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28 A certa altura, os filisteus convocaram o seu exército e prepararam-se para nova guerra contra Israel. “Vem ajudar-nos a combater!”, disse o rei Aquis a David e aos seus companheiros.

“Está bem!”, concordou David. “Verás em breve como podemos ser-vos úteis.” Aquis acrescentou: “Se assim for, tornar-te-ás meu escudeiro para toda a vida.”

Saul e a bruxa de En-Dor

Entretanto, Samuel tinha morrido e Israel chorara o seu desaparecimento. Fora enterrado em Ramá, a sua cidade natal. Saul também tinha banido da terra de Israel tudo o que era adivinhação e consulta dos espíritos dos mortos.

Os filisteus acamparam em Sunem e Saul e os seus batalhões em Gilboa. Quando Saul viu o vasto exército que os inimigos constituíam ficou paralisado de medo. E perguntou ao Senhor o que deveria fazer. No entanto, o Senhor recusou responder-lhe, fosse por sonhos, fosse através do urim[a] ou mesmo pelos profetas. Então Saul deu instruções aos seus ajudantes para tentarem encontrar alguém que consultasse o espírito dos mortos, a quem perguntasse o que devia fazer, e ainda acharam uma mulher que fazia isso, em En-Dor. Saul disfarçou-se, vestindo roupas de gente vulgar e dirigiu-se a casa dela, de noite, acompanhado por dois dos seus homens. E disse-lhe: “Eu pretendia falar com um homem que já morreu. Consegues chamar o seu espírito?”

“Queres que eu seja morta?”, protestou ela. “Sabes bem o que Saul mandou fazer a todos os adivinhos e médiuns. Estás a armar-me uma cilada!”

10 Saul jurou-lhe solenemente que não a trairia. 11 Por fim, a mulher disse: “Então quem é que tu queres que eu faça vir em espírito?” Respondeu-lhe: “Traz-me Samuel.”

12 Quando a mulher viu Samuel, gritou: “Enganaste-me! Tu és Saul!” Ele retorquiu: 13 “Não tenhas medo! Diz-me o que é que estás a ver.” Ela disse: “Vejo um espetro subindo da terra.”

14 “Como é que é ele?”, perguntou Saul. “É um ancião e está envolto numa túnica”, respondeu-lhe. Saul viu que se tratava de Samuel e inclinou-se.

15 “Porque é que me incomodaste, fazendo-me subir?”, perguntou-lhe Samuel. “Porque estou profundamente perturbado. Os filisteus estão em guerra contra nós; Deus abandonou-me e não me responde, nem pelos profetas nem por sonhos. Por isso, chamei-te, para te perguntar o que devo fazer.”

16 Samuel respondeu: “E por que razão me perguntas a mim, se o Senhor te deixou e se tornou teu inimigo? 17 Ele atuou como já antes te tinha dito e tirou-te o reino para o dar ao teu rival David. 18 Tudo isto veio sobre ti porque não obedeceste às instruções do Senhor, dando cumprimento ao ardor da sua ira sobre os amalequitas. 19 Todo o exército de Israel será derrotado e destruído amanhã pelos filisteus. Tu e os teus filhos estarão aqui comigo.”

20 Saul caiu estendido no chão, fulminado de terror pelas palavras de Samuel. Ele também se encontrava muito enfraquecido, pois não tinha comido nada durante todo aquele dia. 21 Quando a bruxa viu a sua reação e o estado em que tinha ficado, disse: “Senhor, eu apenas obedeci às tuas ordens com o risco da minha vida. 22 Agora ouve o que eu te digo e deixa-me dar-te alguma coisa para comer, a fim de que ganhes forças para a viagem de regresso.”

23 Ele recusou. No entanto, os companheiros insistiram para que aceitasse a oferta da mulher. Por fim, acedeu e sentou-se à beira da cama. 24 A mulher tinha em casa um bezerro cevado que se apressou a degolar; amassou também farinha e cozeu uns pães sem fermento. 25 Trouxe a comida ao rei e aos seus homens que comeram, encetando depois a viagem de regresso naquela mesma noite.

Os filisteus rejeitam o apoio de David

29 O exército filisteu concentrou-se em Afeque e os israelitas na fonte de Jezreel. Na altura em que os filisteus organizavam as suas tropas em batalhões e companhias, David e os seus puseram-se na retaguarda com o rei Aquis. Então os comandantes filisteus perguntaram: “Que estão estes israelitas aqui a fazer?”

“Este é David, o servo do rei Saul, que fugiu de Israel. Já há muito tempo que está comigo e não encontrei nele nada de culpável, desde que aqui chegou”, foi a resposta de Aquis.

“Manda essa gente embora!”, pediram-lhe, zangados. “É evidente que não irão à batalha connosco, pois voltar-se-iam contra nós. Haveria melhor maneira de se reconciliarem com o seu senhor do que nos traírem durante a luta? Não te esqueças que este é o homem de quem as mulheres israelitas diziam a dançar: ‘Saul matou os seus milhares e David os seus dez milhares!’ ”

Aquis acedeu, por fim, chamando David e os companheiros: “Tão certo como vive o Senhor, que são os melhores homens que eu já tive e a minha vontade é que viessem lutar connosco; mas os meus chefes militares não pensam assim. Por favor, não os irritem e vão embora sossegadamente.”

“Que fizemos nós para merecer este tratamento?”, perguntou David. “Porque não posso combater os inimigos do rei, meu senhor?”

“No que me diz respeito”, insistiu Aquis, “tu és tão reto como um anjo de Deus. Contudo, os meus comandantes militares receiam ter-te com eles durante a batalha. 10 Por isso, levantem-se cedo e vão embora logo que amanheça.”

11 Então David voltou para a terra dos filisteus, enquanto o exército deles se dirigia para Jezreel.

David destrói os amalequitas

30 Três dias mais tarde, quando David, acompanhado dos seus homens, chegou a casa, na cidade de Ziclague, constatou que os amalequitas tinham feito uma incursão na cidade e ateado o fogo; mas levaram consigo mulheres, crianças e toda a gente que ali estava, pequenos e grandes, sem matar ninguém.

Logo que David e os seus homens chegaram à cidade, observaram que ela fora totalmente incendiada e que tinham levado as suas mulheres, com os filhos e filhas. Ao verem aquilo e ao darem-se conta do que acontecera às suas famílias, todos choraram amargamente. As duas mulheres de David, Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a viúva de Nabal, o carmelita, encontravam-se também entre os cativos. David estava seriamente preocupado, porque os homens, na sua grande dor por causa dos filhos que os amalequitas lhes tinham levado, falavam até em apedrejá-lo. No entanto, David tomou forças no Senhor, seu Deus.

Então disse ao sacerdote Abiatar, filho de Aimeleque: “Traz-me aqui o éfode!” E perguntou ao Senhor: “Vou no encalço deles? Apanhá-los-emos?”

O Senhor respondeu-lhe: “Vai, persegue-os e recuperarás tudo o que vos levaram!”

David e os outros 600 homens partiram atrás dos amalequitas. Quando alcançaram o ribeiro de Besor, 200 deles estavam de tal maneira exaustos que não conseguiram atravessá-lo. 10 Mas os outros 400 prosseguiram na corrida.

11-12 A certa altura, encontraram um moço egípcio num campo e trouxeram-no a David. O rapaz não tinha comido nem bebido nada durante três dias e três noites. Deram-lhe parte dum bolo de figos, duas mãos-cheias de uvas secas e água para beber. Depois disso, ele recuperou as forças.

13 “Quem és tu? Donde vens?”, perguntou-lhe David. “Sou egípcio, servo dum amalequita. O meu senhor abandonou-me há três dias porque eu estava muito doente. 14 Vínhamos de uma incursão militar na terra dos cretenses, e também no sul de Judá, e ainda na terra de Calebe; também incendiámos Ziclague.”

15 “Podes dizer-me para onde eles foram?” Ele respondeu: “Se jurares em nome de Deus que não me matas nem me entregas de novo ao meu amo, guiar-te-ei até eles.”

16 Assim levou-os ao acampamento dos amalequitas. Estavam espalhados numa grande área daquela terra, a comer, a beber e a dançar de alegria, por causa do enorme despojo que tinham trazido da Filisteia e de Judá. 17 David e os companheiros saltaram-lhes em cima e lutaram durante a noite toda e no dia seguinte até ao anoitecer. Os únicos que conseguiram escapar foram 400 rapazes que fugiram montados em camelos. 18 David recuperou tudo o que os amalequitas tinham levado e resgatou também as suas duas mulheres. 19 Recuperou todas as pessoas, desde as pequenas às grandes, os filhos e as filhas dos seus homens, e todos os despojos que os amalequitas tinham roubado. 20 Toda a gente juntou o gado e os rebanhos, conduzindo-os diante de si e exclamando: “Este é o teu despojo, David!”

21 Quando chegaram de novo ao ribeiro de Besor e se juntaram aos tais duzentos que não tinham podido continuar, por se encontrarem esgotados e sem forças, David saudou-os pacificamente. 22 Contudo, alguns dos que vinham com David, homens ruins e perversos, começaram a dizer: “Esses não vieram connosco, por isso, não hão de ter parte no despojo. Levem as mulheres e os filhos e vão embora.”

23 “Não, meus irmãos! O Senhor guardou-nos e ajudou-nos a derrotar o inimigo. 24 Numa altura destas alguém poderia dar ouvidos a uma tal proposta? Vamos repartir o que obtivemos irmãmente com os que foram à batalha e com os que guardaram as bagagens.” 25 Foi assim que David fez desta uma lei para todo o Israel que ainda hoje é válida.

26 Quando chegou a Ziclague enviou parte do saque aos anciãos de Judá: “Isto é um presente tirado aos inimigos do Senhor”, escreveu-lhes. 27-31 Estes presentes foram enviados aos anciãos das seguintes cidades onde David e os companheiros tinham estado: Betel, Sul de Ramote, Jatir, Aroer, Sifmote, Estemoa, Racal, as cidades dos jerameelitas, as cidades dos queneus, Horma, Borasã, Atace e Hebrom.

Morte de Saul e dos filhos

(1 Cr 10.1-14)

31 Os filisteus atacaram e derrotaram as tropas israelitas, as quais fugiram, tendo sido liquidadas no sopé do monte Gilboa. Os filisteus foram atrás de Saul e dos seus três filhos e mataram Jónatas, Abinadabe e Malquisua. A luta cresceu depois com violência em volta de Saul e os frecheiros conseguiram feri-lo gravemente.

Então ele gritou ao seu escudeiro: “Desembainha a tua espada e atravessa-me com ela, antes que esta gente incircuncisa me mate, gabando-se ainda do que fizeram.” Mas o homem teve medo de fazer tal coisa. Por isso, Saul pegou na sua própria espada e atirou-se sobre ela. Nessa altura, o escudeiro, vendo que Saul estava morto, matou-se da mesma forma. Assim, Saul e o seu pajem, os seus três filhos e as suas tropas morreram no mesmo dia.

Quando os israelitas do outro lado do vale, para lá do Jordão, ouviram que os seus compatriotas tinham fugido e que Saul e os filhos tinham morrido, abandonaram as cidades, e os filisteus foram viver nelas.

No dia seguinte, quando os filisteus vieram para despojar os mortos, encontraram os corpos de Saul e dos seus três filhos no monte Gilboa. Cortaram a cabeça a Saul, tiraram-lhe as armas e anunciaram-no nos templos dos seus deuses e ao seu povo por toda a terra. 10 As suas armas foram colocadas no templo de Astarote e o seu corpo pendurado no muro de Bete-Seã.

11 Quando o povo de Jabes-Gileade ouviu o que os filisteus tinham feito ao corpo de Saul, 12 os seus guerreiros, os mais valentes, foram de noite até Bete-Seã, retiraram de lá os corpos de Saul e dos filhos e trouxeram-nos para Jabes onde os queimaram. 13 O que restou enterraram sob o carvalho de Jabes, jejuando depois por sete dias.

Footnotes

  1. 28.6 Ver nota a Dt 33.8.

Saul consulta uma pitonisa de En-Dor

28 E sucedeu, naqueles dias, que, juntando os filisteus os seus exércitos para a peleja, para fazer guerra contra Israel, disse Aquis a Davi: Sabe, decerto, que comigo sairás ao arraial, tu e os teus homens. Então, disse Davi a Aquis: Assim saberás tu o que fará o teu servo. E disse Aquis a Davi: Por isso, te terei por guarda da minha cabeça para sempre.

E já Samuel era morto, e todo o Israel o tinha chorado e o tinha sepultado em Ramá, que era a sua cidade; e Saul tinha desterrado os adivinhos e os encantadores. E ajuntaram-se os filisteus, e vieram, e acamparam-se em Suném; e ajuntou Saul a todo o Israel, e se acamparam em Gilboa. E, vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu, e estremeceu muito o seu coração. E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor lhe não respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas. Então, disse Saul aos seus criados: Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiticeira, para que vá a ela e a consulte. E os seus criados lhe disseram: Eis que em En-Dor uma mulher que tem o espírito de adivinhar.

E Saul se disfarçou e vestiu outras vestes, e foi ele e com ele dois homens, e de noite vieram à mulher; e disse: Peço-te que me adivinhes pelo espírito de feiticeira e me faças subir a quem eu te disser. Então, a mulher lhe disse: Eis aqui tu sabes o que Saul fez, como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores; por que, pois, me armas um laço à minha vida, para me fazer matar? 10 Então, Saul lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isso. 11 A mulher, então, lhe disse: A quem te farei subir? E disse ele: Faze-me subir a Samuel. 12 Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou em alta voz; e a mulher falou a Saul, dizendo: Por que me tens enganado? Pois tu mesmo és Saul. 13 E o rei lhe disse: Não temas; porém que é o que vês? Então, a mulher disse a Saul: Vejo deuses que sobem da terra. 14 E lhe disse: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um homem ancião e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra e se prostrou.

15 Samuel disse a Saul: Por que me desinquietaste, fazendo-me subir? Então, disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso, te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer. 16 Então, disse Samuel: Por que, pois, a mim me perguntas, visto que o Senhor te tem desamparado e se tem feito teu inimigo? 17 Porque o Senhor tem feito para contigo como pela minha boca te disse, e o Senhor tem rasgado o reino da tua mão, e o tem dado ao teu companheiro Davi. 18 Como tu não deste ouvidos à voz do Senhor e não executaste o fervor da sua ira contra Amaleque, por isso, o Senhor te fez hoje isso. 19 E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo; e o arraial de Israel o Senhor entregará na mão dos filisteus.

20 E, imediatamente, Saul caiu estendido por terra e grandemente temeu por causa daquelas palavras de Samuel; e não houve força nele, porque não tinha comido pão todo aquele dia e toda aquela noite. 21 Então, veio a mulher a Saul e, vendo que estava tão perturbado, disse-lhe: Eis que deu ouvidos a tua criada à tua voz, e pus a minha vida na minha mão e ouvi as palavras que disseste. 22 Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva, e porei um bocado de pão diante de ti, e come, para que tenhas forças para te pores a caminho. 23 Porém ele o recusou e disse: Não comerei. Porém os seus criados e a mulher o constrangeram; e deu ouvidos à sua voz. E levantou-se do chão e se assentou sobre uma cama. 24 E tinha a mulher em casa uma bezerra cevada, e se apressou, e a degolou, e tomou farinha, e a amassou, e a cozeu em bolos asmos. 25 E os trouxe diante de Saul e de seus criados, e comeram. Depois, levantaram-se e se foram naquela mesma noite.

Davi marcha com Aquis contra os israelitas

29 E ajuntaram os filisteus todos os seus exércitos em Afeca, e acamparam-se os israelitas junto à fonte que está em Jezreel. E os príncipes dos filisteus se foram para lá com centenas e com milhares; porém Davi e os seus homens iam com Aquis na retaguarda. Disseram, então, os príncipes dos filisteus: Que fazem aqui estes hebreus? E disse Aquis aos príncipes dos filisteus: Não é este Davi, o criado de Saul, rei de Israel, que esteve comigo há alguns dias ou anos? E coisa nenhuma achei nele, desde o dia em que se revoltou até ao dia de hoje. Porém os príncipes dos filisteus muito se indignaram contra ele; e disseram-lhe os príncipes dos filisteus: Faze voltar a este homem, e torne ao seu lugar em que tu o puseste e não desça conosco à batalha, para que não se nos torne na batalha em adversário; porque com que aplacaria este a seu senhor? Porventura, não seria com as cabeças destes homens? Não é este aquele Davi, de quem uns aos outros respondiam nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, as suas dezenas de milhares?

Então, Aquis chamou a Davi e disse-lhe: Vive o Senhor, que tu és reto, e que a tua entrada e a tua saída comigo no arraial são boas aos meus olhos; porque nenhum mal em ti achei, desde o dia em que a mim vieste até ao dia de hoje; porém aos olhos dos príncipes não agradas. Volta, pois, agora, e volta em paz; para que não faças mal aos olhos dos príncipes dos filisteus. Então, Davi disse a Aquis: Por quê? Que fiz? Ou que achaste no teu servo, desde o dia em que estive diante de ti até ao dia de hoje, para que não vá e peleje contra os inimigos do rei, meu senhor? Respondeu, porém, Aquis e disse a Davi: Bem o sei; e que, na verdade, aos meus olhos és bom como um anjo de Deus; porém disseram os príncipes dos filisteus: Não suba este conosco à batalha. 10 Agora, pois, amanhã de madrugada, levanta-te com os criados de teu senhor, que têm vindo contigo; e, levantando-vos pela manhã de madrugada e havendo luz, parti. 11 Então, Davi de madrugada se levantou, ele e os seus homens, para partirem pela manhã e voltarem à terra dos filisteus; e os filisteus subiram a Jezreel.

Ziclague é saqueada pelos amalequitas

30 Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens ao terceiro dia a Ziclague, os amalequitas com ímpeto tinham dado sobre o Sul e sobre Ziclague, e tinham ferido a Ziclague, e a tinham posto a fogo. E levaram cativas as mulheres que estavam nela, porém a ninguém mataram, nem pequenos nem grandes; tão somente os levaram consigo e foram pelo seu caminho. E Davi e os seus homens vieram à cidade, e eis que estava queimada a fogo, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas eram levados cativos. Então, Davi e o povo que se achava com ele alçaram a sua voz e choraram, até que neles não houve mais força para chorar. Também as duas mulheres de Davi foram levadas cativas; Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a mulher de Nabal, o carmelita. E Davi muito se angustiou, porque o povo falava de apedrejá-lo, porque o ânimo de todo o povo estava em amargura, cada um por causa dos seus filhos e das suas filhas; todavia, Davi se esforçou no Senhor, seu Deus.

Davi persegue os amalequitas e livra os cativos

E disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me, peço-te, aqui o éfode. E Abiatar trouxe o éfode a Davi. Então, consultou Davi ao Senhor, dizendo: Perseguirei eu a esta tropa? Alcançá-la-ei? E o Senhor lhe disse: Persegue-a, porque, decerto, a alcançarás e tudo libertarás. Partiu, pois, Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se achavam, e chegaram ao ribeiro de Besor, onde os que ficaram atrás pararam. 10 E seguiu-os Davi, ele e os quatrocentos homens, pois que duzentos homens ficaram atrás, por não poderem, de cansados que estavam, passar o ribeiro de Besor.

11 E acharam no campo um homem egípcio e o trouxeram a Davi; deram-lhe pão, e comeu, e deram-lhe a beber água. 12 Deram-lhe também um pedaço de massa de figos secos e dois cachos de passas, e comeu; e voltou-lhe o seu espírito, porque havia três dias e três noites que não tinha comido pão nem bebido água. 13 Então, Davi lhe disse: De quem és tu e de onde és? E disse o moço egípcio: Sou servo de um homem amalequita, e meu senhor me deixou, porque adoeci há três dias. 14 Nós demos com ímpeto para a banda do sul dos queretitas, e para a banda de Judá, e para a banda do sul de Calebe e pusemos fogo a Ziclague. 15 E disse-lhe Davi: Poderias, descendo, guiar-me a essa tropa? E disse-lhe: Por Deus, me jura que me não matarás, nem me entregarás na mão de meu senhor, e, descendo, te guiarei a essa tropa. 16 E, descendo, o guiou. E eis que estavam espalhados sobre a face de toda a terra, comendo, e bebendo, e dançando, por todo aquele grande despojo que tomaram da terra dos filisteus e da terra de Judá. 17 E feriu-os Davi, desde o crepúsculo até à tarde do dia seguinte, e nenhum deles escapou, senão só quatrocentos jovens que, montados sobre camelos, fugiram. 18 Assim, livrou Davi tudo quanto tomaram os amalequitas; também as suas duas mulheres livrou Davi. 19 E ninguém lhes faltou, desde o menor até ao maior e até os filhos e as filhas; e também desde o despojo até tudo quanto lhes tinham tomado: tudo Davi tornou a trazer. 20 Também tomou Davi todas as ovelhas e vacas, e levavam-nas diante do outro gado e diziam: Este é o despojo de Davi.

21 E, chegando Davi aos duzentos homens que, de cansados que estavam, não puderam seguir a Davi e que deixaram ficar no ribeiro de Besor, estes saíram ao encontro de Davi e do povo que com ele vinha; e, chegando-se Davi ao povo, os saudou em paz.

Davi estabelece a lei da divisão da presa

22 Então, todos os maus e filhos de Belial, dentre os homens que tinham ido com Davi, responderam e disseram: Visto que não foram conosco, não lhes daremos do despojo que libertamos; mas que leve cada um sua mulher e seus filhos e se vá. 23 Porém Davi disse: Não fareis assim, irmãos meus, com o que nos deu o Senhor, que nos guardou e entregou a tropa que contra nós vinha nas nossas mãos. 24 E quem em tal vos daria ouvidos? Porque qual é a parte dos que desceram à peleja, tal também será a parte dos que ficaram com a bagagem; igualmente repartirão. 25 O que assim foi desde aquele dia em diante, porquanto o pôs por estatuto e direito em Israel, até ao dia de hoje.

26 E, chegando Davi a Ziclague, enviou do despojo aos anciãos de Judá, seus amigos, dizendo: Eis aí para vós uma bênção do despojo dos inimigos do Senhor: 27 aos de Betel, e aos de Ramote do Sul, e aos de Jatir, 28 e aos de Aroer, e aos de Sifmote, e aos de Estemoa, 29 e aos de Racal, e aos que estavam nas cidades jerameelitas e nas cidades dos queneus, 30 e aos de Horma, e aos de Borasã, e aos de Atace, 31 e aos de Hebrom, e a todos os lugares em que andara Davi, ele e os seus homens.

A matança dos israelitas e a morte de Saul

31 Os filisteus, pois, pelejaram contra Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus e caíram atravessados na montanha de Gilboa. E os filisteus apertaram com Saul e seus filhos e os filisteus mataram a Jônatas, e a Abinadabe, e a Malquisua, filhos de Saul. E a peleja se agravou contra Saul, e os flecheiros o alcançaram; e muito temeu por causa dos flecheiros. Então, disse Saul ao seu pajem de armas: Arranca a tua espada e atravessa-me com ela, para que, porventura, não venham estes incircuncisos, e me atravessem, e escarneçam de mim. Porém o seu pajem de armas não quis, porque temia muito; então, Saul tomou a espada e se lançou sobre ela. Vendo, pois, o seu pajem de armas que Saul já era morto, também ele se lançou sobre a sua espada e morreu com ele. Assim, faleceu Saul, e seus três filhos, e o seu pajem de armas, e também todos os seus homens morreram juntamente naquele dia. E, vendo os homens de Israel que estavam desta banda do vale e desta banda do Jordão que os homens de Israel fugiram e que Saul e seus filhos estavam mortos, desampararam as cidades e fugiram; e vieram os filisteus e habitaram nelas.

Sucedeu, pois, que, vindo os filisteus ao outro dia a despojar os mortos, acharam a Saul e a seus três filhos estirados na montanha de Gilboa. E cortaram-lhe a cabeça, e o despojaram das suas armas, e enviaram pela terra dos filisteus, em redor, a anunciá-lo no templo dos seus ídolos e entre o povo. 10 E puseram as suas armas no templo de Astarote e o seu corpo o afixaram no muro de Bete-Seã. 11 Ouvindo, então, isso os moradores de Jabes-Gileade, o que os filisteus fizeram a Saul, 12 todo homem valoroso se levantou, e caminharam toda a noite, e tiraram o corpo de Saul e os corpos de seus filhos do muro de Bete-Seã, e, vindo a Jabes, os queimaram. 13 E tomaram os seus ossos, e os sepultaram debaixo de um arvoredo, em Jabes, e jejuaram sete dias.

(2 Sm 22.1-51)

Este cântico de David foi dirigido ao Senhor quando o libertou dos seus inimigos, incluindo Saul.

18 Eu te amo, Senhor, tu que és a minha força.

O Senhor é o meu rochedo,
o meu lugar forte e o meu libertador.
Esconder-me-ei em Deus
que é a minha rocha e o meu alto retiro.
Ele é o meu escudo,
o poder da minha salvação e o meu refúgio.
Invocarei o Senhor que é digno de todo o louvor;
salvar-me-á de todos os meus adversários.
Cercaram-me laços de morte;
torrentes de maldade desabaram sobre mim.
Fui ligado e atado por laços do mundo dos mortos e por ciladas da morte.

Clamei pelo Senhor, meu Deus, na minha tribulação,
e ele ouviu-me desde o seu templo;
o meu clamor chegou aos seus ouvidos.
Então a Terra foi abalada e tremeu;
os fundamentos das montanhas abalaram-se,
por causa da sua ira.
Saiu fumo do seu rosto,
da sua boca um fogo devorador que tudo consumia,
e punha as brasas a arder.
Fez baixar os céus e desceu,
andando sobre espessas nuvens.
10 Voou sobre um querubim,
sobre as asas do vento.
11 As trevas rodearam-no,
espessas nuvens o circundaram.
12 O brilho da sua presença resplandeceu,
com nuvens, relâmpagos e tempestades de granizo.
13 O Senhor trovejou desde os céus;
o Deus supremo fez ecoar a sua voz.
14 Disparou as suas frechas de luz
e dispersou os inimigos.
15 Pelo sopro da tua respiração,
até o mar se dividiu em dois;
viu-se o fundo das águas
pela repreensão do Senhor.

16 Desde o alto me livrou,
salvou-me de ser levado pelas vagas.
17 Libertou-me do meu poderoso inimigo,
daqueles que me odiavam,
dos que tinham muito mais força do que eu.
18 Saltaram sobre mim, no dia da calamidade,
mas o Senhor foi a minha proteção.
19 Fez-me reaver a liberdade;
resgatou-me, porque me amava.

20 O Senhor recompensou-me,
conforme a minha retidão,
porque tinha as mãos limpas.
21 Guardei os caminhos do Senhor;
não me afastei impiamente do meu Deus.
22 Tive sempre presentes as suas leis;
não me desviei dos seus estatutos.
23 Fui sempre reto perante ele
e fugi do pecado.
24 Por isso, o Senhor atendeu à minha justiça,
pois viu que eu estava limpo.

25 Tu és misericordioso para com os misericordiosos;
revelas a tua retidão para com os que são retos.
26 Com os puros, mostras-te puro,
mas astuto com os perversos.
27 Salvas os que estão aflitos, mas abates os orgulhosos,
mas humilhas os que têm olhar altivo.
28 Senhor, meu Deus, tu acendes a minha luz!
Transformas em luz a minha escuridão.
29 Pelo teu poder posso esmagar um exército;
pela tua força saltarei muralhas.
30 O caminho de Deus é reto.
A palavra do Senhor é verdade;
é um escudo para os que procuram a sua proteção.
31 Só o Senhor é Deus.
Quem é como um rochedo senão o nosso Deus?
32 Deus é quem me fortalece;
faz-me andar em perfeita segurança.
33 Faz com que caminhe com passo bem firme,
como as gazelas sobre os cumes.
34 Torna-me hábil nos combates,
dá-me força capaz de dobrar um arco de bronze;
35 Deste-me o escudo da tua salvação;
amparaste-me com a tua mão direita
e com a tua bondade me engrandeceste.
36 Fizeste-me andar sobre caminhos planos,
onde os meus pés não vacilaram.

37 Persegui os meus inimigos e os alcancei;
não desisti sem os derrotar.
38 Persegui-os e destrocei-os,
nenhum deles se poderá levantar.
Caíram debaixo dos meus pés.
39 Pois deste-me força para a batalha.
Fizeste com que subjugasse
todos os que se levantaram contra mim.
40 Obrigaste os meus inimigos a retroceder e fugir;
destruí todos os que me odiavam.
41 Pediram ajuda, mas ninguém os auxiliou;
clamaram ao Senhor, mas recusou ouvi-los.
42 Pisei-os como o pó do chão que se vai com o vento;
esmaguei-os e dispersei-os como pó nas ruas.
43 Guardaste-me da rebelião do meu povo;
designaste-me para que seja cabeça das nações.
Estrangeiros me servirão.
44 Em breve me serão sujeitos,
quando ouvirem falar do meu poder.
45 Perderão a altivez e virão a tremer,
lá dos seus esconderijos.

46 O Senhor vive!
Bendito seja aquele que é a minha rocha!
Que seja louvado o Deus da minha salvação!
47 Ele é o Deus que por mim faz vingança,
que destrói os que se levantam contra mim.
48 Resgataste-me dos meus adversários.
Sim, tu levantaste-me em segurança,
acima das suas cabeças.
Livraste-me da violência.
49 Por isso, Senhor, dar-te-ei graças entre as nações,
e cantarei louvores ao teu nome.

50 Ele deu uma maravilhosa salvação ao seu rei;
manifestou misericórdia ao seu ungido,
a David e à sua família, para sempre.

Cântico de louvor a Deus pelas suas muitas bênçãos

Para o cantor-mor. Salmo do servo do Senhor, Davi, que disse as palavras deste cântico ao Senhor, no dia em que o Senhor o livrou de todos os seus inimigos e das mãos de Saul

18 Eu te amarei do coração, ó Senhor, fortaleza minha. O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação e o meu alto refúgio. Invocarei o nome do Senhor, que é digno de louvor, e ficarei livre dos meus inimigos.

Cordéis de morte me cercaram, e torrentes de impiedade me assombraram. Cordas do inferno me cingiram, laços de morte me surpreenderam.

Na angústia, invoquei ao Senhor e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz e aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face.

Então, a terra se abalou e tremeu; e os fundamentos dos montes também se moveram e se abalaram, porquanto se indignou. Do seu nariz subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia; carvões se acenderam dele. Abaixou os céus e desceu, e a escuridão estava debaixo de seus pés. 10 E montou num querubim e voou; sim, voou sobre as asas do vento. 11 Fez das trevas o seu lugar oculto; o pavilhão que o cercava era a escuridão das águas e as nuvens dos céus. 12 Ao resplendor da sua presença as nuvens se espalharam, e a saraiva, e as brasas de fogo. 13 E o Senhor trovejou nos céus; o Altíssimo levantou a sua voz; e havia saraiva e brasas de fogo. 14 Despediu as suas setas e os espalhou; multiplicou raios e os perturbou. 15 Então, foram vistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo; pela tua repreensão, Senhor, ao soprar das tuas narinas.

16 Enviou desde o alto e me tomou; tirou-me das muitas águas. 17 Livrou-me do meu inimigo forte e dos que me aborreciam, pois eram mais poderosos do que eu. 18 Surpreenderam-me no dia da minha calamidade; mas o Senhor foi o meu amparo. 19 Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque tinha prazer em mim.

20 Recompensou-me o Senhor conforme a minha justiça e retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos. 21 Porque guardei os caminhos do Senhor e não me apartei impiamente do meu Deus. 22 Porque todos os seus juízos estavam diante de mim, e não rejeitei os seus estatutos. 23 Também fui sincero perante ele e me guardei da minha iniquidade. 24 Pelo que me retribuiu o Senhor conforme a minha justiça, conforme a pureza de minhas mãos perante os seus olhos.

25 Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero te mostrarás sincero; 26 com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável. 27 Porque tu livrarás o povo aflito e abaterás os olhos altivos. 28 Porque tu acenderás a minha candeia; o Senhor, meu Deus, alumiará as minhas trevas. 29 Porque contigo entrei pelo meio de um esquadrão e com o meu Deus saltei uma muralha. 30 O caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; é um escudo para todos os que nele confiam.

31 Porque, quem é Deus senão o Senhor? E quem é rochedo senão o nosso Deus? 32 Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho. 33 Faz os meus pés como os das cervas e põe-me nas minhas alturas. 34 Adestra as minhas mãos para o combate, de sorte que os meus braços quebraram um arco de cobre. 35 Também me deste o escudo da tua salvação; a tua mão direita me susteve, e a tua mansidão me engrandeceu. 36 Alargaste os meus passos e os meus artelhos não vacilaram. 37 Persegui os meus inimigos e os alcancei; não voltei, senão depois de os ter consumido. 38 Atravessei-os, de sorte que não se puderam levantar; caíram debaixo dos meus pés. 39 Pois me cingiste de força para a peleja; fizeste abater debaixo de mim aqueles que contra mim se levantaram. 40 Deste-me também o pescoço dos meus inimigos, para que eu pudesse destruir os que me aborrecem. 41 Clamaram, mas não houve quem os livrasse; até ao Senhor, mas ele não lhes respondeu. 42 Então, os esmiucei como o pó diante do vento; deitei-os fora como a lama das ruas.

43 Livraste-me das contendas do povo e me fizeste cabeça das nações; um povo que não conheci me servirá. 44 Em ouvindo a minha voz, me obedecerão; os estranhos se submeterão a mim. 45 Os estranhos decairão e terão medo nas suas fortificações.

46 O Senhor vive; e bendito seja o meu rochedo, e exaltado seja o Deus da minha salvação. 47 É Deus que me vinga inteiramente e sujeita os povos debaixo de mim; 48 o que me livra de meus inimigos; — sim, tu me exaltas sobre os que se levantam contra mim, tu me livras do homem violento.

49 Pelo que, ó Senhor, te louvarei entre as nações e cantarei louvores ao teu nome. 50 É ele que engrandece as vitórias do seu rei e usa de benignidade com o seu ungido, com Davi, e com a sua posteridade para sempre.