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A segunda viagem ao Egito

43 A fome era gravíssima naquela terra. Quando o alimento que tinham trazido do Egito se acabou, o pai disse-lhes: “Vão lá outra vez e tornem a comprar mais algum trigo.”

Judá respondeu-lhe: “Aquele homem claramente nos disse que não voltássemos lá sem o nosso irmão. Portanto, se estás preparado para deixar nosso irmão partir connosco, desceremos e compraremos comida para ti; mas se não deixares, também não iremos, porque aquele homem nos avisou: ‘Não me vereis o rosto, se o vosso irmão não vier convosco!’ ”

“E porque haviam vocês de lhe ter dito que tinham mais um irmão?”, perguntou Israel. “Fizeram-me com isso um mal que vocês nem sabem!”

“É que o homem perguntou-nos exatamente sobre a nossa família”, explicaram. “E quis saber se o nosso pai ainda vivia, se tínhamos mais algum irmão, e tivemos que lhe dizer tudo. Não podíamos adivinhar que nos ia exigir que lhe levássemos o mais novo!”

Judá retomou a palavra: “Manda o moço comigo para podermos partir e não morrer à fome, nós, tu e os nossos filhos. Eu serei responsável por ele. Se não o trouxer então tornar-me-ei culpado de crime para contigo para sempre. 10 Já tinha tido tempo de ter ido e regressado se nos tivesses deixado levá-lo connosco.”

11 O pai por fim concordou: “Pois então, se não puder ser doutra forma, levem-no lá. Mas façam o seguinte: carreguem os animais com o que de melhor houver aqui da terra e levem a esse homem; bálsamo, mel, especiarias, mirra, pistachos e amêndoas. 12 Tomem também o dinheiro a dobrar, para pagarem o primeiro fornecimento; pode muito bem ter havido um engano. 13 Levem-lhe lá o vosso irmão e vão-se embora. 14 Que Deus Todo-Poderoso vos conceda que esse homem revele misericórdia para convosco, liberte Simeão e deixe regressar Benjamim. Se tiver de os perder que os perca!”

15 Assim fizeram. Prepararam os presentes, dinheiro a dobrar, desceram ao Egito e apresentaram-se perante José. 16 Quando José viu que Benjamim estava entre eles disse ao mordomo da sua casa: “Estes homens hoje almoçam comigo; leva-os para casa e prepara-lhes um banquete.”

17 Ele assim fez. Levou-os para o palácio de José. 18 Eles ficaram paralisados de medo quando viram para onde iam. “É por causa do dinheiro que vinha nos sacos, com certeza”, diziam entre si. “Vai pretender que o roubámos e fica connosco como escravos, com os animais e tudo!”

19 Ao chegar à entrada do palácio foram ter com o mordomo; 20 disseram-lhe: “Senhor, quando da nossa primeira viagem ao Egito para comprar alimento, 21 ao regressar a casa, parando de noite abrimos os sacos e deparámo-nos ao de cima com o dinheiro da paga do trigo. 22 Aqui está ele. Trazemo-lo de volta com o necessário para comprar novas provisões. Aliás, não fazemos a menor ideia de como o dinheiro foi parar aos sacos.”

23 “Não se preocupem com isso. O vosso Deus, o Deus dos vossos pais, foi certamente ele mesmo que pôs o dinheiro lá. De qualquer maneira o vosso pagamento foi feito e está em ordem.” Depois trouxe-lhes Simeão. 24 Fê-los entrar no palácio, deu-lhes água para que se refrescassem e lavassem os pés. Mandou também dar alimento aos animais.

25 Eles, por sua vez, prepararam os presentes para quando José chegasse ao meio-dia, porque já lhes tinham dito que haviam de almoçar ali. 26 Quando José chegou apresentaram-lhe o que traziam, inclinando-se profundamente na sua frente. 27 Ele perguntou-lhes como é que tinham passado e como estava o pai: “Esse homem idoso de quem me falaram ainda está vivo?”

28 “Sim, está vivo e de boa saúde.” E tornaram a inclinar-se respeitosamente na frente dele. 29 Atentando então melhor para o seu irmão Benjamim, filho da sua própria mãe, perguntou: “É esse o vosso irmão mais novo, aquele de quem me falaram?” E dirigindo-se a ele diretamente: “Que Deus te abençoe, meu filho.” 30 E teve de se retirar por um momento, porque estava profundamente comovido com a presença do irmão, e teve de ir chorar para o seu quarto. 31 Depois passou água pela cara e tornou a ir ter com eles, procurando conter-se e dizendo: “Vamos comer.”

32 José pôs-se à parte numa mesa só para si. Os irmãos foram servidos noutra e os egípcios ainda numa outra separada; porque estes consideram indignos os hebreus e nunca comem com eles. 33 José disse-lhes onde deviam sentar-se e colocou-os segundo as suas idades, do mais novo ao mais velho, para grande admiração deles! 34 O alimento que lhes era servido vinha da sua própria mesa. Mas a Benjamim dava sempre cinco vezes mais do que aos outros. Assim, comeram e beberam, regalando-se todos juntos.

A taça de prata no saco

44 No final José ordenou ao mordomo que lhes enchesse os sacos, com tanto quanto pudessem levar, e pusesse em cada saco, logo ao de cima, o dinheiro do pagamento. Também mandou que fosse posta no saco de Benjamim a sua própria taça de prata, também logo à entrada do saco juntamente com a bolsa contendo o seu pagamento pessoal. E o mordomo fez tudo como lhe tinha sido dito.

Na manhã seguinte, assim que amanheceu, carregaram os animais e puseram-se a caminho. Mal tinham saído da cidade quando José disse ao seu mordomo que fosse atrás deles, os detivesse e lhes dissesse: “Porque é que me pagam o bem com o mal? Qual a razão que vos levou a roubarem a taça de prata do meu senhor, pela qual só ele bebia, e que usa para praticar adivinhação? Foi muito mau o que fizeram.” Ele assim fez; encontrou-os e falou-lhes segundo as instruções recebidas.

“Do que é que estás a falar?”, perguntaram admirados. “Quem pensas que somos para nos vires acusar de uma coisa tão grave? Não fomos nós mesmos que devolvemos de Canaã o dinheiro que tinha sido posto nos sacos da primeira vez? Porque é que agora iríamos roubar a taça do teu senhor? Se encontrares essa taça na bagagem de algum de nós, que esse morra. E todos os outros nos tornaremos escravos do teu senhor.”

10 “Está bem”, replicou. “Bastará que aquele que tiver a taça fique como escravo. Os outros poderão ficar livres.” 11 Então rapidamente desceram os sacos de cima dos animais e abriram-nos. 12 Ele começou a procurar, começando no do mais velho e acabando no do mais novo. E foi precisamente no saco de Benjamim que se achou a taça. 13 Num gesto de desespero rasgaram a roupa, tornaram a carregar os jumentos e voltaram para a cidade.

14 José estava ainda em casa quando os irmãos, com Judá à frente, lhe apareceram e se inclinaram na sua frente. 15 “Porque é que fizeram uma coisa destas? Vocês sabem que um homem como eu pode adivinhar!”

16 Judá respondeu: “Nós nada temos a alegar em nossa defesa! Que desculpa haveríamos de dar? Não temos forma de provar a nossa inocência. Deus está a castigar-nos pelos nossos pecados. Por isso, senhor, regressámos e aqui estamos para sermos teus escravos, tanto aquele em cujo saco foi encontrada a taça como nós próprios.”

17 “Não, não é preciso”, esclareceu José. “Basta que fique como escravo o que ficou com a taça. Os outros podem regressar descansados a casa.”

18 Então Judá aproximou-se mais e disse: “Meu senhor, deixa-me explicar-te só mais isto; tem paciência, só por mais um momento; nós bem sabemos que tens tanto poder como o próprio Faraó. 19 Perguntaste-nos da outra vez se tínhamos um pai ou um irmão, além de nós. 20 E nós respondemos que sim, que tínhamos um pai já muito idoso e um irmão rapazinho ainda, que nasceu quando o pai já era velho e cujo irmão, filho da mesma mãe que ele, já morreu. O pai tem por ele um grande amor. 21 Tu, senhor, pediste-nos que o trouxéssemos cá para o conheceres. 22 E nós até te dissemos que se o moço deixasse o pai este acabaria por morrer. 23 Mas tu insististe, afirmando que se assim não fosse não poderíamos voltar. 24 Ao regressarmos contámos ao nosso pai tudo o que tinhas exigido. 25 Por isso, quando ele voltou a mandar-nos cá buscar trigo, 26 nós replicámos que só o faríamos se o mais novo viesse connosco. 27 O pai disse então: ‘Vocês sabem bem que a mãe deste mocinho só teve dois filhos; 28 que o outro foi-se e nunca mais o vi, penso que por ter sido despedaçado por algum animal feroz. 29 De tal forma que se me tiram desta vez o mais novo, e se lhe acontece alguma coisa, farão com que eu desça até ao mundo dos mortos, com tamanha tristeza.’

30 Eis a razão por que se voltarmos sem o moço, sendo que a vida do pai está tão ligada à dele, 31 ao ver que não vem connosco, é capaz de morrer e seremos responsáveis de ter carregado de tristeza os seus cabelos brancos e o ter conduzido ao mundo dos mortos.

32 Acontece, além disso, que eu me dei a mim mesmo perante o nosso pai como garantia de que o moço regressaria, e em como, se não o tornasse a levar para casa, me tornaria pessoalmente, e até à morte, culpado da gravidade de tal fatalidade.

33 Por isso, peço-te insistentemente que me deixes ficar a mim como escravo e deixes o moço regressar com os irmãos. 34 Porque não serei capaz de chegar junto do meu pai sem o moço. Não posso de maneira nenhuma assistir ao que inevitavelmente lhe acontecerá quando isso se der.”

José dá-se a conhecer

45 Então José não se pôde conter mais e mandou: “Saiam todos!” As pessoas que estavam ali a ver a cena retiraram-se, ficando ele sozinho com os irmãos. Depois começou a chorar, mas com tal emoção e intensidade que todos no palácio se deram conta disso, tendo a notícia chegado depressa aos ouvidos do Faraó.

“Eu sou José! Meu pai ainda está vivo?” Os irmãos, apanhados de surpresa, estavam de tal maneira espantados que não podiam proferir uma palavra. “Cheguem-se cá!” Aproximaram-se e ele repetiu: “Eu sou José, o vosso irmão, que vocês venderam para o Egito. Mas não se aflijam por causa do que me fizeram, porque afinal foi Deus quem o planeou para que vocês todos pudessem continuar com vida. Esta fome, que já dura há dois anos, vai prolongar-se ainda por mais cinco, durante os quais não servirá de nada lavrar a terra; não haverá colheitas de espécie alguma. Deus mandou-me para aqui para vos conservar com vida, assim como à vossa descendência. É uma grande salvação que ele vos dá. Sim, com efeito foi Deus mesmo que me mandou para cá, e não vocês. Por isso, me pôs como conselheiro do Faraó, governador de toda esta nação, chefe sobre toda a terra do Egito.

Agora vão, vão depressa ter com meu pai. Comuniquem-lhe que o seu filho José lhe manda dizer que é governador de toda a terra do Egito e que lhe pede que venha depressa ter com ele! 10 Ficará a viver na fértil terra de Gosen e viverá assim perto de mim com os seus filhos, netos, rebanhos, o gado e tudo o que tem. 11 Tomarei ao meu cuidado o seu sustento durante os cinco anos que ainda restam de fome. Para que não venham a empobrecer, ele e todos os seus.

12 Vocês são testemunhas de todas estas promessas que acabo de fazer; vocês e o meu irmão Benjamim bem ouviram tudo o que eu disse. 13 Contem igualmente ao meu pai a alta posição que aqui tenho no Egito, como tudo e todos dependem de mim, e tragam-no depressa para cá.”

14 Então, chorando de alegria, abraçou-se a Benjamim e este chorou também com ele. 15 Fez o mesmo com os outros irmãos, ficando ali a falar com eles.

16 O Faraó rapidamente teve conhecimento do que se passava: “Chegaram os irmãos de José”, foram-lhe dizer. E toda a gente ficou muito satisfeita com aquilo, tanto o rei como os seus súbditos.

17 O Faraó mandou dizer a José: “Diz aos teus irmãos que carreguem os animais, que regressem à terra de Canaã, que tragam o pai assim como as suas famílias e venham viver para cá.” 18 E frisou: “O rei vos dará o melhor solo do Egito e comereis o que há de melhor no país. 19 Diz igualmente aos teus irmãos que levem daqui carros do Egito para poderem transportar para cá as mulheres, os filhos e o vosso pai. 20 Não se preocupem quanto àquilo que tenham de deixar na vossa terra porque o melhor que há por cá será vosso.”

21 José deu-lhes carros, como o rei mandara, e provisões para a viagem; 22 deu-lhes também roupas novas. Mas a Benjamim, em especial, deu-lhe cinco mudas de roupa e trezentas peças de prata. 23 Ao pai mandou dez jumentos carregados de belos presentes do Egito e de toda a espécie de alimentos para a viagem. 24 E mandou-os embora. “Sobretudo não discutam durante o caminho!”, avisou-os à despedida.

25 E chegaram, vindos do Egito, à terra de Canaã, à casa do seu pai Jacob. 26 “José está vivo!”, gritaram-lhe logo à chegada. “Ele é o governador de toda a terra do Egito!” Mas Jacob não reagiu, porque já não acreditava neles; o seu coração tinha perdido a sensibilidade. 27 Mas quando começaram a dar-lhe conta de tudo o que José lhe mandava dizer, quando viu os carros e todos os carregamentos com os alimentos e com o que José lhe enviava, o seu espírito reviveu. 28 E disse: “Agora acredito! O meu filho José está vivo e poderei vê-lo ainda antes de morrer!”

Os irmãos de José descem outra vez ao Egito

43 E a fome era gravíssima na terra. E aconteceu que, como acabaram de comer o mantimento que trouxeram do Egito, disse-lhes seu pai: Tornai, comprai-nos um pouco de alimento. Mas Judá respondeu-lhe, dizendo: Fortemente nos protestou aquele varão, dizendo: Não vereis a minha face, se o vosso irmão não vier convosco. Se enviares conosco o nosso irmão, desceremos e te compraremos alimento; mas, se não o enviares, não desceremos, porquanto aquele varão nos disse: Não vereis a minha face, se o vosso irmão não vier convosco. E disse Israel: Por que me fizestes tal mal, fazendo saber àquele varão que tínheis ainda outro irmão? E eles disseram: Aquele varão particularmente nos perguntou por nós e pela nossa parentela, dizendo: Vive ainda vosso pai? Tendes mais um irmão? E respondemos-lhe conforme as mesmas palavras. Podíamos nós saber que diria: Trazei vosso irmão? Então, disse Judá a Israel, seu pai: Envia o jovem comigo, e levantar-nos-emos e iremos, para que vivamos e não morramos, nem nós, nem tu, nem os nossos filhos. Eu serei fiador por ele, da minha mão o requererás; se eu não to trouxer e não o puser perante a tua face, serei réu de crime para contigo para sempre. 10 E, se nós não nos tivéssemos detido, certamente já estaríamos segunda vez de volta.

11 Então, disse-lhes Israel, seu pai: Pois que assim é, fazei isso; tomai do mais precioso desta terra em vossos sacos e levai ao varão um presente: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, especiarias, mirra, terebinto e amêndoas. 12 E tomai em vossas mãos dinheiro dobrado; e o dinheiro que tornou na boca dos vossos sacos tornai a levar em vossas mãos; bem pode ser que fosse erro. 13 Tomai também a vosso irmão, e levantai-vos, e voltai àquele varão. 14 E Deus Todo-Poderoso vos dê misericórdia diante do varão, para que deixe vir convosco vosso outro irmão, e Benjamim; e eu, se for desfilhado, desfilhado ficarei.

Os irmãos de José jantam com ele

15 E os varões tomaram aquele presente e tomaram dinheiro dobrado em suas mãos e a Benjamim; e levantaram-se, e desceram ao Egito, e apresentaram-se diante da face de José. 16 Vendo, pois, José a Benjamim com eles, disse ao que estava sobre a sua casa: Leva estes varões à casa, e mata reses, e prepara tudo; porque estes varões comerão comigo ao meio-dia. 17 E o varão fez como José dissera e o varão levou aqueles varões à casa de José. 18 Então, temeram aqueles varões, porquanto foram levados à casa de José e diziam: Por causa do dinheiro que da outra vez voltou nos nossos sacos, fomos trazidos aqui, para nos criminar e cair sobre nós, para que nos tome por servos e a nossos jumentos. 19 Por isso, chegaram-se ao varão que estava sobre a casa de José, e falaram com ele à porta da casa. 20 E disseram: Ai! Senhor meu, certamente descemos, dantes, a comprar mantimento; 21 e aconteceu que, chegando nós à venda e abrindo os nossos sacos, eis que o dinheiro de cada varão estava na boca do seu saco, nosso dinheiro por seu peso; e tornamos a trazê-lo em nossas mãos. 22 Também trouxemos outro dinheiro em nossas mãos, para comprar mantimento; não sabemos quem tenha posto o nosso dinheiro nos nossos sacos. 23 E ele disse: Paz seja convosco, não temais; o vosso Deus, e o Deus de vosso pai, vos tem dado um tesouro nos vossos sacos; o vosso dinheiro me chegou a mim. E trouxe-lhes fora a Simeão. 24 Depois, levou o varão aqueles varões à casa de José e deu-lhes água, e lavaram os seus pés; também deu pasto aos seus jumentos. 25 E prepararam o presente, para quando José viesse ao meio-dia; porque tinham ouvido que ali haviam de comer pão.

26 Vindo, pois, José à casa, trouxeram-lhe ali o presente que estava na sua mão; e inclinaram-se a ele até à terra. 27 E ele lhes perguntou como estavam e disse: Vosso pai, o velho de quem falastes, está bem? Ainda vive? 28 E eles disseram: Bem está o teu servo, nosso pai vive ainda. E abaixaram a cabeça e inclinaram-se. 29 E ele levantou os olhos, e viu a Benjamim, seu irmão, filho de sua mãe, e disse: Este é o vosso irmão mais novo, de quem me falastes? Depois, ele disse: Deus te abençoe, meu filho. 30 E José apressou-se, porque o seu íntimo moveu-se para o seu irmão; e procurou onde chorar, e entrou na câmara, e chorou ali. 31 Depois, lavou o rosto e saiu; e conteve-se e disse: Ponde pão. 32 E puseram-lhe a ele à parte, e a eles à parte, e aos egípcios que comiam com ele à parte; porque os egípcios não podem comer pão com os hebreus, porquanto é abominação para os egípcios. 33 E assentaram-se diante dele, o primogênito segundo a sua primogenitura e o menor segundo a sua menoridade; do que os varões se maravilhavam entre si. 34 E apresentou-lhe as porções que estavam diante dele; porém a porção de Benjamim era cinco vezes maior do que a de qualquer deles. E eles beberam e se regalaram com ele.

A astúcia de José para deter seus irmãos

44 E deu ordem ao que estava sobre a sua casa, dizendo: Enche de mantimento os sacos destes varões, quanto puderem levar, e põe o dinheiro de cada varão na boca do seu saco. E o meu copo, o copo de prata, porás na boca do saco do mais novo, com o dinheiro do seu trigo. E fez conforme a palavra de José, que tinha dito. Vinda a luz da manhã, despediram-se estes varões, eles com os seus jumentos. Saindo eles da cidade e não se havendo ainda distanciado, disse José ao que estava sobre a sua casa: Levanta-te e persegue aqueles varões; e, alcançando-os, lhes dirás: Por que pagastes mal por bem? Não é este o copo por que bebe meu senhor? E em que ele bem adivinha? Fizestes mal no que fizestes.

E alcançou-os e falou-lhes as mesmas palavras. E eles disseram-lhe: Por que diz meu senhor tais palavras? Longe estejam teus servos de fazerem semelhante coisa. Eis que o dinheiro que temos achado na boca dos nossos sacos te tornamos a trazer desde a terra de Canaã; como, pois, furtaríamos da casa do teu senhor prata ou ouro? Aquele dos teus servos, com quem for achado, morra; e ainda nós seremos escravos do meu senhor. 10 E ele disse: Ora, seja também assim conforme as vossas palavras; aquele com quem se achar será meu escravo, porém vós sereis desculpados. 11 E eles apressaram-se, e cada um pôs em terra o seu saco, e cada um abriu o seu saco. 12 E buscou, começando no maior e acabando no mais novo; e achou-se o copo no saco de Benjamim. 13 Então, rasgaram as suas vestes, e carregou cada um o seu jumento, e tornaram à cidade.

14 E veio Judá com os seus irmãos à casa de José, porque ele ainda estava ali; e prostraram-se diante dele em terra. 15 E disse-lhes José: Que é isto que fizestes? Não sabeis vós que tal homem como eu bem adivinha?

A humilde súplica de Judá

16 Então, disse Judá: Que diremos a meu senhor? Que falaremos? E como nos justificaremos? Achou Deus a iniquidade de teus servos; eis que somos escravos de meu senhor, tanto nós como aquele em cuja mão foi achado o copo. 17 Mas ele disse: Longe de mim que eu tal faça; o varão em cuja mão o copo foi achado, aquele será meu servo; porém vós subi em paz para vosso pai.

18 Então, Judá se chegou a ele e disse: Ai! Senhor meu, deixa, peço-te, o teu servo dizer uma palavra aos ouvidos de meu senhor, e não se acenda a tua ira contra o teu servo; porque tu és como Faraó. 19 Meu senhor perguntou a seus servos, dizendo: Tendes vós pai ou irmão? 20 E dissemos a meu senhor: Temos um velho pai e um moço da sua velhice, o mais novo, cujo irmão é morto; e só ele ficou de sua mãe, e seu pai o ama. 21 Então, tu disseste a teus servos: Trazei-mo a mim, e porei os meus olhos sobre ele. 22 E nós dissemos a meu senhor: Aquele moço não poderá deixar a seu pai; se deixar a seu pai, este morrerá. 23 Então, tu disseste a teus servos: Se vosso irmão mais novo não descer convosco, nunca mais vereis a minha face. 24 E aconteceu que, subindo nós a teu servo, meu pai, e contando-lhe as palavras de meu senhor, 25 disse nosso pai: Tornai, comprai-nos um pouco de mantimento. 26 E nós dissemos: Não poderemos descer; mas, se nosso irmão menor for conosco, desceremos; pois não poderemos ver a face do varão, se este nosso irmão menor não estiver conosco. 27 Então, disse-nos teu servo, meu pai: Vós sabeis que minha mulher me deu dois filhos; 28 um ausentou-se de mim, e eu disse: Certamente foi despedaçado, e não o tenho visto até agora; 29 se agora também tirardes a este da minha face, e lhe acontecer algum desastre, fareis descer as minhas cãs com dor à sepultura. 30 Agora, pois, indo eu a teu servo, meu pai, e o moço não indo conosco, como a sua alma está atada com a alma dele, 31 acontecerá que, vendo ele que o moço ali não está, morrerá; e teus servos farão descer as cãs de teu servo, nosso pai, com tristeza à sepultura. 32 Porque teu servo se deu por fiador por este moço para com meu pai, dizendo: Se não to tornar, eu serei culpado a meu pai todos os dias. 33 Agora, pois, fique teu servo em lugar deste moço por escravo de meu senhor, e que suba o moço com os seus irmãos. 34 Porque como subirei eu a meu pai, se o moço não for comigo? Para que não veja eu o mal que sobrevirá a meu pai.

José dá-se a conhecer a seus irmãos

45 Então, José não se podia conter diante de todos os que estavam com ele; e clamou: Fazei sair daqui a todo varão; e ninguém ficou com ele quando José se deu a conhecer a seus irmãos. E levantou a sua voz com choro, de maneira que os egípcios o ouviam, e a casa de Faraó o ouviu. E disse José a seus irmãos: Eu sou José; vive ainda meu pai? E seus irmãos não lhe puderam responder, porque estavam pasmados diante da sua face.

E disse José a seus irmãos: Peço-vos, chegai-vos a mim. E chegaram-se. Então, disse ele: Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque, para conservação da vida, Deus me enviou diante da vossa face. Porque já houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega. Pelo que Deus me enviou diante da vossa face, para conservar vossa sucessão na terra e para guardar-vos em vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito. Apressai-vos, e subi a meu pai, e dizei-lhe: Assim tem dito o teu filho José: Deus me tem posto por senhor em toda a terra do Egito; desce a mim e não te demores. 10 E habitarás na terra de Gósen e estarás perto de mim, tu e os teus filhos, e os filhos dos teus filhos, e as tuas ovelhas, e as tuas vacas, e tudo o que tens. 11 E ali te sustentarei, porque ainda haverá cinco anos de fome, para que não pereças de pobreza, tu, e tua casa, e tudo o que tens. 12 E eis que vossos olhos veem, e os olhos de meu irmão Benjamim, que é minha boca que vos fala. 13 E fazei saber a meu pai toda a minha glória no Egito e tudo o que tendes visto; e apressai-vos a fazer descer meu pai para cá. 14 E lançou-se ao pescoço de Benjamim, seu irmão, e chorou; e Benjamim chorou também ao seu pescoço.

Faraó ouve falar dos irmãos de José

15 E beijou todos os seus irmãos e chorou sobre eles; e, depois, seus irmãos falaram com ele.

16 E a nova ouviu-se na casa de Faraó, dizendo: Os irmãos de José são vindos; e pareceu bem aos olhos de Faraó e aos olhos de seus servos. 17 E disse Faraó a José: Dize a teus irmãos: Fazei isto: carregai os vossos animais, e parti, e tornai à terra de Canaã, 18 e tornai a vosso pai e a vossas famílias, e vinde a mim; e eu vos darei o melhor da terra do Egito, e comereis a fartura da terra. 19 A ti, pois, é ordenado; fazei isto: tomai vós da terra do Egito carros para vossos meninos, para vossas mulheres e para vosso pai e vinde. 20 E não vos pese coisa alguma das vossas alfaias; porque o melhor de toda a terra do Egito será vosso.

21 E os filhos de Israel fizeram assim. E José deu-lhes carros, conforme o mandado de Faraó; também lhes deu comida para o caminho. 22 A todos lhes deu, a cada um, mudas de vestes; mas a Benjamim deu trezentas peças de prata e cinco mudas de vestes. 23 E a seu pai enviou semelhantemente dez jumentos carregados do melhor do Egito, e dez jumentos carregados de trigo, e pão, e comida para seu pai, para o caminho. 24 E despediu os seus irmãos, e partiram; e disse-lhes: Não contendais pelo caminho. 25 E subiram do Egito e vieram à terra de Canaã, a Jacó, seu pai. 26 Então, lhe anunciaram, dizendo: José ainda vive e ele também é regente em toda a terra do Egito. E o seu coração desmaiou, porque não os acreditava. 27 Porém, havendo-lhe eles contado todas as palavras de José que ele lhes falara, e vendo ele os carros que José enviara para levá-lo, reviveu o espírito de Jacó, seu pai. 28 E disse Israel: Basta; ainda vive meu filho José; eu irei e o verei antes que eu morra.