do you know the season of her delivery,
    when she crouches down and drops her offspring?
Her young ones flourish and are soon on their own;
    they leave and don’t come back.

5-8 “Who do you think set the wild donkey free,
    opened the corral gates and let him go?
I gave him the whole wilderness to roam in,
    the rolling plains and wide-open places.
He laughs at his city cousins, who are harnessed and harried.
    He’s oblivious to the cries of teamsters.
He grazes freely through the hills,
    nibbling anything that’s green.

9-12 “Will the wild buffalo condescend to serve you,
    volunteer to spend the night in your barn?
Can you imagine hitching your plow to a buffalo
    and getting him to till your fields?
He’s hugely strong, yes, but could you trust him,
    would you dare turn the job over to him?
You wouldn’t for a minute depend on him, would you,
    to do what you said when you said it?

13-18 “The ostrich flaps her wings futilely—
    all those beautiful feathers, but useless!
She lays her eggs on the hard ground,
    leaves them there in the dirt, exposed to the weather,
Not caring that they might get stepped on and cracked
    or trampled by some wild animal.
She’s negligent with her young, as if they weren’t even hers.
    She cares nothing about anything.
She wasn’t created very smart, that’s for sure,
    wasn’t given her share of good sense.
But when she runs, oh, how she runs,
    laughing, leaving horse and rider in the dust.

19-25 “Are you the one who gave the horse his prowess
    and adorned him with a shimmering mane?
Did you create him to prance proudly
    and strike terror with his royal snorts?
He paws the ground fiercely, eager and spirited,
    then charges into the fray.
He laughs at danger, fearless,
    doesn’t shy away from the sword.
The banging and clanging
    of quiver and lance don’t faze him.
He quivers with excitement, and at the trumpet blast
    races off at a gallop.
At the sound of the trumpet he neighs mightily,
    smelling the excitement of battle from a long way off,
    catching the rolling thunder of the war cries.

26-30 “Was it through your know-how that the hawk learned to fly,
    soaring effortlessly on thermal updrafts?
Did you command the eagle’s flight,
    and teach her to build her nest in the heights,
Perfectly at home on the high cliff face,
    invulnerable on pinnacle and crag?
From her perch she searches for prey,
    spies it at a great distance.
Her young gorge themselves on carrion;
    wherever there’s a roadkill, you’ll see her circling.”

40 1-2 God then confronted Job directly:

“Now what do you have to say for yourself?
    Are you going to haul me, the Mighty One, into court and press charges?”

Job Answers God

I’m Ready to Shut Up and Listen

3-5 Job answered:

“I’m speechless, in awe—words fail me.
    I should never have opened my mouth!
I’ve talked too much, way too much.
    I’m ready to shut up and listen.”

God’s Second Set of Questions

I Want Straight Answers

6-7 God addressed Job next from the eye of the storm, and this is what he said:

“I have some more questions for you,
    and I want straight answers.

8-14 “Do you presume to tell me what I’m doing wrong?
    Are you calling me a sinner so you can be a saint?
Do you have an arm like my arm?
    Can you shout in thunder the way I can?
Go ahead, show your stuff.
    Let’s see what you’re made of, what you can do.
Unleash your outrage.
    Target the arrogant and lay them flat.
Target the arrogant and bring them to their knees.
    Stop the wicked in their tracks—make mincemeat of them!
Dig a mass grave and dump them in it—
    faceless corpses in an unmarked grave.
I’ll gladly step aside and hand things over to you—
    you can surely save yourself with no help from me!

15-24 “Look at the land beast, Behemoth. I created him as well as you.
    Grazing on grass, docile as a cow—
Just look at the strength of his back,
    the powerful muscles of his belly.
His tail sways like a cedar in the wind;
    his huge legs are like beech trees.
His skeleton is made of steel,
    every bone in his body hard as steel.
Most magnificent of all my creatures,
    but I still lead him around like a lamb!
The grass-covered hills serve him meals,
    while field mice frolic in his shadow.
He takes afternoon naps under shade trees,
    cools himself in the reedy swamps,
Lazily cool in the leafy shadows
    as the breeze moves through the willows.
And when the river rages he doesn’t budge,
    stolid and unperturbed even when the Jordan goes wild.
But you’d never want him for a pet—
    you’d never be able to housebreak him!”

I Run This Universe

41 1-11 “Or can you pull in the sea beast, Leviathan, with a fly rod
    and stuff him in your creel?
Can you lasso him with a rope,
    or snag him with an anchor?
Will he beg you over and over for mercy,
    or flatter you with flowery speech?
Will he apply for a job with you
    to run errands and serve you the rest of your life?
Will you play with him as if he were a pet goldfish?
    Will you make him the mascot of the neighborhood children?
Will you put him on display in the market
    and have shoppers haggle over the price?
Could you shoot him full of arrows like a pin cushion,
    or drive harpoons into his huge head?
If you so much as lay a hand on him,
    you won’t live to tell the story.
What hope would you have with such a creature?
    Why, one look at him would do you in!
If you can’t hold your own against his glowering visage,
    how, then, do you expect to stand up to me?
Who could confront me and get by with it?
    I’m in charge of all this—I run this universe!

12-17 “But I’ve more to say about Leviathan, the sea beast,
    his enormous bulk, his beautiful shape.
Who would even dream of piercing that tough skin
    or putting those jaws into bit and bridle?
And who would dare knock at the door of his mouth
    filled with row upon row of fierce teeth?
His pride is invincible;
    nothing can make a dent in that pride.
Nothing can get through that proud skin—
    impervious to weapons and weather,
The thickest and toughest of hides,
    impenetrable!

18-34 “He snorts and the world lights up with fire,
    he blinks and the dawn breaks.
Comets pour out of his mouth,
    fireworks arc and branch.
Smoke erupts from his nostrils
    like steam from a boiling pot.
He blows and fires blaze;
    flames of fire stream from his mouth.
All muscle he is—sheer and seamless muscle.
    To meet him is to dance with death.
Sinewy and lithe,
    there’s not a soft spot in his entire body—
As tough inside as out,
    rock-hard, invulnerable.
Even angels run for cover when he surfaces,
    cowering before his tail-thrashing turbulence.
Javelins bounce harmlessly off his hide,
    harpoons ricochet wildly.
Iron bars are so much straw to him,
    bronze weapons beneath notice.
Arrows don’t even make him blink;
    bullets make no more impression than raindrops.
A battle ax is nothing but a splinter of kindling;
    he treats a brandished harpoon as a joke.
His belly is armor-plated, inexorable—
    unstoppable as a barge.
He roils deep ocean the way you’d boil water,
    he whips the sea like you’d whip an egg into batter.
With a luminous trail stretching out behind him,
    you might think Ocean had grown a gray beard!
There’s nothing on this earth quite like him,
    not an ounce of fear in that creature!
He surveys all the high and mighty—
    king of the ocean, king of the deep!”